Escolas antecipam férias, dão desconto e negociam aluguel
Saída de alunos começa a ocorrer de forma tímida em berçários e pré-escolas
são paulo e rio de janeiro Com aulas suspensas e sem previsão de volta até o momento, escolas de educação infantil privadas têm recorrido a medidas como antecipação de férias, desconto na mensalidade e renegociação de aluguel para manter as atividades.
A situação é particularmente delicada no caso dos berçários, uma vez a escolarização, por lei, só é obrigatória a partir dos quatro anos de idade.
Escolas ouvidas pela Folha relatam que alguns pais já as procuraram pedindo o cancelamento da matrícula. O número ainda é bastante minoritário no universo de alunos, mas o temor é que aumente diante de um período maior de suspensão das aulas.
A pressão dos pais por desconto também é crescente, e ele tem sido concedido em algumas unidades, seja de forma geral, seja caso a caso, para famílias mais afetadas pela paralisação da economia.
Em regra, a maioria já cortou a cobrança de taxas como as de refeição, muitas fizeram o mesmo com taxas de cursos extras, e algumas já repassaram aos pais boletos com valores menores, prevendo já a economia com água e luz. Outras estudam fazer o mesmo.
O percentual de desconto com esses itens, no entanto, não costuma chegar a 10% da mensalidade. Isso porque diretores de escola são unânimes em afirmar que o que mais pesa no orçamento são folha de pagamento e aluguel, despesas por ora mantidas.
Para tentar reduzi-las sem demitir, muitas unidades têm negociado com proprietários dos imóveis um desconto.
É a opção tomada, por exemplo, pela Diko Pataka, no Brooklin (zona sul de SP), que também antecipou as férias de julho dos funcionários, tirou as despesas com cursos extras dos boletos de abril e negocia caso a caso com pais.
A mantenedora, Sílvia Helena Stellato, conta que houve alguma perda de alunos, mas muito pequena, concentrada no berçário e mais por temor dos pais de que os pequenos peguem doenças.
A margem de manobra é no orçamento de escolas de pequeno e médio porte, porém, é pequena. Com unidades na zona norte, a Projeto Vida perdeu oito alunos. Como são mais de 300, a saída não chegou a ter grande impacto financeiro —por enquanto. “A gente morre de medo de isso aumentar”, diz a mantenedora e diretora de educação infantil, Mônica Pedroni.
Ela conta que contas como as de água, luz e telefone não chegam a 1% das despesas mensais. O maior volume é destinado à folha de pagamento e aluguel. Por isso, ela tenta negociar o valor da locação e contratos com outros fornecedores, além de já prever redução das saídas pedagógicas e do investimento em formação dos professores.
Também no interior o peso de aluguéis e folha de pagamento é preponderante.
Segundo Maria de Fátima Pupo, diretora da Escola Infantil Girassol, de Jaú (SP), muitos pais têm pedido desconto por entender que o ensino remoto que está sendo oferecido não conta como dia letivo. Medida provisória editada pelo governo federal nesta semana, no entanto, permite que atividades a distância sejam computadas em toda a educação básica.
A exemplo do que já haviam feito conselhos estaduais de Educação, como o de São Paulo, a medida provisória também dispensa as escolas de cumprir os 200 dias letivos previstos na legislação.
A decisão de dar um desconto generalizado gerou uma reação que surpreendeu a direção da escola Pedrita, no Limão (zona norte de SP). A escola anunciou desconto proporcional aos gastos com luz, água e alimentação —cerca de 8% no caso do período parcial.
Com duas filhas matriculadas, Tatiana Fuoco, 35, abriu mão da dedução. Ela explica: “Sou funcionária de uma concessionária de energia. Meu marido trabalha com TI [tecnologia de informação]. Estamos em plena atividade. Se a escola não me der o desconto, será que não vai gerar um caixa que permitirá desconto maior a famílias que tiveram a renda impactada?” A reflexão recebeu apoio de outros pais.
No Rio, algumas escolas também decidiram por dar descontos. A Escola Eleva, com unidades na Barra da Tijuca e em Botafogo, vai abater 12% nas mensalidades a partir de abril. A Escola Parque, em que as mensalidades giram em torno de R$ 3.000 no ensino fundamental, está dando um desconto de 15% e os valores do contraturno para aqueles que frequentavam o período integral não estão sendo cobrados.
O colégio Sarah Dawsey, com unidades na Barra da Tijuca, Ipanema e na Tijuca, na zona norte, com mensalidades em torno dos R$ 2.800, dará descontos a partir de 20%.
Advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Igor Marchetti explica que os pais em todo o país podem demandar a planilha de custos da escola para discutir a possibilidade de desconto. Ele afirma que cancelamento de matrícula sem multa, no entanto, só é possível se houver falha na prestação do serviço ou se não forem dadas orientações sobre reorganização de aulas.