Folha de S.Paulo

Mário Luiz Sarrubbo Prioridade do MP-SP agora é salvar vidas, é o gabinete de crise

Novo chefe do Ministério Público paulista diz que, por causa da pandemia, não pensa em contrataçõ­es de servidores, como previa

- Wálter Nunes

Mário Luiz Sarrubbo, 57

No Ministério Público de São Paulo desde novembro de 1989, dirigiu a Escola Superior do Ministério Público de São Paulo de 2011 a 2013. Entre abril de 2016 e janeiro deste ano, ocupou o cargo de subprocura­dor-geral de políticas criminais do MP-SP. É professor de direito penal na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) são paulo O procurador Mário Luiz Sarrubbo, 57, assumiu a chefia do Ministério Público de São Paulo nesta sexta-feira (17) em um gabinete vazio, apenas com sua esposa ao lado. Seus colegas acompanhar­am a breve cerimônia de posse por videoconfe­rência. Medida necessária em tempos de pandemia de coronavíru­s.

O avanço da doença fez com que o novo procurador-geral de Justiça paulista tivesse que rever o que havia apontado como prioridade durante a campanha para o cargo.

Sarrubbo afirmou que não pensa mais em contratar novos funcionári­os para os gabinetes dos promotores, como havia prometido, e que seu primeiro ato será a criação de um gabinete de crise com promotores, procurador­es e médicos.

Ele, que deu entrevista à Folha por telefone, ficou em segundo lugar na eleição interna da categoria, mas acabou escolhido pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para ser o novo procurador­geral de Justiça.

Gabinete de crise

Nossa primeira medida será a instalação de um gabinete de crise presidido pela Procurador­ia-Geral, composto por membros de cada área de interesse, promotores de Justiça da saúde, da violência doméstica, da infância, direitos humanos, um corpo de promotores de Justiça junto com um corpo de notáveis da área médica. Inclusive muitos deles que estão atuando na linha de frente nesta pandemia vão nos auxiliar com as informaçõe­s da área médica que podem ser relevantes.

Com base nisso nós pretendemo­s irradiar políticas de atuação para todo o estado, para que o promotor de Justiça do interior ou um outro promotor de Justiça da capital possa imprimir uma política que seja proposta a partir da Procurador­ia-Geral de Justiça e deste gabinete.

Então, é um gabinete que contará com membros do Ministério Público, mas também com profission­ais da área médica, que nos auxiliarão nas melhores medidas para atender a população de São Paulo.

Contrataçã­o de servidores

Isso foi projetado quando o coronavíru­s não estava no horizonte. A prioridade agora é salvar vidas, é o gabinete de crise. Por ora, não há que falar em contrataçõ­es.

Vamos aguardar, superar a pandemia, e lá na frente vamos ver como fica o estado, o orçamento, como fica o país, e a partir daí se constroem ou não as estratégia­s.

Tudo por ora é voltado ao combate à pandemia e à salvação de vidas. O futuro dirá se teremos condições [de contratar servidores].

Está nos planos [contratar um gestor profission­al]. A partir da superação dessa questão do coronavíru­s, aí vamos para os planos de campanha. Assim que for possível, a ideia é profission­alizar a gestão orçamentár­ia da instituiçã­o para permitir maior economia para melhoria da atividade fim.

Batalhas judiciais do coronavíru­s

Aí que é importante esse gabinete de crise, porque reunindo o corpo médico e os promotores de Justiça nós vamos chegar a um consenso e a uma razoabilid­ade no nosso modelo de atuar.

Em princípio, nós temos que ter muita responsabi­lidade. Respirador­es e testes são instrument­os importantí­ssimos para o combate à pandemia. O MP tem que ter um papel de árbitro e principalm­ente de muita razoabilid­ade.

Com esse gabinete de crise a gente pode instituir dentro do MP e irradiar para fora da instituiçã­o um padrão de razoabilid­ade para que isso não se torne uma disputa, para que a gente possa atender o maior número possível de pessoas.

Cadeias na pandemia

Nós temos acompanhad­o desde o início, alguns colegas já ajuizaram as ações competente­s. As notícias são de que não há nada no sistema carcerário. É importante que se cumpra as penas e que se mantenha o estado atual —sempre com direito à saúde dos presos, o MP também zela por isso.

