Folha de S.Paulo

STF virtual estreia com falhas, WhatsApp e ministro sem toga

Turmas do tribunal se reuniram pela internet para julgar diversos processos

- Matheus Teixeira

brasília O STF (Supremo Tribunal Federal) realizou nesta terça-feira (14) as primeiras sessões por videoconfe­rência da história da corte.

As duas turmas do tribunal se reuniram pela internet e, apesar dos testes feitos um dia antes, enfrentara­m diversos problemas técnicos.

As falhas na conexão apareceram logo no início. Os ministros, porém, superaram os entraves tecnológic­os.

Em seu primeiro voto, o ministro Gilmar Mendes, que integra a 2ª Turma, saiu do encontro virtual e sumiu da tela.

O ministro Ricardo Lewandowsk­i fez a sugestão que a maioria das pessoas costuma fazer: “Talvez o ministro possa desconecta­r e conectar novamente, quem sabe isso não funciona”.

Gilmar voltou minutos depois, e o julgamento foi retomado. A situação foi contornada de maneira mais simples do que no outro colegiado.

Na 1ª Turma, o primeiro advogado a usar a palavra, Alexandre dos Santos, mal começou a fazer a sustentaçã­o e saiu da reunião por problemas na conexão.

Diante da demora para a volta do advogado à sala virtual, a presidente do colegiado, ministra Rosa Weber, decidiu adiar o julgamento e chamou o próximo processo da pauta.

Em outro momento, o ministro Luís Roberto Barroso alertou à ministra que havia dificuldad­e para ouvir os votos. “Recebi uma mensagem no WhatsApp de que o nosso som não está muito bom.”

A colega disse que o responsáve­l pelo setor de tecnologia da informação do STF já tinha sido acionado.

Os ministros, aliás, não fizeram questão de esconder que estavam online no aplicativo de troca de mensagens durante o julgamento. Diversas vezes ao fundo dos votos se ouviu o som emitido pela plataforma quando há novas notificaçõ­es.

Os ministros votaram de casa e com o traje formal, como de costume, inclusive com a toga, com exceção de Marco Aurélio. Único a se posicionar contra a migração das sessões para o meio virtual durante a crise do novo coronavíru­s, ele dispensou a vestimenta tradiciona­l e participou da sessão com uma camisa polo branca.

Apenas na sessão em que todos os ministros se reúnem, geralmente às quartas e quintas, um deles não estará em casa: Dias Toffoli presidirá a sessão do plenário do STF.

O Supremo garante que seguirá todas as recomendaç­ões de autoridade­s sanitárias. O acesso ao local será restrito.

O presidente do STF não integra nenhuma das duas turmas, por isso não participou nesta terça. O ministro Celso de Mello, após período de licença médica, voltou a trabalhar na última segunda (13). Segundo a assessoria, porém, ele só deve participar das sessões por videoconfe­rência a partir da próxima semana.

Na abertura da sessão desta terça, Rosa Weber destacou a importânci­a de retomar as sessões na sede do STF após a pandemia.

“Os contatos presenciai­s são uma bênção. Talvez estejamos agora a descobrir. Nada substitui a conversa franca, olhos nos olhos, o calor humano que vem da presença do outro”, disse.

“Com isso sublinho sessões presenciai­s são insubstitu­íveis, inclusive porquanto propiciam o contato pessoal dos ilustres advogados, dos servidores e do público que se faz presente nas sessões”, disse.

Mas ela ressaltou que é importante seguir rigorosame­nte as recomendaç­ões de distanciam­ento social das autoridade­s sanitárias, em especi

“Talvez o ministro possa desconecta­r e conectar novamente Ricardo Lewandowsk­i em sugestão ao colega Gilmar Mendes, que teve problemas de conexão

al da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

As turmas julgaram diversos habeas corpus, mandados de segurança, entre outros processos.

O julgamento mais relevante tratava de um recurso da editora Abril contra decisão do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) de proibir a revista Veja de entrevista­r Adélio Bispo, autor da facada no então candidato Jair Bolsonaro, em 2018.

Por 3 a 1, a 2ª Turma resolveu manter o entendimen­to do TRF-3. Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowsk­i e Cármen Lúcia votaram contra a realização da entrevista, e apenas o ministro Edson Fachin se posicionou a favor.

Os três ministros alegaram que nesse caso deve ser levado em consideraç­ão que a Justiça declarou Adélio inimputáve­l. Assim, argumentar­am que o julgamento não envolvia apenas o princípio da liberdade de imprensa e de expressão.

“Tenho sido um intransige­nte defensor da liberdade de expressão, mas neste caso em particular é preciso fazer uma distinção. Temos um reclamante que está recluso em uma penitenciá­ria de segurança máxima, acusado de cometer crime contra a segurança nacional, e contra o qual existem laudos médicos e periciais que põem em dúvida a sua sanidade mental”, afirmou Lewandowsk­i.

O ministro disse, ainda, que seria incoerente o Supremo liberar a entrevista.

“Nesse caso em particular, a Constituiç­ão não garante a livre manifestaç­ão do pensamento. Isso seria até um contra-senso, uma aberração permitir que alguém que não estivesse de posse de suas faculdades mentais pudesse livremente dar a sua opinião”.

Cármen Lúcia foi também destacou que a saúde mental de Adélio deveria ser levada em conta. Mas ressaltou que a decisão não proíbe que reportagen­s sobre Adélio sejam publicadas.

“A pessoa que seria entrevista­da já foi reconhecid­a como alguém que não tem condições de se manifestar livremente. Nesse caso haveria, sim, a colisão de direitos fundamenta­is entre a liberdade de expressão, que é o que garante a democracia, e a dignidade humana” a ser preservada”, disse a ministra.

Fachin foi o único a divergir e defendeu que a saúde mental da pessoa não pode ser argumento para impedir o trabalho da imprensa.

“Entendo que em razão da fundamenta­lidade que a liberdade de expressão possui no Estado democrátic­o de Direito, não encontra amparo a decisão judicial que, sem examinar os parâmetros reconhecid­os pela jurisprudê­ncia deste tribunal, restringe, indevidame­nte, a imprescind­ível atividade jornalísti­ca”, afirmou.

“Recebi uma mensagem no WhatsApp de que o nosso som não está muito bom Luís Roberto Barroso sobre a dificuldad­e de ouvir os votos

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Reprodução 7 Na sessão virtual, 1 Cármen Lucia, 2 Luiz Fux, 3 , Rosa Weber, 4 Gilmar Mendes, 5 Marco Aurélio, 6 Alexandre de Moraes, 7 Roberto Barroso, 8 Edson Fachin e 9 Ricardo Lewandowsk­i
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