UE cria ‘roteiro’ para reabertura com 3 critérios científicos
Modelo levará em conta evolução das transmissões, capacidade do sistema e acompanhamento de novos casos
bruxelas Três critérios técnicos devem guiar os governos europeus na decisão de relaxar as quarentenas impostas contra o coronavírus, segundo documento que será apresentado nesta quarta (15) pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
São eles: a evolução das transmissões, a capacidade do sistema de saúde e a capacidade de acompanhar novos casos. O texto “Um roteiro europeu para levantar medidas de contenção da Covid-19”, obtido pela Folha, detalha princípios que devem orientar as retomadas e sugere medidas de acompanhamento.
Até esta terça (14), dez países do continente haviam anunciado planos para relaxar as quarentenas; cinco já retomaram algumas atividades: Eslováquia, República Tcheca, Áustria, Itália e Espanha.
A Dinamarca reabre escolas na quarta, e Noruega, França, Bélgica e Polônia também querem aliviar o confinamento.
A decisão sobre quem, como e quando voltar à vida anterior à pandemia é de cada governo, diz a Comissão Europeia. O objetivo do “roteiro” é garantir que as decisões sejam coordenadas, para que países não se prejudiquem entre si.
No primeiro critério, os governos devem estar seguros de que a propagação do coronavírus diminuiu significativamente por um período de tempo sustentado. Isso pode ser indicado por uma redução duradoura no número de novos casos e de internações.
O segundo ponto deve ser medido pela taxa de ocupação de UTIs, o número de leitos disponíveis, o acesso a produtos farmacêuticos usados em casos críticos para os quais possa haver escassez (como antibióticos e medicamentos para reanimação) e o estoque de equipamentos.
Também deve ser verificado se há profissionais de saúde em quantidade suficiente, com capacidade de atuar (protegidos de infecção ou recuperados) e treinados para emergências respiratórias.
Esse critério é essencial, segundo a Comissão, porque garante que as equipes possam responder não só a um repique de infecções como a um aumento de procura de casos adiados com a pandemia.
Em terceiro lugar, os governos devem ter desenvolvido capacidade de monitorar a população, incluindo testes em larga escala, rastreamento de contatos de quem for infectado e tratamento dos doentes.
Detecção de anticorpos também é necessária para calcular a parcela da população que já teve contato com o vírus e pode ter adquirido imunidade.
Principalmente nos maiores Estados, os governos devem avaliar esses critérios em nível regional, pois pode haver áreas do país menos preparadas para relaxar as medidas.
Oito estratégias usadas na Europa para relaxar a quarentena
bruxelas “É como andar na corda bamba. Se ficarmos parados, podemos cair. Se formos rápidos demais, aumentamos o risco de dar tudo errado em breve”, disse a primeiraministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, sobre reabrir as escolas primárias no país.
Na corda bamba com a Dinamarca estão outros nove países. Veja aqui oito estratégias adotadas pelos governos para não despencar no caminho.
1. Um passo de cada vez
Restrições que antes eram para todos passam a valer só para alguns. Idosos e doentes, os primeiros a serem proibidos de sair de casa em vários países, devem ser os últimos a voltar às ruas na França.
As atividades também não voltam numa tacada só. A Espanha começou por fábricas, a Itália pelas madeireiras, algumas lojas foram o primeiro passo da Eslováquia.
2. Em time que está ganhando...
Não se mexem em medidas de prevenção, como higiene das mãos e uso de luvas e máscaras. De preferência, elas devem ser reforçadas. A Espanha passou a distribuir máscaras no transporte público.
3. Igual, mas diferente
As instituições reabrem, mas suas estruturas são adaptadas. A França anunciou que reduzirá o tamanho das turmas nas escolas e reescalonará horários. Nos países em que lojas voltaram a funcionar, há um limite de clientes: 1 a cada 20 m², no caso da Áustria.
4. Na cola do vírus
Quanto maior a possibilidade de encontrar e isolar novos casos, mais liberdade pode ser concedida. Áustria, Alemanha, França e Macedônia estão entre os países que desenvolveram apps para rastrear e avisar contatos de quem for contagiado pelo coronavírus.
Em todos, o uso é voluntário.
5. Mão no freio
Os governos disseram que há a possibilidade de acionar um “freio de emergência” para parar ou reverter o relaxamento, se houver repique importante do contágio.
6. Passaporte para a liberdade
Alemanha, Áustria e Reino Unido mantêm a esperança de identificar, com testes de anticorpos, quem está seguro para retornar ao trabalho fora de casa —mas nem todos os doentes que se recuperaram desenvolveram anticorpos e nem todos os testes para anticorpos são confiáveis.
7 - Quarentena inteligente
A ideia é reduzir as restrições, para evitar custos sociais, econômicos e psicológicos do isolamento social e facilitar a retomada. Na Holanda, parte do comércio não essencial continuou aberto, com restrições de higiene e ocupação.
A agência de saúde pública do país lançou um estudo para verificar se já há porcentagem significativa de pessoas expostas ao vírus, o que permitiria uma retomada mais ampla.
8 - A única solução
A descoberta de uma vacina viável é a única forma de voltar ao normal, dizem organizações de saúde. Governos estão redobrando esforços para a conquista, mas ela deve levar mais de um ano.