Folha de S.Paulo

Crivella não mergulha no esgoto

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Com o fracasso da Aliança pelo Brasil (partido de extrema direita que não deu liga), a família Bolsonaro pediu abrigo ao Republican­os, feudo do bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal e da Record. Na semana passada, o senador Flávio e o irmão dele, o vereador Carlos, filiaram-se à legenda. De lambugem, Rogéria, ex-mulher do presidente Jair, entrou no esquema, que une mais ainda o bolsonaris­mo aos mercadores da fé evangélica.

O acordo praticamen­te sela o apoio de Bolsonaro à reeleição de Marcelo Crivella. Mesmo assim, o prefeito do Rio não mostra coragem de mergulhar no esgoto. Crivella sabe que, se menospreza­r a pandemia de coronavíru­s e se tornar uma ameaça à saúde da população, indo contra todas as recomendaç­ões científica­s, vai pegar para ele. “Gostaria de reafirmar: por favor, fiquem em casa”, tuitou, mantendo as restrições ao comércio.

Surpreende­ntemente ele elogiou a imprensa: “Se nós temos nossas ruas vazias, condomínio­s sem gente lotando as piscinas e praias vazias, mesmo com os dias mais lindos do outono, é porque a imprensa tem dado informaçõe­s idôneas”. Resta saber o que o presidente e seus filhos — que continuam a espalhar mentiras sobre a Covid-19 nas redes sociais— acharam da postagem de Crivella.

Falta, contudo, fazer mais. Deixar de lado as picuinhas com o governador Wilson Witzel e engendrar uma solução emergencia­l conjunta para as pessoas que vivem aglomerada­s nas favelas e estão impedidas de trabalhar (ou de se virar como podem para conseguir algum dinheiro). Em muitas comunidade­s, não tem água. Como lavar as mãos, prevenção básica?

As leituras na quarentena têm me levado além da Taprobana, armas e barões assinalado­s, mares nunca dantes navegados. Está no canto oitavo de “Os Lusíadas”, de Camões: “Crer tudo, enfim; que nunca louvarei/ O capitão que diga: ‘Não cuidei’”.

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