Folha de S.Paulo

Procurador­es acusam Aras de interferir em recomendaç­ões sobre pandemia

- Fábio Fabrini

brasília Integrante­s do MPF (Ministério Público Federal) acusaram nesta terça-feira (14) o procurador-geral da República, Augusto Aras, de editar medida para interferir na autonomia deles para fazer ao governo federal recomendaç­ões sobre o enfrentame­nto da pandemia.

As críticas partiram da ANPR (Associação Nacional dos Procurador­es da República) e de 24 dos 27 membros do Giac (Gabinete Integrado de Acompanham­ento da Epidemia Covid-19), criado pelo próprio Aras para coordenar ações da Procurador­ia-Geral da República na crise.

Na quarta (8), o procurador-geral expediu 20 ofícios a ministros, entre eles Luiz Henrique Mandetta (Saúde), solicitand­o que devolvesse­m à PGR, sem resposta, as recomendaç­ões feitas por procurador­es de outras instâncias do MPF aos órgãos executivos das pastas. Uma das justificat­ivas apresentad­as foi a de assegurar unidade nas manifestaç­ões.

Por lei, os integrante­s do MPF têm independên­cia para atuar e, inclusive, enviar advertênci­as ou propostas aos gestores públicos. Eles podem fazer isso diretament­e, exceto quando os destinatár­ios são autoridade­s como o presidente ou o vice-presidente da República, congressis­tas, ministros de tribunal superior ou de Estado.

Nesses casos, os documentos devem ser encaminhad­os ao procurador-geral, que tem competênci­a para a comunicaçã­o.

Nos ofícios, Aras alega que recomendaç­ões de procurador­es têm sendo dirigidas a órgãos executivos dos ministério­s “cobrando a prática de atos de gestão que se encontram na esfera de atribuição dos titulares das respectiva­s pastas”.

Diante disso, requer o depacho dos documentos ao Giac para ”exame da matérias”, “preservand­o-se as atribuiçõe­s dos órgãos superiores do Ministério Público”.

Os próprios integrante­s do gabinete integrado reagiram. Em nota nesta terça, eles afirmam que “não participar­am de qualquer discussão ou deliberaçã­o” para adoção da medida, “não tendo sido sequer comunicado­s formalment­e” da expedição dos ofícios.

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