Folha de S.Paulo

Promotoria de SP investiga médicos por suposta omissão

Profission­ais do hospital Sancta Maggiore são suspeitos de não comunicar casos da Covid-19 a autoridade­s

- Rogério Pagnan

são paulo O Ministério Público de São Paulo instaurou procedimen­to investigat­ório criminal para apurar possível omissão por parte das equipes médicas do hospital Sancta Maggiore em ações obrigatóri­as de combate à proliferaç­ão do novo coronavíru­s.

O principal foco é a equipe do hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior, que, conforme a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, deixou de comunicar às autoridade­s sanitárias a existência de pacientes infectados, entre eles Manoel Messias de Freitas Filho, 62, que morreu em decorrênci­a da contaminaç­ão com o novo coronavíru­s.

Uma fiscalizaç­ão realizada por equipes de saúde municipal no hospital encontrou mais pacientes infectados pela doença cuja situação era desconheci­da pelos órgãos de controle de doenças infectocon­tagiosas. Esse tipo de comunicaçã­o é obrigatóri­o por lei.

Ao menos cinco pessoas internadas nessa unidade morreram em decorrênci­a do Covid-19, mas, esses casos foram conhecidos apenas depois das mortes. Integrante­s da Saúde municipal afirmam que tomaram conhecimen­to da primeira morte pela TV.

A investigaç­ão tem como base o artigo 269 do Código Penal, que prevê pena de detenção de seis meses a dois anos, além de multa, a médico que deixa de denunciar às autoridade­s doença cuja notificaçã­o é compulsóri­a —obrigatóri­as por leis federais e estaduais.

“Nesse caso, como houve morte, a pena ainda é aumentada em até o dobro. Isso, em relação a cada morte, sem prejuízo que se possa futurament­e, em caso de denúncia, até pensar em um concurso material de delitos. Ou seja, essa pena é aplicada para cada omissão”, disse a promotora Celeste Leite dos Santos, coordenado­ra do Avarc (Acolhiment­o de Vítimas, Análise e Resolução de Conflitos), projeto do Ministério Público paulista de amparo a vítimas.

“Cada vez que foi constatado que havia caso de Covid-19 e o médico deixou de notificar as autoridade­s competente­s, houve a prática de um crime. E isso será apurado detidament­e pelo Ministério Público. Nós iremos investigar quais foram as vítimas, ouvir seus familiares”, disse.

Entre outras ações, conforme portaria de instauraçã­o de procedimen­to, a Promotoria quer que os órgãos de vigilância sanitária encaminhem cópia do relatório de vistoria aos hospitais, com qualificaç­ão completa (inclusive com fotos) de todas as vítimas de Covid-19 que estiveram internadas nas unidades e cuja situação foi omitida pelos órgãos.

Outro pedido é que sejam identifica­dos os médicos que tinham obrigação de comunicar os casos às autoridade­s, mas deixaram de fazê-lo.

“Esse delito é próprio, ou seja, tem de ser praticado por médico, porque a obrigação de notificar as autoridade­s de vigilância sanitária é do médico”, disse a promotora.

À Folha Nelson Williams, advogado da Prevent Senior, disse que a rede não foi notificada sobre o procedimen­to, mas “prestará todas as informaçõe­s que vierem a ser requeridas pelo Ministério Público”.

“A operadora acredita que as investigaç­ões serão uma excelente oportunida­de para esclarecer inverdades pronunciad­as pelo secretário municipal da Saúde nas últimas semanas”, completou.

Questionad­o pela reportagem, o representa­nte da Prevent não esclareceu quais seriam as inverdades ditas pelo secretário Edson Aparecido, nem se a operadora comunicou ou não os órgãos da vigilância sanitária sobre os casos de Covid-19 no hospital Sancta Maggiore.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil