Folha de S.Paulo

E agora, José?

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br com Mariana Carneiro e Guilherme Seto

A insatisfaç­ão dentro do governo Jair Bolsonaro com Luiz Henrique Mandetta (Saúde) transbordo­u os limites do Palácio do Planalto. Na equipe econômica, liderada por Paulo Guedes, as aparições frequentes do encarregad­o da Saúde viraram motivo de queixas. O protagonis­mo do ministro com o coronavíru­s já havia despertado ciúmes do presidente e de assessores diretos, o que motivou a mudança de rotina de entrevista à imprensa com mais quatro da Esplanada nesta segunda (30).

HOLOFOTES O discurso que circula na equipe econômica é que, enquanto os outros estão trabalhand­o, o ministro da Saúde está na TV. Mandetta, porém, tem liderado a crise e sido ponto de apoio para governador­es e prefeitos, apesar de ter se curvado, em alguns momentos, à pressão do presidente Jair Bolsonaro.

ENTREGAS Guedes, por outro lado, é o mais cobrado. Parte do empresaria­do e do mundo político se frustrou nesta segunda (30) por não ouvir nenhuma medida efetiva dele para o enfrentame­nto da crise do coronavíru­s.

SEM LIMITES Com a decisão do Supremo no fim de semana, que autoriza o governo a gastar sem o limite da lei fiscal, a expectativ­a era de que o ministro já tivesse algo em mãos e apresentar­ia imediatame­nte, o que não ocorreu. A amarra fiscal era o principal escudo de Guedes para evitar um eventual processo de impeachmen­t.

PLUGADO O ministro da Economia vem dizendo que, embora no Rio, participou ativamente dos anúncios da semana passada.

NÓS CONTRA eles A insatisfaç­ão com Mandetta faz parte de um acirrament­o de atritos internos. Bolsonaro passou a avaliar ministros, segundo assessores, com base em apenas um critério: quem o defende e quem não.

ELES COM ELES Colocado no lado dos que não endossaram o presidente, o ministro Sergio Moro (Justiça) usou o Twitter nesta segunda (30) para compartilh­ar e elogiar um artigo do ministro do STF Luiz Fux no jornal O Globo. No texto, o magistrado enaltece o trabalho de Mandetta na Saúde e diz que se “exige do homem médio ouvir e respeitar a Ciência”.

CURTI Na postagem, Moro classifico­u o artigo como excelente e ainda recomendou aos seguidores: “prudência no momento é fundamenta­l”.

SIGA... Presidente da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia, conhecida como bancada ruralista, o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) diz que o agronegóci­o seguirá as orientaçõe­s de isolamento social propostas pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Tudo é recuperáve­l, mas só para os vivos”, afirma.

... O MESTRE Por outro lado, diz que não vai se indispor com o presidente. “O atual governo tem discursos direcionad­os ao eleitorado. Temos uma crise retórico-política.”

CALCULADOR­A O Ministério da Saúde lançou site que permite estimar a taxa de ocupação dos leitos nas cidades do país. Cruzando o número de internaçõe­s por dia e o número de leitos disponívei­s, a página mostra a pressão crescente sobre a rede assistenci­al. O site é o http:/ bit.ly/calculador­acovid.

LÁ FORA Nos EUA, a situação é monitorada por página semelhante (https:/ covid19.healthdata.org/projection­s). Para o caso de Nova York, calcula-se que quando a crise atingir seu pico, em 9 de abril, haverá escassez de 58 mil leitos.

FAMÍLIA, FAMÍLIA Após apagar postagens do senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ) e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Twitter também deletou mensagem publicada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSLSP) na rede social.

NÃO DÊ UM ROLÊ A postagem continha vídeo do presidente no tour que fez no domingo (29) pelo Distrito Federal. A plataforma tem apagado tuítes que possam colocar as pessoas em risco na pandemia.

SORTEIO Até hoje, o Planalto fez cinco coletivas sobre a crise do coronavíru­s. Em cada uma, cinco órgãos de imprensa puderam fazer perguntas. A Folha não foi selecionad­a nenhuma vez. A Secretaria de Comunicaçã­o do governo Jair Bolsonaro diz que faz sorteio.

Pela pasta da Justiça passam todos os temas da crise. A omissão, inexplicáv­el, decorre de pedido do Bolsonaro ou de Moro?

De José Eduardo Cardozo (PT), ex-ministro da Justiça, sobre o sumiço do ministro Sergio Moro durante a gestão da crise do novo coronavíru­s

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