Demissão de Mandetta da Saúde é reprovada por 64%, aponta Datafolha
Embora não seja comparável metodologicamente com levantamentos presenciais anteriores, o índice de apoio a Bolsonaro se assemelha ao verificado na população. Isso tem determinado a atitude intransigente do presidente em relação às suas visões acerca da crise, contrárias à prática internacional no combate ao novo coronavírus.
Mandetta foi demitido, após um processo de fritura que demorou cerca de um mês, por não concordar com as diretrizes de Bolsonaro.
O ex-ministro defende o isolamento social como um instrumento de contenção de propagação do patógeno e se mostrou cauteloso, quando não cético, ao uso indiscriminado de cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento de doentes.
O trabalho do Ministério da Saúde era aprovado por 76% no levantamento anterior, ante 33% do presidente. Ex-ministro, Mandetta registra na nova pesquisa uma avaliação positiva de seu trabalho de 70% dos entrevistados, ante 18% dos que o acharam regular e 7%, que o reprovaram.
Já Bolsonaro encampou uma disputa figadal com governadores, o presidenciável João Doria (PSDB-SP) à frente, na qual a crítica às quarentenas e fechamento de comércio tomou lugar central.
Para ele, que antes negava a gravidade da crise, o foco principal tem sido tentar manter a economia funcionando.
Após dispensar Mandetta, ele voltou a subir o tom nesse sentido na posse de Teich. Além disso, o presidente vem propagandeando medicamentos que são alvo de estudos não conclusivos e apresentam contraindicações importantes como uma provável panaceia para a Covid-19.
No campo da imagem, os governadores seguem à frente de Bolsonaro em aprovação, com 54% de ótimo ou bom.
O índice, contudo, oscilou negativamente dentro da margem de erro em relação à pesquisa anterior (58%). Rejeitam o trabalho feito pelos estados 20%, e 24% o consideram regular.
Estão mais satisfeitos com seus governadores os moradores da região Sul (60%), Nordeste (60%) e Norte/Centro-Oeste (57%). Habitantes do Sudeste aprovam menos: 49% consideram os chefes locais bons ou ótimos no manejo da pandemia.
O corte estadual, quando aplicado a Bolsonaro, reflete a divisão política que marca o país desde a campanha eleitoral de 2018 —que, por sua vez, atravessou os anos do PT no poder, só que com o PSDB como antípoda do partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, o Sul é o principal ponto de apoio ao trabalho do presidente, com 44% de aprovação, enquanto o Nordeste se mantém como castelo oposicionista: 46% acham que ele é ruim ou péssimo.
Igualmente, enquanto 58% dos sulistas veem Bolsonaro em plena capacidade de liderança, 53% dos nordestinos acham o contrário.
Para evitar contato no surto, pesquisa foi feita por telefone
A pesquisa telefônica, utilizada no Datafolha, procura representar o total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia das pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além disso, torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa classificação econômica.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela.
Na pesquisa desta sexta-feira, em que se evitou o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Foram entrevistados 1.606 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuais.