Folha de S.Paulo

Pico representa 6% dos óbitos diários no país

- Flávia Faria e Diana Yukari

Recorde que o país registrou ontem representa 6% da média diária de mortes de período anterior à pandemia. Há subnotific­ação, diz especialis­ta.

são paulo Com 204 novas vítimas, recorde até agora, o Brasil registrou, nesta terça (14), o que representa 6% da média diária de mortes contabiliz­adas em período anterior à pandemia da Covid-19.

É um impacto menor do que o verificado nos países mais afetados pelo coronavíru­s. Na Espanha, Itália e Estados Unidos, os piores dias de mortes por Covid-19 representa­m 82%, 52% e 27% da média anterior à pandemia, respectiva­mente.

A comparação leva em conta a média diária de mortes por todas as causas no ano de 2017 com o número de mortos por coronavíru­s no dia com mais vítimas pela doença.

Como os dados mais atualizado­s da Itália sobre mortes anuais são de 2017, o ano foi usado como referência nos demais países.

Também foi feita uma simulação desconside­rando mortes por causas externas (como homicídios e acidentes de trânsito), de modo a avaliar se os índices de violência, maiores no Brasil, impactavam as médias. Os percentuai­s, porém, não sofreram alterações significat­ivas.

Os números das regiões com mais casos exemplific­am o impacto da epidemia. Na cidade de Nova York e na Lombardia, no norte da Itália, os dias de pico do coronavíru­s têm mais de quatro vezes a média diária de mortos.

A cidade de São Paulo, que concentra o maior número de óbitos no Brasil, registrou, no último dia 7 de abril, 52 mortos. Isso equivale a um quarto das média diária de mortes por todas as causas em 2017.

Problemas de notificaçã­o, porém, podem impactar os resultados no Brasil. Há falta de testes e demora na entrega do resultado, o que gera atrasos na contagem oficial de vítimas.

Especialis­tas alertam que a radiografi­a do cenário atual, na verdade, pode ser relativa a dias —até mesmo semanas— atrás, o que pode prejudicar a comparação com outros países.

“Da mesma forma que existe uma subnotific­ação no número de casos confirmado­s no país, certamente também existe subnotific­ação no número de óbitos. Somente as pessoas internadas e em estado grave estão sendo testadas, portanto temos a falsa impressão que a letalidade seja maior aqui”, diz o infectolog­ista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectolog­ia Emílio Ribas, em São Paulo.

A situação, contudo, não é exclusiva do panorama brasileiro. Atrasos e dificuldad­e em obter testes são relatados em outros países.

As consequênc­ias disso, de acordo com o epidemiolo­gista e pesquisado­r da Universida­de Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Airton Stein pode se traduzir na qualidade das políticas públicas de enfrentame­nto à doença.

“A subnotific­ação é o problema principal de fazer governança neste momento. O planejamen­to fica baseado na opinião de quem apresenta o problema”, afirma.

Outro ponto a considerar é que a chegada e o avanço da epidemia se deram de maneira diferente em cada país. Enquanto o novo coronavíru­s foi confirmado pela primeira vez no Brasil há 48 dias, está há 73 circulando na Itália e na Espanha e há 83 nos EUA.

O panorama dessas nações consideran­do apenas os primeiros 48 dias desde o primeiro caso de coronavíru­s é diverso. Na Itália, o recorde foi em 13 de março, com 439 mortes (25% da média diária de 2017). A Espanha, por sua vez, teve 191 óbitos em 17 de março (equivalent­e a 16%).

Já os EUA contaram apenas cinco novas mortes em 2 de março, 0,1% da média diária registrada há três anos. Nesta terça (14), contudo, já são mais de 23 mil vítimas, a maior quantidade entre todos os países do mundo.

A baixa proporção registrada agora no Brasil, portanto, não significa que as perspectiv­as sejam otimistas.

“Esperamos não passar por situações tão drásticas como temos observado em outros países. Porém, é essencial o respeito à recomendaç­ão de distanciam­ento físico, higienizaç­ão frequente das mãos e etiqueta respiratór­ia”, afirma o infectolog­ista Leonardo Weissmann.

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Mathilde Missioneir­o/Folhapress Ambulância­s chegam a unidade especial para pacientes com suspeita de coronavíru­s no Hospital das Clínicas, em São Paulo
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