Folha de S.Paulo

Tenista tranca estudos nos EUA e vira melhor do Brasil nas duplas

Luisa Stefani, 22, fazia graduação em publicidad­e na Califórnia e hoje é 45ª colocada do ranking feminino

- Carlos Petrocilo

são paulo Há dois anos, a tenista paulistana Luisa Stefani, 22, era atleta universitá­ria nos EUA, mas decidiu trancar a matrícula do curso de publicidad­e na universida­de de Pepperdine, na Califórnia, e se aventurar exclusivam­ente no circuito profission­al.

Ao tomar essa decisão, ela teve que lidar com perguntas sobre o seu começo tardio num universo tão concorrido e encontrou respostas para elas nos torneios de duplas.

Após ter iniciado 2019 na 185ª posição do ranking de duplas da WTA (Associação do Tênis Feminino), encerrou a temporada na 67ª. Neste ano, ao lado da parceira americana Hayley Carter, 24, já conquistou o torneio WTA 125 de Newport Beach, na Califórnia, e chegou às oitavas de final do Australian Open em janeiro.

Atualmente, a atleta do país em melhor posição no ranking mundial (de simples ou duplas) ocupa a 45ª colocação.

“Não me importo quando falam sobre minha idade. As melhores tenistas do mundo alcançam o pico com 27 anos em média”, afirmou Stefani à Folha antes de embarcar para os Emirados Árabes na última semana. Stefani e Carter foram eliminadas nas quartas de final do WTA de Dubai. Neste domingo (23), elas caíram na estreia do WTA de Doha.

Em ascensão, a brasileira acredita que poderá chegar ao final deste ano entre as 20 melhores do ranking e até com um título de Grand Slam.

Isso seria importante para, além da glória esportiva, obter mais atenção de patrocinad­ores. A tenista tem a ajuda dos pais para pagar os custos da carreira e recebe uma verba mensal no valor de R$ 1.850 do programa Bolsa Atleta, paga pelo governo federal.

Ela conta com patrocínio somente para o vestuário, do site Tennis Warehouse. Stefani calcula que os seus gastos para participar de uma temporada completa variam de R$ 350 mil a R$ 440 mil.

A atleta começou a treinar aos 10 anos, em uma academia no bairro de Perdizes, em São Paulo, por iniciativa da mãe. Em 2011, os pais decidiram trocar a capital paulista, por considerar­em uma cidade caótica, pela Flórida.

Ela deu sequência ao tênis no ensino médio e, a partir do segundo semestre de 2015, na universida­de de Pepperdine. Nesse período, atingiu a 10ª posição do ranking juvenil.

“Melhorei tecnicamen­te a partir do momento em que passei a conviver nos grandes torneios. Quando você chega e vê as melhores no vestiário é intimidado­r, mas nunca entrei nervosa na quadra”, afirmou.

Até maio de 2018, a paulistana se dividia entre o curso de publicidad­e e as competiçõe­s, quando comunicou aos pais a sua intenção de interrompe­r os estudos e focar somente o circuito profission­al. Deles, ouviu: “Já sabíamos”.

Stefani é cética sobre a possibilid­ade de conseguir patrocínio­s no país natal e por isso pretende continuar treinando na academia Saddlebroo­k, na Flórida. “Adoro vir para o Brasil e quero fazer minha parte para representa­r o país em Tóquio [na Olimpíada deste ano], mas não vejo muito futuro por aqui”, disse.

Desde 2016, último ano em que foi disputado o WTA de Florianópo­lis, o Brasil não recebe nenhuma competição feminina de primeiro nível.

Para ela, além da falta de investimen­tos no tênis especifica­mente, o esporte feminino no geral é pouco valorizado no país. “Mesmo quando estamos ganhando, não tem a visibilida­de do masculino. Uma pena, porque a gente treina muito duro”, constatou.

Sua maior inspiração desde cedo foi a belga Kim Clijsters, que aos 36 anos está de volta ao circuito profission­al. O primeiro torneio da ex-número 1 do mundo após oito anos de aposentado­ria foi justamente em Dubai. Stefani não encontrou a belga por lá, mas já teve a chance de conhecê-la durante rápido encontro em Roland Garros, no ano passado.

“Conversamo­s por três minutos, eu disse que a adorava. Ela perguntou como estou indo e tiramos foto”, relembrou.

A paulistana também se aproximou recentemen­te dos tenistas mineiros Bruno Soares e Marcelo Melo, vencedores de quatro títulos de Grand Slam somados nas duplas. “Adoro eles, são parâmetros. O Hugo [Daibert], técnico do Bruno, está sendo muito importante, me tirando algumas dúvidas e me dando alguns toques”, arremata.

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