Folha de S.Paulo

Sócio de Will Smith, Honda tem vida agitada nos negócios

Jogador recém-chegado ao Botafogo é dono de time e manager no Camboja

- Alex Sabino

são paulo Responsáve­l pelo frenesi que torcedores do Botafogo não sentem desde 2012, quando o holandês Clarence Seedorf aceitou atuar pelo clube, o japonês Keisuke Honda, 33, é um jogador único no futebol mundial.

O meia-atacante, apresentad­o para a torcida em 8 de fevereiro e que ainda não tem data para estrear, se define como “incansável” e com múltiplos interesses que vão além da profissão de atleta.

Ao mesmo tempo em que jogará no Brasil, continuará como dono de equipe (e com planos de fundar outra), manager em uma seleção, empresário, investidor de time de eSports e sócio do ator americano Will Smith em fundo de investimen­tos de US$ 100 milhões (R$ 438,5 milhões).

“Eu gostaria de ficar uma semana longe do telefone celular, mas é impossível”, ele disse em outubro de 2019 para o jornal Japan Times.

O contrato de Honda até dezembro prevê salário fixo de R$ 150 mil e participaç­ão financeira em tudo o que o Botafogo faturar comercialm­ente envolvendo o nome do japonês. De acordo com informação publicada pelo UOL, ele exigiu andar em carros blindados e acompanhad­o por seguranças particular­es.

“Keisuke é diferente de tudo o que você pode encontrar no futebol. Tem vários interesses que vão além do esporte. Exerce grande influência nos outros jogadores e nos ajudou muito, até que sofreu uma lesão na coxa. Depois disso, não conseguiu ser mais o mesmo”, disse à Folha o técnico australian­o Kevin Muscat, que dirigiu Honda no Melbourne Victory em 2018 e 2019.

Profission­alizado pelo Nagoya Grampus Eight em 2004, o meia sempre chamou a atenção por desvirtuar padrões em cultura acostumada ao rigor. Apesar de escalado no lado esquerdo do ataque, gostava de se deslocar pelo meio, para desespero do treinador. Quando os jogadores do país usavam cortes de cabelo muito parecidos, ele pintou o seu de loiro. Virou marca registrada.

Ao ser chamado para a seleção principal do Japão, aos 22 anos, previu que seria campeão do mundo. Isso não se realizou, mas ele foi o único asiático a fazer gols em três Copas (2010, 2014 e 2018).

Antes de Honda, nenhum japonês chegara às quartas de final da Champions League. Ele conseguiu isso em 2009, pelo CSKA Moscou. Destacou-se no clube russo, mas esteve longe de ser unanimidad­e.

Na opinião de outros integrante­s do elenco, o astro jogava para si, não para a equipe. Ele pagava seu próprio fisioterap­euta e se recusava a usar os do clube.

“Durante quatro anos, ele só compareceu à reunião dos jogadores duas vezes. Não notei que ele tivesse qualquer hobby fora do futebol. Eu não o chamaria de profission­al, mas de um robô”, disse o zagueiro Sergei Ignashevic­h em entrevista após a saída do japonês.

A queixa de Ignashevic­h de que o então companheir­o parecia não ter outros interesses fora do futebol chama a atenção, porque é difícil achar outro atleta com atividades tão diversific­adas.

Empresa que pertence aos seus irmãos Hiroyuki e Youji comprou em 2015 49% do SV Horn, então na terceira divisão australian­a (hoje está na segunda). O dono de fato é Keisuke, que chegou a prever que em três anos o time estaria na elite do país, e em cinco, na Champions League asiática. Isso não ocorreu.

Ele se tornou interessad­o em ter o próprio clube em 2014, ao presenciar os bastidores do Milan, o gigante que atravessav­a fase difícil que até hoje não passou.

Afirma que analisava o que via com os olhos de gerente, não apenas de jogador. Se descobriss­e como um time daquele tamanho havia deixado de ser uma força da Europa, seria possível saber como fazê-lo subir de novo.

Os anos em Milão serviram para ressaltar seu gosto pela moda. Foi visto na primeira fila em desfiles da Louis Vitton, Lanvin e Dior.

Despertou críticas nas redes sociais ao posar para foto usando dois relógios de luxo da marca Gagá Milano, que podem chegar a R$ 10 mil. Ele tinha um em cada pulso.

No início deste ano, anunciou a intenção de montar um novo clube, chamado One Tokyo, na capital japonesa. A ideia, segundo ele, é criar time capaz de ter impacto global. Iniciaria na 4ª divisão e, nos primeiros anos, seria amador.

Outra empreitada recente em que embarcou foi aceitar convite para ser o treinador da seleção do Camboja a partir de 2018. Na prática, ele ocupa o papel de manager.

No banco de reservas fica o ex-jogador argentino e seu amigo Felix Dalmas, com quem tem conferênci­as semanais por vídeo. Honda acompanhou todos os jogos das eliminatór­ias para a Copa-2022 a distância, inclusive a derrota por 14 a 0 contra o Irã.

“Keisuke é uma personalid­ade única. Ele tem diversos investimen­tos, escolas, suas próprias companhias e um fundo de investimen­tos com Will Smith. É um renascenti­sta, alguém interessad­o em artes. Tudo o que ele faz é pouco usual”, definiu Dalmas.

No mesmo ano em que passou a trabalhar com o futebol do Camboja, Honda lançou um fundo de investimen­tos com o ator americano.

Em entrevista, Smith disse ter conhecido Honda e o considerad­o um sujeito “muito interessan­te”. O Dramers Fundo é um dos investidor­es da Gen.G, equipe de eSports dos Estados Unidos.

 ?? Vitor Silva - 8.fev.20/Botafogo ?? Honda durante apresentaç­ão para torcida botafoguen­se no estádio Engenhão
Vitor Silva - 8.fev.20/Botafogo Honda durante apresentaç­ão para torcida botafoguen­se no estádio Engenhão

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