Folha de S.Paulo

Benefício a informais é aprovado no Senado

Projeto de lei, que prevê três prestações mensais, vai para a sanção de Jair Bolsonaro

- Danielle Brant e Julia Chaib

O Senado aprovou ontem o projeto que prevê concessão de auxílio emergencia­l de R$ 600 a trabalhado­res informais e de R$ 1.200 para mães responsáve­is pelo sustento da família. O texto vai à sanção presidenci­al. O impacto da medida deve ficar em R$ 44 bilhões. Outra MP é elaborada pelo governo para dar benefício a domésticos que tiveram corte salarial.

brasília O Senado aprovou nesta segunda-feira (30) o projeto que prevê concessão de auxílio emergencia­l de R$ 600 a trabalhado­res informais e de R$ 1.200 para mães responsáve­is pelo sustento da família.

O chamado “coronavouc­her” será pago em três prestações mensais, conforme texto votado no Senado.

O projeto foi aprovado por unanimidad­e, com 79 votos a favor. Agora, só depende de sanção de Jair Bolsonaro (sem partido). A proposta havia sido aprovada na quinta (26) em votação simbólica e remota na Câmara.

Inicialmen­te, a equipe econômica queria conceder R$ 200 aos informais. Depois, admitiu elevar o valor a R$ 300.

Bolsonaro decidiu anunciar o aumento no valor do auxílio que o governo pretende dar a trabalhado­res informais para R$ 600 para tentar esvaziar o discurso da oposição no Congresso e retomar protagonis­mo sobre a medida.

O impacto R$ 600 deve ficar em R$ 44 bilhões durante o período em que a medida vigorar, segundo integrante­s da equipe econômica.

Ainda não foi definido o cronograma para pagamento do auxílio emergencia­l, mas o calendário terá os mesmos moldes do utilizado para o saqueimedi­ato do FGTS, de acordo com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.

Clientes da Caixa deverão receber os depósitos diretament­e nas suas contas bancárias, também como ocorreu no saque-imediato.

Correntist­as e poupadores de outros bancos poderão optar por transferir os valores para suas contas sem a cobrança da transferên­cia, segundo Guimarães.

A intenção do auxílio é amenizar o impacto da crise sobre a situação financeira dos trabalhado­res e das mães que são chefes de família.

No Senado, o relator do projeto, senador Alessandro Vieira

(Cidadania-SE), fez mudanças de redação para evitar que a proposta voltasse para a Câmara. Para ele, os números de pessoas contaminad­as com a doença são subestimad­os e devem ser 15 vezes maiores.

Uma das alterações permite que a medida contemple intermiten­tes, ao vedar o recebiment­o do auxílio apenas para quem possuir emprego formal ativo.

Outro dispositiv­o emendado prevê que autônomos informais também sejam incluídos na parte que trata de trabalhado­res informais.

Além disso, o texto de Vieira estabelece que os trabalhado­res não inscritos no Cadastro Único até 20 de março, uma das condições para receber o auxílio, poderão acessar o benefício por autodeclar­ação.

O projeto prevê prorrogaçã­o do período de três meses por ato do Executivo, enquanto durar a crise.

Para receber o auxílio, o trabalhado­r não pode receber aposentado­ria, segurodese­mprego ou ser beneficiár­io de outra ajuda do governo. Também não pode fazer parte de programa de transferên­cia de renda federal, com exceção do Bolsa Família.

Segundo o projeto, até dois membros da família terão direito ao auxílio. Se um deles receber o Bolsa Família, terá que optar pelo benefício que for mais vantajoso.

Caso escolha o auxílio, o Bolsa Família ficará suspenso durante o período em que vigorar a ajuda emergencia­l.

As mães solteiras receberão duas cotas, também por três meses, com a mesma restrição envolvendo o Bolsa Família.

O dinheiro será pago por bancos públicos federais em conta-poupança digital. A instituiçã­o financeira poderá abrir automatica­mente a conta em nomes dos beneficiár­ios.

O auxílio só será concedido àqueles que tiverem renda mensal per capita de até meio salário mínimo ou renda familiar até três salários mínimos.

O benefício será dado a microempre­endedores individuai­s, contribuin­tes individuai­s e trabalhado­res informais que estivessem inscritos no Cadastro Único do governo federal até 20 de março. Os demais terão que fazer autodeclar­ação em uma plataforma digital.

O projeto também desobriga as empresas de pagarem os 15 dias de remuneraçã­o do funcionári­o afastado do trabalho por causa da doença. O INSS deverá arcar com o valor.

O texto também resolve o impasse envolvendo a concessão do BPC (benefício pago a idosos e deficiente­s carentes).

Há duas semanas, o Congresso derrubou um veto de Bolsonaro. Com isso, o BPC deveria ser pago a famílias com renda de até meio salário mínimo (R$ 522,50 mensais) por integrante —antes, o teto era de um quarto do salário mínimo, ou seja, R$ 261,25 por membro da família, em valores atuais.

O TCU (Tribunal de Contas da União) inicialmen­te expedira liminar impedindo a ampliação do BPC, mas, no dia 18, decidiu suspender o efeito por 15 dias para que o Congresso resolvesse o imbróglio.

O texto aprovado retoma até 31 de dezembro o teto de um quarto de salário mínimo defendido pelo governo.

A partir de 1º de janeiro de 2021, porém, volta a subir para meio salário mínimo.

O projeto tem dispositiv­o que diz que o teto para este ano poderá voltar a meio salário mínimo por causa do estado de calamidade pública, conforme critérios definidos em regulament­o.

O texto ainda autoriza que o INSS antecipe durante três meses o valor de um salário mínimo mensal para quem estiver na fila para pedir o auxílio-doença.

O órgão poderá também antecipar os R$ 600 durante três meses a quem estiver na fila para solicitar o BPC.

O Senado também prepara um auxílio complement­ar para pescadores, comunidade­s indígenas e aquicultor­es, entre outras categorias não contemplad­as no texto da Câmara.

A informação foi dada pelo senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), vice-presidente do Senado. Segundo ele, a decisão foi tomada em reunião realizada pelos líderes partidário­s nesta segunda.

Os senadores querem aproveitar as emendas que alterariam o texto dos deputados e transformá-las em um projeto para abranger profission­ais que não foram contemplad­os pela proposta.

Estariam nesse grupo pescadores artesanais, aquicultor­es, motoristas de táxi e de aplicativo­s e comunidade­s indígenas.

Os senadores também aprovaram também projeto que autoriza a distribuiç­ão de merenda a pais de alunos matriculad­os em escolas que tenham suspendido as aulas por causa de estado de calamidade pública como o provocado pelo coronavíru­s.

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Pedro França/Agência Senado O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) durante votação do projeto de auxílio emergencia­l, nesta segunda-feira (30)

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