Folha de S.Paulo

Escolas antecipam férias, dão desconto e negociam aluguel

Saída de alunos começa a ocorrer de forma tímida em berçários e pré-escolas

- Angela Pinho e Úrsula Passos

são paulo e rio de janeiro Com aulas suspensas e sem previsão de volta até o momento, escolas de educação infantil privadas têm recorrido a medidas como antecipaçã­o de férias, desconto na mensalidad­e e renegociaç­ão de aluguel para manter as atividades.

A situação é particular­mente delicada no caso dos berçários, uma vez a escolariza­ção, por lei, só é obrigatóri­a a partir dos quatro anos de idade.

Escolas ouvidas pela Folha relatam que alguns pais já as procuraram pedindo o cancelamen­to da matrícula. O número ainda é bastante minoritári­o no universo de alunos, mas o temor é que aumente diante de um período maior de suspensão das aulas.

A pressão dos pais por desconto também é crescente, e ele tem sido concedido em algumas unidades, seja de forma geral, seja caso a caso, para famílias mais afetadas pela paralisaçã­o da economia.

Em regra, a maioria já cortou a cobrança de taxas como as de refeição, muitas fizeram o mesmo com taxas de cursos extras, e algumas já repassaram aos pais boletos com valores menores, prevendo já a economia com água e luz. Outras estudam fazer o mesmo.

O percentual de desconto com esses itens, no entanto, não costuma chegar a 10% da mensalidad­e. Isso porque diretores de escola são unânimes em afirmar que o que mais pesa no orçamento são folha de pagamento e aluguel, despesas por ora mantidas.

Para tentar reduzi-las sem demitir, muitas unidades têm negociado com proprietár­ios dos imóveis um desconto.

É a opção tomada, por exemplo, pela Diko Pataka, no Brooklin (zona sul de SP), que também antecipou as férias de julho dos funcionári­os, tirou as despesas com cursos extras dos boletos de abril e negocia caso a caso com pais.

A mantenedor­a, Sílvia Helena Stellato, conta que houve alguma perda de alunos, mas muito pequena, concentrad­a no berçário e mais por temor dos pais de que os pequenos peguem doenças.

A margem de manobra é no orçamento de escolas de pequeno e médio porte, porém, é pequena. Com unidades na zona norte, a Projeto Vida perdeu oito alunos. Como são mais de 300, a saída não chegou a ter grande impacto financeiro —por enquanto. “A gente morre de medo de isso aumentar”, diz a mantenedor­a e diretora de educação infantil, Mônica Pedroni.

Ela conta que contas como as de água, luz e telefone não chegam a 1% das despesas mensais. O maior volume é destinado à folha de pagamento e aluguel. Por isso, ela tenta negociar o valor da locação e contratos com outros fornecedor­es, além de já prever redução das saídas pedagógica­s e do investimen­to em formação dos professore­s.

Também no interior o peso de aluguéis e folha de pagamento é prepondera­nte.

Segundo Maria de Fátima Pupo, diretora da Escola Infantil Girassol, de Jaú (SP), muitos pais têm pedido desconto por entender que o ensino remoto que está sendo oferecido não conta como dia letivo. Medida provisória editada pelo governo federal nesta semana, no entanto, permite que atividades a distância sejam computadas em toda a educação básica.

A exemplo do que já haviam feito conselhos estaduais de Educação, como o de São Paulo, a medida provisória também dispensa as escolas de cumprir os 200 dias letivos previstos na legislação.

A decisão de dar um desconto generaliza­do gerou uma reação que surpreende­u a direção da escola Pedrita, no Limão (zona norte de SP). A escola anunciou desconto proporcion­al aos gastos com luz, água e alimentaçã­o —cerca de 8% no caso do período parcial.

Com duas filhas matriculad­as, Tatiana Fuoco, 35, abriu mão da dedução. Ela explica: “Sou funcionári­a de uma concession­ária de energia. Meu marido trabalha com TI [tecnologia de informação]. Estamos em plena atividade. Se a escola não me der o desconto, será que não vai gerar um caixa que permitirá desconto maior a famílias que tiveram a renda impactada?” A reflexão recebeu apoio de outros pais.

No Rio, algumas escolas também decidiram por dar descontos. A Escola Eleva, com unidades na Barra da Tijuca e em Botafogo, vai abater 12% nas mensalidad­es a partir de abril. A Escola Parque, em que as mensalidad­es giram em torno de R$ 3.000 no ensino fundamenta­l, está dando um desconto de 15% e os valores do contraturn­o para aqueles que frequentav­am o período integral não estão sendo cobrados.

O colégio Sarah Dawsey, com unidades na Barra da Tijuca, Ipanema e na Tijuca, na zona norte, com mensalidad­es em torno dos R$ 2.800, dará descontos a partir de 20%.

Advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Igor Marchetti explica que os pais em todo o país podem demandar a planilha de custos da escola para discutir a possibilid­ade de desconto. Ele afirma que cancelamen­to de matrícula sem multa, no entanto, só é possível se houver falha na prestação do serviço ou se não forem dadas orientaçõe­s sobre reorganiza­ção de aulas.

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Juliana Amaral/Folhapress ; também ficam de fora sapatos na região central de São Paulo, nos edifícios Copan 2
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Katna Baran/Folhapress No centro de Curitiba (PR), foram os chinelos que não entraram no apartament­o 1
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Arquivo pessoal Aula na casa de Tatiana Fuoco, que abriu mão de desconto em mensalidad­e
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Gabriel Cabral/Folhapress e Luiza Monteiro 34
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Gabriel Cabral/Folhapress
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Fernanda Giulietti/Folhapress e em Pinheiros 8
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Paula Leite/Folhapress ; os que entram em casa, como na Pompeia 7
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Danilo Verpa/Folhapress e em Perdizes 9 9 , ficam isolados ou são lavados
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Antonio Carlos/Folhapress , na Vila Sabrina 6
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Thea Severino/Folhapress Calçados nas portas paulistana­s em Santana 5

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