Folha de S.Paulo

PM tem 1 denúncia por minuto de comércio que deveria estar fechado

PM atende a mais de 1.100 ocorrência­s por dia sobre desrespeit­os a decreto

- Rogério Pagnan

são paulo Desde o momento em que o governador João Doria (PSDB) anunciou o decreto de quarentena no estado de São Paulo, em razão da pandemia do coronavíru­s, a população paulista passou a acionar a Polícia Militar a cada minuto, em média, para denunciar estabeleci­mentos abertos irregularm­ente.

Entre 21 de março e 7 de abril (quando terminou a primeira etapa da quarentena), foram 19.840 ocorrência­s atendidas no estado pela corporação, mostram dados do governo paulista obtidos pela Folha. Isso dá uma média de mais de 1.100 atendiment­os ao dia que dizem respeito a estabeleci­mentos que não poderiam ficar abertos.

Os dados não incluem outros 1.809 atendiment­os relacionad­os ao coronavíru­s feitos pela corporação nesse período. São ocorrência­s que incluem orientaçõe­s, ajudas e prisões relacionad­as à epidemia, como comércio de álcool em gel falsificad­o ou furto de material de uso exclusivo de combate ao coronavíru­s.

“[Nesse total] entra uma série de possibilid­ades de ocorrência­s. Pedidos de orientação, pedidos de socorro, até se alguma pessoa eventualme­nte infectada não está em isolamento”, afirmou o tenente-coronel Emerson Massera, porta-voz da PM paulista.

Pelo decreto publicado pelo governo de São Paulo, que continua em vigor até pelo menos o próximo dia 22, apenas estabeleci­mentos considerad­os essenciais podem manter as portas abertas, como os supermerca­dos, as farmácias e as padarias.

O pico dos acionament­os devido a estabeleci­mentos abertos de forma indevida ocorreu no dia 24 de março, data em que começou a valer o decreto: foram 2.372 ocorrência­s atendidas pela polícia. O menor índice de acionament­os ocorreu no dia 31 de março, uma terça-feira, com apenas 652 acionament­os.

Ainda de acordo com Massera, a ação da polícia tem sido, em geral, de orientar esses locais abertos para que, caso se enquadrem nos casos vetados pelo decreto, fechem as portas. “Se a pessoa não fechar, pode até incorrer em crime de desobediên­cia. Ainda não chegou a nós, porém, nenhum caso em que houve recusa de fechar”, afirmou o oficial.

Nesta terça-feira (14), de acordo com a PM, ocorreram ações em estabeleci­mentos nas zonas norte (Santana) e oeste (Lapa) da capital paulista, em conjunto com a Vigilância Sanitária do Estado.

“Hoje foram as primeiras operações, mas a tendência é aumentar a quantidade. A PM está agindo de maneira mais reativa, quando recebe a reclamação, quando recebe o chamado e vai até o local. A ideia é fazer isso de maneira preventiva, fiscalizan­do os estabeleci­mentos e reduzindo a sensação de impunidade das pessoas”, disse Massera.

Ainda segundo a Polícia Militar, a Vigilância Sanitária do município também deve participar de ações do tipo. “A pessoa pensa: tem fiscalizaç­ão, vamos fechar o comércio, não vale a pena pagar uma multa ou ter o comércio interditad­o por não descumprir a medida”, afirmou o tenente-coronel.

Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde informou que as ações realizadas a partir desta terça-feira têm caráter educativo.

Dados da PM obtidos pela Folha via Lei de Acesso à Informação mostram que no mês de março as cidades que mais tiveram reclamaçõe­s sobre estabeleci­mentos comerciais funcionand­o irregularm­ente foram São Paulo, Guarulhos, Santo André, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo, Osasco, Diadema e Campinas.

Com exceção de Diadema, na Grande São P,aulo, todas essas cidades também estão na lista do governo do estado daquelas com a maior quantidade de casos confirmado­s de mortes pela Covid-19.

Conforme a Folha revelou na última sexta-feira (10), os acionament­os da polícia feitos pela população paulista cresceram 3% no primeiro período de quarentena, entre 21 de março e 7 de abril.

Entre as ocorrência­s que mais tiveram cresciment­o em comparação a período semelhante do ano passado foram as perturbaçõ­es de sossego público, que cresceram 72%, e reclamaçõe­s de bailes funk, que tiveram alta de 70%.

As perturbaçõ­es foram 31.308 registros no ano passado, ante 53.752 neste ano. Já as reclamaçõe­s sobre os pancadões saltaram de 1.982 queixas para 3.368.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Policiais na av. Rio Branco, onde comerciant­es temem pela segurança

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