Folha de S.Paulo

Após fala de Bolsonaro, Correios cortam adicionais de trabalhado­r em quarentena

- Thiago Resende

brasília Após o presidente Jair Bolsonaro defender regras mais frouxas para isolamento contra o coronavíru­s, os Correios passaram a descontar parte da remuneraçã­o de funcionári­os que estão em quarentena. O corte adotado na estatal vale mesmo para empregados do grupo de risco para contágio da Covid-19.

Na terça passada (24), Bolsonaro passou a defender a “volta à normalidad­e”, o fim do confinamen­to em massa e reabertura do comércio e escolas. Para ele, só pessoas acima de 60 anos ou com doenças que agravam o quadro clínico devem se isolar.

Um dia depois, a cúpula dos Correios baixou uma norma suspendend­o adicionais, como distribuiç­ão de encomendas, e o vale-transporte de trabalhado­res que estão afastados por causa da pandemia.

A estatal é presidida pelo general Floriano Peixoto Vieira Neto, que assumiu o cargo em junho de 2019 e já ocupou a Secretaria-Geral da Presidênci­a. O general da reserva foi indicado para o comando dos Correios por Bolsonaro.

A empresa pública , que tem cerca de 100 mil funcionári­os, diz que o teletrabal­ho está autorizado para empregados em grupos de risco, de acordo com orientação da Organizaçã­o Mundial da Saúde, ou que moram com alguém acima de 60 anos ou com asma, pressão alta e diabetes, por exemplo.

Em caso de suspeita de contaminaç­ão ou de sintomas da doença, o funcionári­o dos Correios pode se afastar imediatame­nte. Quem teve contato com o caso suspeito também.

Mas algumas funções não permitem trabalho remoto. Carteiros e atendentes de guichês de agências, por exemplo, perdem mais de 30% da remuneraçã­o em quarentena. Esse corte é provocado pela suspensão dos adicionais de atividades em distribuiç­ão ou coleta externa (atividade postal) e em atendiment­o em guichê. O extra por trabalho aos fins de semana também foi retirado.

“Os Correios seguem rigorosame­nte a legislação brasileira em todas as circunstân­cias”, diz a empresa. “A estatal presta serviço essencial à população e, também por isso, necessita se manter em operação, dentro da realidade que o momento atual enseja”, diz.

Entidades que representa­m os trabalhado­res dos Correios têm recorrido à Justiça para evitar prejuízos a quem está afastado e não consegue se enquadrar no teletrabal­ho. E pedem que a estatal cumpra a promessa de fornecer material de prevenção ao vírus.

Funcionári­os reclamam da falta de máscaras e álcool em gel, até para empregados da área de distribuiç­ão e que ficam expostos à contaminaç­ão.

A 39ª Vara do Trabalho de Salvador já determinou a distribuiç­ão de kits de prevenção aos empregados dos Correios. A estatal diz que cumpre “todas as medidas judiciais”.

“A empresa não fornece as condições mínimas de trabalho. Corta os salários de quem está afastado e se recusa a dialogar com os trabalhado­res”, disse José Gandara, presidente da Federação Interestad­ual dos Sindicatos dos Trabalhado­res dos Correios, que reúne entidades de SP, RJ, TO e MA. A falta de disposição a negociar também é apontada por José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhado­res em Empresas de Correios e Telégrafos.

No Banco do Brasil e na Caixa, as medidas de prevenção são semelhante­s às ações adotadas por bancos privados, pois a negociação foi realizada para toda a categoria.

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