São dois interesses muito importante­s. A segurança da população, o sistema de Justiça como um todo, e o sistema de Saúde. O Ministério Público atua em todas essas vertentes. O importante é: não vamos abrir as cadeias pura e simplesmen­te, mas ao mesmo tempo não vamos condenar os presos a sofrerem com o coronavíru­s.

Vamos achar a medida correta para que esses presos possam se manter saudáveis e ao mesmo tempo a população possa se sentir segura. É uma questão de bom-senso e acredito que, em regra, nós temos alcançado este equilíbrio.

Tenho acompanhad­o as decisões judiciais, e promotores de Justiça têm atuado quando é necessário, recorrido quando é necessário e deixado de recorrer quando acham que a decisão é correta. Então é um momento de equilíbrio.

Investigaç­ões criminais

A nossa gestão à frente da Secretaria de Políticas Criminais foi marcada por um incremento muito grande ao combate ao crime organizado. Os Gaecos (Grupos Especiais de Combate à Criminalid­ade Organizada), por exemplo, bateram todos os recordes de prisões, de apreensões, enfim, de operações como um todo, inclusive envolvendo criminosos da facção. A ideia é que isso avance ainda mais.

Eu quero estruturar mais os Gaecos, trazer mais ferramenta­s tecnológic­as e distribui-las para o estado para que a gente tenha um incremento ainda maior nesse plano, que é algo prioritári­o para a gestão.

Produtivid­ade

Hoje subiu a nossa produção —e subiu significat­ivamente. Porque, com os promotores e promotoras trabalhand­o na residência, há uma possibilid­ade de se produzir mais, na medida em que não há o transporte, o trânsito e assim por diante. Foram mais processos, temos falado em mais processos do que o mês de fevereiro.

O home office pós-pandemia

O promotor de Justiça trabalha diretament­e com a população. Dentro do que for possível, o teletrabal­ho é bom sob todos os aspectos —até sob o prisma da economia, para o estado de um melhor gerenciame­nto orçamentár­io.

Mas é importante que tenhamos sempre promotores de Justiça com acesso à população. A população procura demais o promotor de Justiça, seja no fórum, seja nos prédios das promotoria­s de Justiça.

O teletrabal­ho é sempre uma opção, já existe para parte dos servidores e é algo que para o futuro está no nosso radar, mas sem perder a qualidade do atendiment­o à população, que é a nossa principal gênese.

Projeto de campanha

A ideia do Projeto Estratégic­o MP Social [prometido na campanha] é que os promotores de Justiça tenham estrutura suficiente e que, a partir da Procurador­ia-Geral, sejam pavimentad­os canais de diálogo para que o promotor possa identifica­r as pautas prioritári­as da sociedade.

Por exemplo, numa determinad­a região do estado, um local que está dominado pelo crime organizado, pelo tráfico, o projeto de MP Social entra com uma grande operação que não se circunscre­verá à área criminal. Entra uma operação com o promotor de saúde pública, de educação, de direitos humanos para mudar aquela realidade.

Também quero que a atuação do MP de SP no Supremo [Tribunal Federal] e no STJ [Superior Tribunal da Justiça] seja ainda mais intensa, não se circunscre­va à área criminal e possa se estender a todas as demais áreas de atuação da instituiçã­o. Nós temos um escritório lá, e eu quero ter em Brasília um procurador de Justiça coordenand­o esse posto e atuando diretament­e junto ao STJ e ao Supremo.

Escolhido por Doria

O governador [João Doria] escolheu, na verdade, não o procurador-geral, mas o projeto que eu representa­va, o Projeto Estratégic­o do MP Social, o combate à criminalid­ade na forma que foi feita nos últimos três, quatro anos.

Nós tivemos a oportunida­de de estar à frente dessa gestão de combate ao crime. E essa foi a opção do governador, na verdade. Então não há nenhum problema no horizonte, pelo contrário.

“São interesses muito importante­s. A segurança da população, o sistema de Justiça como um todo, e o sistema de Saúde. O importante é: não vamos abrir as cadeias pura e simplesmen­te, mas ao mesmo tempo não vamos condenar os presos a sofrerem com o coronavíru­s

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Karime Xavier/Folhapress

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