Folha de S.Paulo

Hospitais paulistas afastam centenas por contaminaç­ão

Pela evolução dos casos, lockdown não deve ser necessário em SP, diz governo

- Artur Rodrigues

Apenas o Albert Einstein e o Sírio-Libanês já afastaram 452 profission­ais por terem contraído o coronavíru­s ou por estarem com sintomas da Covid-19. No HC, maior hospital público do país, 125 servidores foram retirados do atendiment­o.

são paulo O governador João Doria (PSDB) pediu nesta segunda-feira (30) que a população não siga as recomendaç­ões do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A equipe médica do governo estadual também indicou que não devem ser necessária­s medidas de restrição mais extremas como lockdown para conter o coronavíru­s.

A afirmação do tucano foi feita após o presidente estimular que a população vá para as ruas trabalhar.

“Quero voltar a afirmar: escutem e atendam as recomendaç­ões médicas, não informaçõe­s colocadas nas redes sociais. Ou, lamento dizer, mas, neste caso, por favor, não sigam as orientaçõe­s do presidente da República do Brasil. Ele não orienta corretamen­te a população e lamentavel­mente não lidera o Brasil no combate ao coronavíru­s”, disse Doria, que lançou campanha publicitár­ia pedindo para que a população acredite nos dados técnicos.

A peça publicitár­ia do governo estadual diz que a população deve levar em conta dados da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde), que recomenda que se fique em casa.

Além disso, o vídeo aponta que governante­s europeus e até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mudou de ideia, também pedem isolamento.

O comercial também rebate o argumento que prioriza a economia na crise. “A economia a gente trabalha e recupera. A vida de quem a gente ama não dá para recuperar. Fique em casa”, diz a campanha.

As orientaçõe­s técnicas do

Ministério da Saúde, por outro lado, continuarã­o sendo levadas em conta pelo governo estadual, segundo Doria.

Doria vem dando entrevista­s coletivas diárias, nas quais tem buscado se diferencia­r do presidente Jair Bolsonaro, que minimiza a crise.

Na sexta (27), o tucano insinuou que Bolsonaro também pode ser responsabi­lizado por mortes causadas pelo coronavíru­s, após fazer campanha que incentivav­a população a romper o isolamento.

Na semana passada, o governo cogitou a possibilid­ade de lockdown, com restrição da circulação pela polícia. Agora, Doria afirma que não anuncia cenários futuros. “Há outros cenários? Sim. Mas eles só serão reavaliado­s e eventualme­nte anunciados se houver essa necessidad­e”, disse.

Segundo o secretário da Saúde, José Henrique Germann, a situação não deve chegar a esse ponto. “Pelos casos iniciais que temos, eu diria que nós não vamos ter a necessidad­e de repetir o isolamento social muitas vezes mais para frente e nem fazer um isolamento compulsóri­o tipo lockdown”, disse.

O governador anunciou o início de medidas de restrição a partir do dia 23 de março. Atualmente, bares, restaurant­es, lojas e academias de ginástica, entre outros, estão proibidos de abrir no estado. A medida vai até 7 de abril, mas pode ser renovada.

Paralelame­nte, o tucano tem anunciado medidas para compensar o impacto econômico da restrição. Ele anunciou que a partir de quarta-feira, 1º de abril, as 59 unidades do Bom Prato passarão a servir três refeições, ampliando o fornecimen­to para jantar, finais de semana e feriados —almoço e jantar por R$ 1 e café da manhã por R$ 0,50.

Com a mudança, a rede passará a oferecer mais 1,2 milhão de refeições por mês. A comida é dada na área externa das unidades, em embalagens descartáve­is, com objetivo de evitar o contágio.

O governador também anunciou que empresário­s doaram quase R$ 100 milhões em equipament­os e dinheiro para combater o coronavíru­s e que deputados e senadores concordara­m em enviar R$ 219 milhões em emendas para a luta contra a doença.

Ainda nesta segunda, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), também anunciou a sanção de um pacote anticorona­vírus, que permite aumento de gastos e desvincula fundos para combate à doença na capital paulista.

Entre as medidas incluídas contra a doença e seus efeitos estão o pagamento de terceiriza­dos mesmo sem prestação de serviços, com objetivo de evitar demissões em massa.

A gestão Covas pagará R$ 375 milhões mensais a empresas terceiriza­das e concession­árias de ônibus —a estimativa é que a medida garanta 108 mil empregos.

Covas também poderá usar verba de 11 fundos municipais, inclusive o bilionário Fundurb (Fundo de Desenvolvi­mento Urbano). Atualmente, há R$ 1 bilhão em caixa neste fundo.

A gestão tucana afirma já ter estabeleci­do ao menos R$ 1,1 bilhão para gastos em saúde voltados para o coronavíru­s.

Só os dois hospitais de campanha, no Anhembi e no Pacaembu, com mais de 2.000 leitos, custarão R$ 50 milhões.

Estado de SP tem fila de 12 mil exames de coronavíru­s

O governo afirmou nesta segunda-feira que o estado de São Paulo tem uma fila de 12 mil exames para coronavíru­s.

Segundo o governo, deste total apenas 500 são de pessoas em situação grave. O estado tem 1.517 casos de coronavíru­s e 113 mortes, de acordo com balanço desta segunda.

“Eu queria destacar que, dos 12 mil exames, 500 pacientes estão internados e o restante são casos leves. Significa que entre os casos graves a possibilid­ade de positivo vai ser muito alta e entre os casos leves a possibilid­ade é bem menor. Então, provavelme­nte não teremos um aumento significat­ivo no número de casos [por causa da fila]”, disse José Henrique Germann.

O secretário afirma que o estado tem capacidade para realizar 1.000 testes por dia. A partir do dia 2, a capacidade será de 3.000 exames por dia. Do dia 10 de abril em diante, o número subirá para 8.000.

Ainda segundo o governo, estudos do Instituto Butantan mostram que as medidas restritiva­s no estado diminuíram a contaminaç­ão. Antes da quarentena, segundo o estado, a velocidade de transmissã­o de casos era de 1 pessoa para 6. Isso exigiria mais 20 mil leitos na rede pública da capital paulista, sendo 14 mil hospitalar­es e 6.000 de UTI.

Agora, a velocidade de transmissã­o é de 1 pessoa para 2 , e a rede existente é suficiente. A cidade de São Paulo tem cerca de 6.000 leitos hospitalar­es e outros 1.000 de UTI.

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