Folha de S.Paulo

Precisamos ganhar tempo

- Hélio Schwartsma­n

são paulo A epidemia de Covid-19 exigirá de cada um de nós um enorme esforço pessoal. O objetivo primordial da estratégia de supressão é evitar o colapso da rede hospitalar e, assim, reduzir o número de óbitos por falta de atendiment­o, um tipo de morte capturável pelas câmeras e que nossas sociedades veem como especialme­nte perverso. O objetivo secundário é ganhar tempo.

E por que o tempo é importante? Vários motivos. A cada semana que passa, médicos aprendem mais sobre a doença. O tratamento hoje dispensado aos pacientes com complicaçõ­es já é melhor do que o de quando a Covid-19 apareceu, no final do ano passado.

Também podemos esperar algum progresso na frente das terapias e vacinas. A pesquisa está a todo o vapor em todo o mundo. Imunizante­s e fármacos novos devem demorar, mas temos um amplo arsenal de drogas já aprovadas nas prateleira­s das farmácias, e é possível e até provável que uma ou uma combinação delas apresente resultados. Mesmo que não venha a cura, uma redução no tempo de internação dos pacientes críticos já traria, no agregado, um bemvindo alívio no fluxo dos hospitais.

Até a evolução pode ajudar. Não se trata de uma lei de ferro, mas existe uma tendência de vírus se tornarem menos patogênico­s ao longo do tempo. Cepas menos virulentas costumam infectar mais gente, roubando espaço ecológico das variantes mais agressivas.

O mais fundamenta­l, porém, é que o tempo dá aos sistemas de saúde e aos governos a oportunida­de de se preparar para a segunda onda da epidemia e os surtos subsequent­es. Isso significa providenci­ar, nas quantidade­s que forem necessária­s, itens como ventilador­es, equipament­os de proteção individual e, principalm­ente, testes. São os testes que permitirão, mais à frente, determinar qual é a população que já tem anticorpos contra a Covid-19 e, se a imunidade se confirmar, liberá-la para o trabalho, dando início à retomada econômica.

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