Como Bolsonaro já confrontou medidas de combate ao vírus
PROTESTOS
Contradizendo o que ele mesmo havia falado em pronunciamento na semana anterior, Bolsonaro participou de protestos pró-governo no dia 15 de março 1 . Naquele momento havia 200 casos confirmados de Covid-19 no Brasil. O presidente incentivou os atos com postagens e depois, sem máscara, participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando seus celulares para selfies. “Isso não tem preço”, disse, em transmissão ao vivo. Na semana anterior, quando pediu que se repensasse as manifestações por causa do coronavírus, Bolsonaro citou o risco de contágio em ambientes com muitas pessoas.
PRONUNCIAMENTO
Em pronunciamento do dia 24 de março, Bolsonaro atacou governadores, culpou a imprensa pelo agravamento da crise de saúde e criticou o fechamento de escolas. “O que se passa no mundo mostra que o grupo de risco é de pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, questionou. Mesmo sem sintomas, adultos e crianças podem transmitir o vírus. O presidente concluiu a fala dizendo que, se ele fosse infectado, por seu “histórico de atleta”, não deveria temer a doença. “Nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho”, afirmou.
ATIVIDADES RELIGIOSAS
O presidente atualizou um decreto em 26 de março que lista atividades essenciais que não podem ser interrompidas durante os esforços de combate ao novo coronavírus, acrescentando ao texto atividades religiosas e casas lotéricas. “Eu acho que o pastor vai saber conduzir o seu culto. Ele vai ter consciência (o pastor, o padre), se a igreja está muito cheia, falar alguma coisa. Ele vai decidir lá”, disse Bolsonaro, em 19 de março, em entrevista ao Programa do Ratinho. Um dia depois da atualização, a Justiça Federal suspendeu a validade do decreto e proibiu o governo federal de adotar medidas contrárias ao isolamento social como forma de prevenção.
SEM ESTUDO
Nas últimas semanas, o presidente ensaiou uma linguagem mais técnica para as suas propostas. Ele conclamou a população a aderir ao chamado “isolamento vertical”, que consistiria em retirar do convívio social apenas aqueles que estiverem em grupos de risco. Em reuniões com secretários, porém, os presentes relataram que a medida foi apresentada como um princípio, e que nenhum estudo técnico embasou a proposta.
CAMPANHA OFICIAL
Um vídeo de divulgação institucional da Presidência resumiu e comunicou oficialmente propostas do governo para a pandemia. A peça foi compartilhada pelo filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos RJ), e logo tomou as redes bolsonaristas. O vídeo 2, divulgado no dia 27 de março, mostra categorias como a dos autônomos e mesmo a de profissionais da saúde como desejosas de voltar ao regime normal de trabalho. “O Brasil não pode parar”, encerra cada trecho do vídeo, inclusive para os “brasileiros contaminados
pelo coronavírus”. No dia 28 de março, a Justiça Federal no Rio de Janeiro impediu a divulgação da campanha; em nota, a Secom afirmou que “definitivamente, não existe qualquer campanha publicitária ou peça oficial da Secom intitulada ‘O Brasil não pode parar’. Trata-se uma mentira, uma fake news divulgada por determinados veículos de comunicação”, diz a nota. Os vídeos foram apagados de ao menos dois perfis oficiais do governo.
TUÍTE DA CARREATA
No mesmo dia 27 de março, o próprio presidente postou em sua rede social o vídeo de uma carreata realizada em Balneário Camboriú (SC). A manifestação pedia a volta do comércio e era contrária ao isolamento social recomendado pela OMS e pela maioria dos governos que lidam com a pandemia. No fim de semana, manifestações e buzinaços foram feitos em diversas cidades do país 3. Nos atos, os manifestantes permanecem dentro de seus carros.
SAIDINHA PELAS RUAS
Neste domingo (29) ,o presidente saiu pelas ruas de Brasília defendendo a volta da população ao trabalho. O giro 4 incluiu pontos de comércio na Asa Norte e no Sudoeste, além de Ceilândia e Taguatinga, cidades-satélites de Brasília. Em Ceilândia, Bolsonaro conversou com ambulantes como um vendedor de espetinhos e defendeu sua visão. “Eu defendo que você trabalhe, que todo mundo trabalhe. Lógico, quem é de idade fica em casa”, afirmou o presidente.
“Às vezes, o remédio demais vira veneno”, completou, em referência à restrição de circulação e os reflexos
para a economia. Durante a saída, Bolsonaro ouviu palavras de apoio e também críticas. “Isolamento para nós, hein? Isolamento. Sem isolamento a gente não se cuida”, falou uma mulher quando o presidente se preparava para entrar no carro e ir embora. O giro ocorreu um dia depois de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmar que o que o isolamento vertical (restrito a grupos de risco) estava descartado como forma de enfrentar o novo coronavírus.
DECRETO
Após o giro por Brasília, Bolsonaro disse que estava pensando em fazer um decreto para população poder trabalhar. “Eu estou com vontade, não sei se eu vou fazer, de baixar um decreto amanhã: toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar o sustento para os seus filhos, para levar leite para seus filhos, para levar arroz e feijão para casa, vai poder trabalhar”, afirmou. Questionado se o texto já estava em estudo, Bolsonaro afirmou que havia acabado de pensar na ideia, enquanto falava com jornalistas. A fala se deu após semana em que oscilaram embates e aparentes entendimentos em reuniões com governadores. No mesmo dia, políticos como os governadores do Rio, Wilson Witzel (PSC), e do Pará, Helder Barbalho (MDB), se manifestaram dizendo que manteriam as medidas restritivas. “Se for necessário, iremos até à Justiça”, disse Barbalho.