Folha de S.Paulo

SÃO PAULO TEM POUCOS ÔNIBUS E AGLOMERAÇíO

Com menos usuários nas ruas, prefeitura cortou 60% dos ônibus em circulação; estado reduziu trens e metrôs em 35%

- Thiago Amâncio

Pátio cheio de veículos da Transwolff, no bairro do Socorro; alegando que movimento caiu 77%, prefeitura paulistana cortou 60% da frota nesta semana, gerando filas e atrasos

são paulo Os passageiro­s de ônibus que restaram em São Paulo enfrentara­m ônibus lotados e atrasos nesta segunda (30), quando a prefeitura da capital reduziu a frota em circulação para 40% de seu normal.

A decisão foi tomada após a pandemia do novo coronavíru­s fechar comércios, escolas e alastrar o medo de aglomeraçõ­es pela cidade, levando a uma queda na demanda pelos coletivos estimada em 77% pela gestão municipal.

No terminal Vila Nova Cachoeirin­ha, na zona norte de São Paulo, o analista financeiro Douglas Farias de Souza, 29, se deparou com uma fila longa, às 6h30 desta segunda. “Olha o tamanho dessa fila. Se não é para deixar ter aglomeraçã­o, como deixam isso acontecer? O ônibus vai sair lotado”, disse.

Com a pandemia, ele tem trabalhado presencial­mente dia sim, dia não, e costuma pegar o 9501/10 até o largo do Paissandu, no centro da cidade.

“Como é uma das linhas mais demandadas da zona norte, tem ônibus articulado. A diminuição da demanda deixava os ônibus mais vazios e todos íamos sentados, o que dava uma tranquilid­ade”, afirma.

“Só que, nesta segunda, para minha surpresa, me deparei com ônibus convencion­ais. E se saíam de três em três minutos, começou a sair de dez em dez. Quando parava nos pontos, no caminho, não tinha mais como entrar. Estão brincando com nossas vidas. Me senti desprotegi­do com tanta gente junta”, reclama.

No outro lado da cidade, na zona sul, o vigilante Leandro Pinheiro, 32, passou pelo mesmo no sistema de ônibus, mantido pela gestão Bruno Covas (PSDB). “Fiquei das 4h50 às 5h40 esperando o ônibus, é complicado. E ainda cheguei atrasado no serviço”, diz.

“Estava tão cheio que o motorista teve que deixar de parar em alguns pontos”, reclama ele, que diz que na última semana os veículos saíam a cada 15 minutos, e agora saem a cada hora. “O que fizeram hoje foi desumano. Pregam que a gente se cuide e se proteja, mas hoje não tinha nem como se segurar direito”, diz.

No começo da noite, a SPTrans informou que colocará 151 veículos a mais em operação, 76 deles nos terminais Cachoeirin­ha, Santo Amaro, Grajaú e Jardim Angela, que atenderão diferentes linhas de acordo com a demanda de passageiro­s.

“O objetivo da medida é evitar aglomeraçõ­es nas filas dos terminais, pontos de ônibus e no interior dos coletivos. O reforço será feito nos picos da manhã e da tarde.”

A queda na demanda dos passageiro­s assusta as empresas de ônibus, que dependem da receita com bilhetes. A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano) estima que o sistema pode entrar em colapso no próximo domingo (5), e pede financiame­nto do poder público.

Nesta segunda, Covas anunciou um investimen­to de

R$ 375 milhões para preservar empregos de empresas terceiriza­das da prefeitura, o que inclui motoristas e cobradores do transporte urbano.

Na rede sobre trilhos também houve redução de 35% da frota. Segundo a Secretaria de Transporte­s Metropolit­anos da gestão João Doria (PSDB), isso ocorreu após a demanda cair 83% no Metrô, 76% na CPTM (trens) e 75% na EMTU (ônibus para a Grande SP).

A enfermeira Camila Picone, 39, pega todos os dias a linha 2-verde do Metrô, do Alto do Ipiranga até o Hospital das Clínicas. “Como diminuíram a quantidade de trens e espaçaram o tempo de percurso, aumentou muito o número de passageiro­s. Aí você vê muita gente sentada junto, em ambiente fechado com ar-condiciona­do, gente tossindo”, diz.

A empregada doméstica Enilma Santos, 44, precisou esperar dois trens passarem antes de conseguir embarcar nesta manhã na estação Guaianases, da linha 11-coral da CPTM. “Me senti vulnerável ao vírus, preocupada. É desrespeit­o, descaso”, resume ela.

A Secretaria de Transporte­s Metropolit­anos informou, em nota, que usou dez trens extras pela manhã no trajeto Guaianases-Luz, e sete trens extras no sentido contrário.

A pasta afirma que a redução da frota ocorreu para “manter o atendiment­o à população e preservar a saúde e a vida dos passageiro­s e colaborado­res. [...] Novas ações poderão ser tomadas ao longo dos próximos dias.”

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Eduardo Knapp/Folhapress
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Eduardo Knapp/Folhapress Ônibus da viação Sambaíba estacionad­os na garagem após redução no número de veículos em circulação

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