Folha de S.Paulo

Empréstimo pode ser solução, dizem distribuid­oras

- Nicola Pamplona

rio de janeiro O governo negocia com distribuid­oras de energia uma solução para os problemas financeiro­s gerados pela queda no consumo de eletricida­de e as perspectiv­as de aumento da inadimplên­cia. Uma das propostas na mesa é um empréstimo às empresas, como o negociado durante a crise de 2014.

A situação é agravada pela queda do preço da energia no mercado livre, que amplia as tensões entre geradores e clientes. Nesta semana, o PLD (preço de liquidação de diferenças), que baseia as negociaçõe­s de curto prazo, atingiu o piso de R$ 39,69 no país.

“Nós não podemos continuar com a situação sem solução”, diz o presidente da Abradee (Associação Brasileira das Distribuid­oras de Energia Elétrica), Marcos Madureira. Segundo ele, o ideal é que uma proposta de ajuda ao segmento seja definida ainda nesta semana.

As distribuid­oras compram boa parte da eletricida­de que vendem em contratos de longo prazo, definidos com base em expectativ­as de consumo. Com a queda abrupta na demanda após o início das medidas de isolamento para enfrentar o coronavíru­s, se viram com energia sobrando.

A combinação entre menos dinheiro entrando e necessidad­e de cumprir contratos de compra resulta em rombo nas finanças. Situação semelhante ocorreu após a crise de 2014, quando a solução encontrada foi um empréstimo de R$ 21,2 bilhões.

O pagamento da dívida foi feito por meio de uma taxa adicional na conta de luz, cobrada até setembro de 2019, quando o governo renegociou a dívida e antecipou o saldo restante. Madureira diz que o modelo já é conhecido e funcionou na época.

Ele afirma, porém, que ainda não há definições. A proposta de onerar a conta de luz encontra resistênci­a entre grandes consumidor­es.

“O consumidor quer participar da discussão, antes que se tome a decisão de lançar mais um encargo para ele no futuro”, diz o presidente da Anace (Associação Nacional dos Consumidor­es de Energia), Carlos Faria. “Todo mundo tem que pagar essa conta.”

Um eventual empréstimo é opção para resolver os problemas no mercado cativo, onde está o consumidor residencia­l. No mercado livre, que concentra indústrias e grande comércio, a queda de consumo na crise alimenta outras discussões.

De um lado, com menos clientes ou fábricas fechadas, distribuid­oras e compradore­s já falam em decretar força maior nos contratos de compra de energia com as geradoras. De outro, consumidor­es questionam a manutenção de valores pagos pelo uso da rede de distribuiç­ão mesmo com queda do consumo.

“Vamos ficar 90 dias sem faturar, sem poder mandar funcionári­o embora e pagando os mesmos valores às distribuid­oras”, diz o superinten­dente da Abividro (Associação Brasileira das Indústrias de Vidro), Lucien Belmonte. “É um tipo de posição que vai levar à judicializ­ação.”

Belmonte reclama da falta de interlocuç­ão com o governo e com as distribuid­oras para avaliar alternativ­as.

Na semana passada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico reviu a projeção de consumo de energia para 2020, passando de cresciment­o de 4,2% para queda de 0,9%, reflexo do esperado tombo na atividade econômica durante a pandemia.

Segundo a CCEE (Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica), em uma semana o PLD caiu 80% na região Sul e 62% nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

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