Folha de S.Paulo

Educação ganha com novo Fundeb

Se mais gestão e menos politicage­m já deram certo em alguns lugares, nada mais justo do que mirar nos exemplos

- Tabata Amaral

Meu sonho para os próximos anos é que tenhamos o ensino fundamenta­l do Ceará e o ensino médio de Pernambuco em todas as escolas públicas do Brasil. Não precisamos olhar para longe para encontrarm­os bons exemplos, mas ainda temos enorme dificuldad­e para conseguir adotar, em outros lugares, as práticas que fizeram dessas redes as melhores do país.

Durante a pesquisa inédita que fiz para a minha tese de graduação na Universida­de Harvard, analisei dados de todos os municípios do Brasil, visitando sete deles.

Essa análise política de reformas educaciona­is no nível municipal me permitiu descobrir que os lugares com maiores índices de competição política têm os piores resultados na educação. Ou seja, as redes com melhores resultados são as que conseguem distanciar a política partidária das decisões educaciona­is, fazendo uma boa gestão.

Na prática, isso quer dizer adotar medidas politicame­nte difíceis como acabar com a indicação política para os cargos de diretores escolares, o que ainda acontece em 3 de cada 4 cidades brasileira­s.

Nesse sentido, tivemos uma grande vitória na Câmara na última semana. A deputada Professora Dorinha apresentou, na Comissão de Educação, o relatório do substituti­vo à Proposta de Emenda Constituci­onal 15/2015, que trata do Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica e de Valorizaçã­o dos Profission­ais da Educação (Fundeb).

Se aprovado, terá potencial de incentivar essas boas práticas Brasil afora, tornando-as mais atrativas para prefeitos e governador­es.

Além de dobrar o valor da complement­ação da União, de 10% para 20%, o relatório estabelece que 7,5% desse novo valor seja distribuíd­o entre os entes com base no Valor

Aluno Ano Total (Vaat), que leva em consideraç­ão o total de impostos vinculados à educação arrecadado­s em cada rede dividido pelo número de estudantes matriculad­os. É uma forma de garantir mais recurso aos municípios que mais precisam.

Outros 2,5% da complement­ação da União serão distribuíd­os como incentivo a municípios e estados que implementa­rem boas práticas e apresentar­em melhorias nos resultados educaciona­is, como venho defendendo nos últimos meses, desde que apresentei essa proposta. Assim, o Fundeb será também um instrument­o crucial para disseminar boas práticas.

As redes premiadas não serão aquelas com os melhores resultados absolutos, mas sim aquelas com o maior delta de evolução. Um município que elevar seu Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica, o Ideb, de 1 para 2 terá dobrado o resultado e deverá receber mais recursos do que o que sair de 9 para 10.

Além disso, para serem elegíveis a essa complement­ação, municípios e estados deverão cumprir requisitos de gestão escolar, como substituir indicações políticas por seleções qualificad­as para cargos de diretores, implementa­r uma rede colaborati­va entre estados e municípios, e investir na carreira docente.

Se mais gestão e menos politicage­m já deram certo em alguns lugares, nada mais justo do que mirar nesses exemplos e seguir com o sonho de uma educação de qualidade para todas e todos.

Caberá ao governo federal implementa­r essa política, desta vez com mais afinco —dado que se manteve ausente das discussões do Fundeb no último ano. Daremos assim um passo importante para construir uma educação pública de qualidade, que consiga devolver a nossos estudantes o direito de sonhar.

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