Folha de S.Paulo

‘Killing Eve’ volta com mais drama psicológic­o, mas sem abandonar o suspense tradiciona­l do seriado

- Roslyn Sulcas Tradução de Paulo Migliacci

the new york times Sandra Oh estava vasculhand­o no meio do lixo jogado numa caçamba e de repente soltou um grito lancinante. “Uau, excelente”, disse o ator Turlough Convery, seu colega de elenco, enquanto a filmagem parava.

Era um dia cinzento no set de “Killing Eve”, um drama de espionagem cuja locação era um edifício de escritório­s em Londres. A cena é parte da terceira temporada da série, e o momento captura a essência do que Oh oferece em seu papel como Eve Polastri, agente excêntrica e passional do serviço de espionagem britânico .

Mas naquele momento, Oh não estava atuando. “Foi genuíno”, disse, com uma expressão de pânico no rosto. “Tinha alguma coisa se mexendo lá!”

O desempenho de Oh, assim como o trabalho que valeu um Emmy a Jody Comer —no papel da assassina Villanelle— são dois dos motivos pelos quais “Kiling Eve” tenha disparado em popularida­de depois de um começo modesto, embora elogiado pela crítica, em 2018. Um terceiro motivo é a criadora da série, Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”), cuja adaptação dos romances de Luke Jennings mistura comédia e suspense, com uma dose decisiva de desejos sombrios e silencioso­s.

Pelo final de sua primeira temporada, a audiência da série tinha dobrado, e “Kiling Eve” conquistou um Globo de Ouro. A segunda temporada trouxe uma nova ascensão, sob o comando de uma nova roteirista chefe, Emerald Fennell, e valeu à série um Emmy e diversos prêmios Bafta.

A série volta sob o comando de Suzanne Heathcote, conhecida por “Fear the Walking Dead”. De novo, os produtores decidiram arriscar e mexer em uma fórmula vencedora.

A série manterá seu sucesso? Conseguirá sustentar sua alquimia única, que fez dela uma das preferidas dos críticos e dos jurados de prêmios televisivo­s? Talvez, como indicou Heathcote, repetição não seja o caminho para isso.

“Sempre existe a questão de como honrar o que veio antes e ao mesmo tempo de como fazer algo novo”, ela disse.

Na primeira temporada, Eve vê sua vida virar de cabeça para baixo em função de sua obsessão pela sedutora Villanelle, que deixa uma trilha de cadáveres por onde passa. Na segunda temporada — atenção: spoilers—, as duas se tornam colaborado­ras na perseguiçã­o a um bilionário.

A abordagem de Heathcote na nova safra, disse, vem sendo “ir mais fundo com as duas personagen­s principais”.

“Houve uma evolução consideráv­el na personagem Eve”, disse Oh, no camarim. “Tínhamos aquela pessoa ingênua sobre o mundo e sobre seu lugar nele. Na terceira temporada, ela está ciente das partes mais sombrias de sua personalid­ade, mas ganhou uma compreensã­o da vida a que aspirava.”

A ênfase na psicologia das personagen­s não significa que os elementos de suspense tenham sido abandonado­s.

Na nova temporada, disse Comer, o passado volta para incomodar Villanelle, que “está tendo de enfrentar seus demônios e suas emoções”.

Oh disse que o ambiente de pandemia a havia levado a pensar nas experiênci­as dos personagen­s sob uma nova luz.

“As personagen­s centrais despertam para uma compreensã­o de sua falta de escolhas. E desta vez é mais fácil nos relacionar­mos a isso por estarmos todos isolados e nos vermos forçados a pensar sobre os sistemas em que vivemos.”

“As personagen­s centrais despertam para uma compreensã­o de sua falta de escolhas. E desta vez é mais fácil nos relacionar­mos a isso por estarmos todos isolados e nos vermos forçados a pensar sobre os sistemas em que vivemos Sandra Oh atriz

Killing Eve

Duas primeiras temporadas disponívei­s no Globoplay

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