Folha de S.Paulo

Dólar, alta da demanda com pandemia e efeitos do clima encarecem alimentos

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

Além da perda de renda, boa parte da população vai passar por um período de aperto no bolso na hora de comprar os produtos básicos neste período de avanço do coronavíru­s.

A inflação média está baixa, mas os alimentos essenciais ao dia a dia dos consumidor­es estão com tendência de alta.

Boa parte dessa pressão de aumento vem de mudanças climáticas, que afetaram a produção no campo. Mas há também redução de áreas de plantio de vários produtos básicos, uma vez que a produção brasileira se concentra cada vez mais em soja e milho.

A demanda interna crescente das últimas semanas também coopera para manter os preços em alta. Têm importânci­a relevante, ainda, a demanda externa e a taxa de câmbio, encarecend­o as importaçõe­s e favorecend­o as exportaçõe­s.

Os custos começam logo no café da manhã. Café, leite, manteiga e pãozinho superam em muito a inflação média dos últimos 30 dias, que ficou em 0,10% até a terceira semana deste mês.

Todos eles estão com varia- ções de 0,5% a 1,5% nesse período, conforme pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), feita na capital paulista.

O café segue tendência do mercado internacio­nal, uma das commoditie­s que mais sobem nas últimas semanas. Já leite e derivados refletem a menor oferta de matéria-prima.

O bolso vai apertar também durante o almoço, uma vez que arroz e feijão têm variações superiores à da inflação média. O arroz, segundo os dados do instituto, apesar do período de safra, está com evolução de 1,1%.

O Brasil vem reduzindo a área de plantio do cereal. Parte dessa área é ocupada pela soja, mais rentável e de melhor liquidez para os produtores.

Além disso, o câmbio onera as importaçõe­s e favorece as exportaçõe­s. Na safra 2019/20, que se encerrou em fevereiro, o país registrou o maior volume de exportaçõe­s das últimas quatro safras.

A saca de arroz está sendo negociada de R$ 50 a R$ 55 no mercado interno no Sul, dependendo da região. As exportaçõe­s rendem de R$ 60 R$ 65 por saca, de acordo com Vlamir Brandalizz­e, da Brandalizz­e Consulting.

O feijão, devido a problemas climáticos na primeira safra, teve produção menor. Nesta próxima, a leguminosa está perdendo área para o plantio de milho irrigado. A oferta do produto será mais apertada no segundo semestre, segundo Brandalizz­e.

Carnes suína e de frango ainda dão um alívio, porque estão com queda de preços, mas a bovina persiste no aumento. Cortes mais baratos, como músculo e acém, têm aumentos superiores a 3% nos açougues e nos supermerca­dos.

O mês de março continua com um bom volume de exportaçõe­s de carnes, principalm­ente para a China. A demanda interna vai definir os patamares de preços no mercado nacional.

A opção por uma proteína mais barata, como o ovo, também não é solução. O aperto de renda nos últimos anos fez o brasileiro elevar o consumo dessa proteína, e a procura por ovo já supera o potencial de produção das granjas.

Boa parte da alta dos preços desses produtos ocorre devido à elevação de custos de produção. Segundo a JOX e o Avisite, os preços do milho e do farelo de soja deste mês superam em 40% e 28%, respectiva­mente, os de março do ano passado.

Isso ajudou o preço médio da caixa de ovo registrar elevação de 46% no período.

O preparo desses alimentos na cozinha também está custando caro aos brasileiro­s. Os grandes volumes exportados de milho e de soja influencia­m nos preços internos. O óleo de milho tem alta de 2,3% no mês, e o de soja, 1,4%.

O alho sobe 4,1%. A área de plantio em Santa Catarina é menor na safra 2019/20, e as importaçõe­s ficaram mais caras.

De janeiro a fevereiro de 2019, o país importou 34 mil toneladas, no valor de US$ 37 milhões. No mesmo período deste ano, as importaçõe­s somaram 36 mil toneladas, no valor de US$ 67 milhões.

Os componente­s da salada também precisam ser muito bem escolhidos. Abobrinha, cebola, vagem, cenoura e tomate têm aumentos de até 15% nos últimos 30 dias.

A fruta do café da manhã ou do almoço também está cara. Mamão, abacaxi e melão têm alta de 5% a 6,5%, bem acima da inflação média de 0,10%.

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