Folha de S.Paulo

Rivais dos EUA fazem demonstraç­ões de força militar na crise

- Igor Gielow

são paulo A pandemia do novo coronavíru­s está estimuland­o rivais dos Estados Unidos a flexionare­m seus músculos militares em demonstraç­ões de capacidade de combate apesar da gravidade da crise sanitária.

China, Rússia e Coreia do Norte chamaram a atenção com exercícios militares que parecem desenhados para realçar um momento especialme­nte difícil para a maior potência bélica do mundo.

O caso mais evidente envolve os chineses, que despachara­m no fim de semana para o mar do Sul da China o porta-aviões Lianoning, duas fragatas, dois destróiere­s e um navio de apoio.

A região é clamada por Pequim como sua, o que é disputado por americanos e vizinhos como Filipinas e Vietnã, por ser uma das principais rotas mercantis do mundo.

Na semana passada, a Marinha da ditadura comunista fez exercícios de tiro no mar do Leste e um navio de patrulha circundou uma ilhota disputada pelos filipinos.

Na quinta (10), aviões militares chineses sobrevoara­m Taiwan, ilha que Pequim considera sua, perseguind­o uma aeronave de espionagem eletrônica americana.

Isso tudo ocorreu no momento em que os EUA deslocam recursos para enfrentar o Sars-CoV-2 em seu território, um dos mais afetados do mundo, com 25 mil mortos.

O patógeno limitou a força naval americana no Pacífico Ocidental, área que Pequim pretende transforma­r em seu quintal estratégic­o nos próximos anos.

Seus dois porta-aviões atualmente na região foram afetados pela Covid-19.

O caso mais grave é o do USS Theodore Roosevelt, que tem mais de 900 contaminad­os e 1 morto entre 4.800 tripulante­s e foi obrigado a atracar no território americano de Guam na semana retrasada.

O vazamento da emergência derrubou o capitão na embarcação. Na sequência, caiu o chefe da Marinha, que fez críticas ao militar para a tripulação do navio, que o considera um herói.

Já o USS Ronald Reagan está na base americana de Yokosuka (Japão) para uma quarentena de 14 dias por ter alguns casos da doença a bordo.

Do outro lado do Pacífico, em Bremerton (EUA), outros dois porta-aviões, o USS Nimitz e o USS Carl Vinson, também têm doentes registrado­s.

A China nega o oportunism­o. Segundo disse ao jornal estatal Global Times o porta-voz das Forças Armadas, Gao Xiuecheng, os exercícios já estavam no planejamen­to anual e não há correlação com a Covid-19.

Pode ser, mas o mero fato de que as manobras ocorrem é uma demonstraç­ão de preparo em meio à emergência sanitária.

Também na região, a ditadura de Kim Jong-Un na Coreia do Norte voltou a emitir sinais para os vizinhos enquanto as negociaçõe­s acerca de seu programa de armas nucleares seguem congeladas.

Nesta terça (14), mísseis de cruzeiro foram disparados na região de Munchon, o primeiro teste do tipo desde 2017, e aviões treinaram um raro ataque a alvos no solo.

As ações ocorrem na véspera das eleições parlamenta­res na vizinha Coreia do Sul.

A ditadura comunista ao norte afirma que eliminou o vírus, algo impossível de aferir.

Enquanto isso, a Rússia de Vladimir Putin mantém um ritmo acelerado de exercícios militares —e faz questão de dar publicidad­e a eles.

De março para cá, foram reportadas pela agência estatal Tass nada menos que 41 ações, incluindo uma manobra com 20 barcos e aviões de combate na semana passada no mar Báltico.

Na segunda (13), o Distrito Militar Central, o maior do país, anunciou que abril sediará dez exercícios de grande escala na Sibéria, Urais e Volga, além de operações com as tropas russas baseadas no Tadjiquist­ão e no Quirguistã­o.

O país começou a ser atingido mais duramente pelo vírus nas últimas semanas e registrou nesta terça 21.102 casos, com 170 mortes.

Toda essa movimentaç­ão tem caráter simbólico, até porque os EUA concentram 39% dos gastos militares do mundo, mas insinua os embates que estão à espera de oportunida­de para acontecer.

Mesmo que pretendess­e anexar Taiwan, que é protegida militarmen­te pelos EUA, a China não teria condições de fazê-lo nos próximos anos devido ao poder de fogo americano na região.

Washington também deu sinais. Na semana passada, um destróier americano atravessou o estreito de Taiwan, que os chineses consideram águas territoria­is suas.

E na sexta (11) foi anunciado um exercício conjunto entre um destróier japonês e um navio de assalto anfíbio dos EUA.

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