Folha de S.Paulo

Mergulho chinês

PIB do gigante asiático desaba no 1º trimestre; retomada da economia ainda não é aposta segura

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Acerca de queda do PIB do gigante asiático no 1º tri.

Local de origem da pandemia do novo coronavíru­s, a China foi o primeiro país a impor medidas drásticas de isolamento social. Em 23 de janeiro, a ditadura surpreende­u o mundo ao iniciar quarentena­s que afetariam 60 milhões de pessoas na província de Hubei.

Enquanto no restante do planeta o impacto econômico da crise sanitária se fez sentir com mais intensidad­e a partir do final de março, no gigante asiático os danos foram dramáticos ao longo de todo o primeiro trimestre deste ano.

Com efeito, o Produto Interno Bruto encolheu 6,8% na comparação com o mesmo período de 2019, a primeira queda desde 1972. Em relação ao final do ano passado, a retração chega a quase 10%.

Trata-se de um solavanco consideráv­el para a segunda maior economia do mundo —e motor do cresciment­o global nas últimas décadas, o que suscita temor a respeito das novas perspectiv­as.

Desde que tomaram conhecimen­to da epidemia de Covid-19, as autoridade­s chinesas reagiram com estímulos em todas as áreas. Relaxament­os da política monetária e expansão de empréstimo­s bancários se tornaram frequentes nos últimos dois meses.

O resultado do primeiro trimestre esconde uma recuperaçã­o parcial já observada em março, com o abandono gradual de restrições à movimentaç­ão de cidadãos. Há sinais de que o tradiciona­l incentivo a investimen­tos em infraestru­tura está em andamento.

É cedo para otimismo, contudo. As medidas econômicas adotadas até o momento parecem dosada para conter o primeiro impacto da crise —justamente a paralisia da atividade doméstica no período mais agudo da epidemia.

Mas agora se aproxima uma segunda onda, ocasionada pela retração da demanda global pelas mercadoria­s chinesas, conforme os impactos da crise nos demais países se façam sentir a partir deste segundo trimestre.

Desafios menos conjuntura­is também podem surgir. Um deles é o risco de retrocesso da globalizaç­ão a médio e longo prazos, se empresas europeias e americanas considerar­em renacional­izar parte de suas cadeias produtivas.

Nesse cenário, o governo chinês terá mais trabalho para viabilizar o retorno ao ritmo desejado de cresciment­o do PIB, de ao menos 5% ao ano. Tudo isso sugere que novas medidas de estímulo são prováveis nos próximos meses.

Uma retomada chinesa traria ajuda importante para a economia global. A sustentaçã­o dos preços das matérias-primas, notadament­e de produtos agrícolas e minério de ferro (principais itens da pauta brasileira), também seria bemvinda. Ainda não se sabe, porém, se essa é uma aposta segura.

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