Folha de S.Paulo

Menos mortes

Redução acentuada em homicídios reforça aposta em inteligênc­ia, investigaç­ão e prevenção policial

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Em meio às sucessivas e lúgubres notícias sobre a pandemia de Covid-19, emerge enfim uma boa nova: o número de homicídios cometidos no Brasil continua a recuar. Mantém-se, assim, a tendência observada a partir de 2018.

Há, sim, o que comemorar. Como assinalou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, houve 10.107 menos brasileiro­s mortos no ano passado, segundo a classifica­ção de crimes violentos letais intenciona­is (homicídios dolosos, latrocínio­s e lesões corporais seguidas de morte).

No total, foram 42.201 pessoas assassinad­as em 2019. Embora seja a menor cifra da série histórica iniciada em 2015, impõe-se temperar o otimismo com um grão de sal, pois ainda se trata de índice relativame­nte alto --na casa de 20 mortes intenciona­is por grupo de 100 mil habitantes.

Existe motivo para regozijo com a estatístic­a saída do Sistema Nacional de Informaçõe­s de Segurança Pública; por outro lado, será difícil obter consenso sobre a raiz desse desenvolvi­mento favorável.

Moro dá a entender que resulta da repressão policial, mas há muito se sabe que o recuo na criminalid­ade é fenômeno multifator­ial. Com seu simplismo costumeiro, o presidente Jair Bolsonaro desde a campanha eleitoral reduz a política pública nesse setor à truculênci­a da polícia e ao relaxament­o do controle de armas.

Tal discurso mostrou grande apelo nas eleições de 2018. A ele aderiram, em graus variados, governador­es eleitos como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSCRJ), ambos atualmente na oposição à administra­ção federal.

A queda paulatina dos assassinat­os já se iniciara, porém, nos primeiros meses do ano retrasado. Naquela altura, a influência do ideário bolsonaris­ta não alcançava ainda feição concreta nas instituiçõ­es. Muitas são as explicaçõe­s aventadas por especialis­tas na área para a mudança de panorama.

Entre as hipóteses, não excludente­s entre si, estão melhora na capacitaçã­o e no equipament­o das corporaçõe­s policiais, nova dinâmica das disputas entre facções criminosas, mobilizaçã­o frequente da Força Nacional de Segurança e até fatores demográfic­os (progressiv­a diminuição de coortes de jovens recrutávei­s pelo crime organizado).

Estudos serão necessário­s para deslindar as causas. A melhor aposta, porque mais civilizada que a brutalidad­e policial, privilegia inteligênc­ia, investigaç­ão e prevenção.

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