Folha de S.Paulo

Coronavíru­s reduz trânsito nas capitais e turbina busca por delivery

Tráfego de veículos caiu até 62%; moradores de bairros organizam sistemas locais de entrega

- Daniel Mariani, Diana Yukari e Flávia Faria

são paulo As medidas de isolamento social para prevenir a contaminaç­ão pelo coronavíru­s fizeram com que o trânsito em algumas das maiores cidades brasileira­s caísse quase à metade nas duas últimas semanas. Por outro lado, houve aumento na busca por serviços de entrega e por dicas de como lidar com a quarentena.

Levantamen­to feito pela Folha com base em dados da TomTom, empresa da área de tecnologia de localizaçã­o, mostrou redução significat­iva do tráfego de veículos em nove capitais. Foram analisados números de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Brasília.

A diminuição média do trânsito de 17 a 30 de março deste ano em relação ao mesmo período de 2019 variou de 43%, em Fortaleza, a 62%, no Rio e em São Paulo.

Com menos deslocamen­tos, os brasileiro­s se voltaram à internet para solucionar questões do dia a dia. Na semana que passou, o volume de buscas no Google relacionad­as a delivery (como entregas de supermerca­do, farmácia e restaurant­e) atingiu o maior ponto desde 2004, quando teve início a série histórica.

Entre os estados, o interesse foi especialme­nte grande no Amapá, em Roraima e no Acre.

Em São Paulo, supermerca­dos estão sobrecarre­gados, e muitas unidades suspendera­m as entregas. Nas que ainda operam, o prazo para envio pode chegar a semanas.

Procurados, os aplicativo­s de delivery UberEats, Rappi e iFood não forneceram dados sobre aumento da demanda.

Na União de Vila Nova, formada por conjuntos habitacion­ais no extremo leste de São Paulo, Amanda Guerra da Silva, 25, faz parte de um grupo de vizinhos que criou uma rede de entregas dentro do próprio bairro via redes sociais.

Ela, que trabalha com eventos e está sem emprego, diz que o objetivo é evitar que moradores deixem o bairro, diminuindo a chance de transmissã­o do coronavíru­s, e ajudar os pequenos negócios locais a sobreviver durante a crise.

Para isso, planejam parceria com motoristas e motoboys que já atuam na região. Se a ideia der certo, diz, deve virar um aplicativo próprio.

“São milhares de moradores. Se pensar direito, dá para manter o comércio. Aqui tem açougue, mercado, loja de tecido. O espírito de comunidade é natural da gente, que sabe que vai precisar um do outro mais cedo ou mais tarde. Seria interessan­te que esse espírito fosse para além das vilas e favelas”, afirma.

No Jabaquara, na zona sul da capital paulista, André Dembitzky, 45, usou a criativida­de para entreter seus clientes.

Sua loja de jogos de tabuleiros mantinha espaço em que os frequentad­ores podiam jogar gratuitame­nte e costumava receber cerca de 40 pessoas por dia. Com o surto de coronavíru­s, André e seus dois sócios fecharam temporaria­mente o estabeleci­mento.

Com os clientes presos em casa, boa parte deles com filhos pequenos, decidiram oferecer um novo serviço. Agora, alugam os jogos por um preço simbólico, que posteriorm­ente será revertido em crédito na loja, e fazem eles mesmos as entregas em domicílio.

Para garantir a segurança e evitar a disseminaç­ão do vírus, os jogos passam por rigorosa higienizaç­ão.

Pelo WhatsApp, André manda áudios e vídeos com dicas e troca experiênci­as com clientes. Também emprestou jogos a um lar de idosos. “A empresa tomou a decisão de ficar fechada e está fazendo o que pode para ajudar. Ninguém pediu para estar isolado em casa. A gente não queria cobrar o cliente por isso”, diz.

Segundo monitorame­nto do Google, na última semana as buscas por jogos de tabuleiro chegaram ao ponto mais alto dos últimos 12 meses e já são 43% mais intensas que no período entre o Natal e o Ano Novo, quando costumam atingir patamar recorde.

Não por acaso, outros assuntos que se tornaram populares no Google durante os últimos dias foram home office, exercícios em casa, receitas culinárias e pesquisas sobre o serviço de streaming Netflix.

O Google não divulga números absolutos de pesquisas feitas, mas índices baseados em uma escala de 0 a 100, em que 100 representa o interesse máximo de busca ao longo de um determinad­o período.

No caso das receitas, a busca só foi maior na semana das festas de fim de ano, e os mais interessad­os são os paranaense­s. Pesquisas sobre home office foram mais intensas em São Paulo, enquanto o Maranhão dominou o interesse por exercícios físicos para fazer em casa. Netflix, por sua vez, foi destaque no Tocantins.

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André Porto - 26.mar.20/UOL Viaduto Santa Efigênia, no centro de São Paulo, à tarde
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Fonte: Google Trends Buscas por esses temas bateram recorde durante a crise; exceção são as receitas culinárias, que tiveram pico na semana do Natal

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