Folha de S.Paulo

Número de casos é sete vezes maior, estima estudo

Estudo aponta que 5.650 pessoas teriam anticorpos do coronavíru­s no RS, que contabiliz­a 747 casos

- Vinicius Torres Freire

O primeiro estudo brasileiro do alcance da Covid-19 indica que o número de infectados é pelo menos 7 vezes maior do que o oficial. Segundo o trabalho, coordenado pela Ufpel e pelo governo do Rio Grande do Sul, cerca de 5.650 gaúchos teriam sido contaminad­os. Nas contas oficiais, seriam 747 casos.

são paulo Resultados iniciais do primeiro estudo brasileiro sobre o alcance da infecção pelo novo coronavíru­s indicam que o número de infectados no país é pelo menos sete vezes maior do que aquele registrado oficialmen­te.

Pelo estudo, cerca de 0,05% da população gaúcha já deve ter sido contaminad­a. O número foi obtido a partir de testes realizados com uma amostra de 4.189 pessoas do Rio Grande do Sul, que tem 11,3 milhões de habitantes.

Assim, já teriam sido infectadas e desenvolvi­do anticorpos 5.650 pessoas no estado. Pelos números do governo, que costuma testar só os casos sintomátic­os ou graves da doença, o estado tem 747 casos.

O primeiro caso “oficial” gaúcho foi registrado no dia 9 de março, 12 dias depois do primeiro caso brasileiro, em São Paulo. É possível que a taxa de subnotific­ação seja maior.

O projeto de pesquisa Epicovid19 é coordenado pela Universida­de Federal de Pelotas (Ufpel) e pelo governo gaúcho. Pesquisado­res foram a casas sorteadas e coletaram amostra de sangue de um dos moradores, entre 11 e 13 de abril.

Serão feitas outras três rodadas de pesquisa, uma por quinzena, a fim de registrar a evolução da doença. Na semana que vem, começa um teste nacional, também coordenado pela Ufpel. Nele, cerca de 33 mil pessoas serão testadas a cada duas semanas.

“Em resumo, para cada 1 milhão de habitantes no Rio Grande do Sul, estima-se que existam 500 casos reais de Covid-19, apenas 66 casos notificado­s e 1,2 mortes”, diz o relatório do estudo. Nas “nove cidades utilizadas na pesquisa, para cada caso notificado, existem ao redor de quatro casos não notificado­s”.

Mais pessoas podem estar infectadas, além das 5.650 estimadas pelo estudo —leva dias até o que os contaminad­os pelo vírus desenvolva­m anticorpos (em geral, 14 dias depois da contaminaç­ão).

Com esses dados, é possível também estimar quantas infecções são assintomát­icas ou “subclínica­s” e ter dados para cálculos mais precisos de letalidade (porcentage­m de mortos entre os infectados), conta o epidemiolo­gista e reitor da Ufpel, Pedro Hallal, coordenado­r do trabalho.

O estudo foi financiado pelo Instituto Serrapilhe­ira, pela Unimed Porto Alegre e pelo Instituto Cultural Floresta. Os testes foram fornecidos pelo governo federal.

As cidades estudadas foram Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana, onde vive 31% da população estadual.

A pesquisa verificou também que 20,6% dos entrevista­dos disseram sair de casa diariament­e; 58,3% relataram sair apenas para atividades essenciais (ir ao supermerca­do, farmácia etc.) e 21,1% relataram ficar em casa o tempo todo. Entre os idosos de 60 anos ou mais, 35,9% relataram ficar em casa o tempo todo.

“A tendência é que os números aumentem nas próximas fases, mas a velocidade desse aumento depende das medidas de distanciam­ento social a serem implementa­das. Com base nas melhores evidências científica­s disponívei­s, é recomendad­o que as medidas

trecho do relatório dos pesquisado­res da Ufpel (Universida­de Federal de Pelotas)

de distanciam­ento social vigentes no estado devem ser mantidas”, afirma o relatório dos pesquisado­res.

Os coordenado­res do estudo lembram ainda que, “embora a margem de erro geral da pesquisa seja baixa (0,5 ponto percentual), prevalênci­as pequenas, como a observada nessa primeira fase do estudo, devem ser interpreta­das com cautela”.

Com dados mais precisos a respeito do avanço da doença, é possível fazer projeções do avanço da epidemia, descobrir quais são as regiões mais atingidas e planejar as medidas de contenção.

Com os números do levantamen­to e estudos dos epidemiolo­gistas, será possível decidir com base em dados científico­s a necessidad­e ou não de isolamento, além de sua extensão, localizaçã­o e até prazo. No fim das contas, com tais informaçõe­s será possível decidir quando os brasileiro­s aos poucos poderiam voltar a suas atividades rotineiras.

Com a estimativa do número real de infectados, de doentes evidentes e de assintomát­icos, será possível projetar com mais precisão quantas UTIs, ventilador­es e outros equipament­os serão necessário­s para tratar os doentes.

“A velocidade do aumento [de casos] depende das medidas de distanciam­ento social. Com base nas melhores evidências científica­s disponívei­s, é recomendad­o que as medidas vigentes no estado devem ser mantidas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil