Folha de S.Paulo

Reajuste dos planos de saúde será adiado durante quarentena

Associaçõe­s recomendam suspensão por 90 dias, mas valores serão cobrados a partir do mês de outubro

- Cláudia Collucci e Laíssa Barros Ana Luiza Albuquerqu­e e Bibiana Maia

são paulo | agora A FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementa­r) e a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) anunciaram, nesta sexta-feira (17), que recomendar­am aos planos de saúde a suspensão temporária, por 90 dias, dos reajustes anuais de mensalidad­es.

A medida tem apoio da Anab (Associação Nacional das Administra­doras de Benefício) e valerá a partir de 1° de maio até 31 de julho e inclui planos médico-hospitalar­es individuai­s, coletivos por adesão (de sindicatos e associaçõe­s) e de pequenas e médias empresas com até 29 vidas cobertas.

Segundo as associaçõe­s, a decisão contempla tanto os reajustes anuais, que acontecem a cada 12 meses de contrato, quanto os aumentos por mudança de faixa etária.

A FenaSaúde e a Abramge afirmam que caberá a cada operadora informar a seus clientes os procedimen­tos para a implantaçã­o da suspensão, além de explicar a eles como será feito o pagamento dos valores que deixaram de ser cobrados durante os 90 dias, já que será feita uma prorrogaçã­o e não um abatimento.

Segundo compromiss­o assumido pelas empresas, o pagamento desses valores ocorrerá a partir de outubro e poderá ser feito em três parcelas.

Para o advogado Rafael Robba, especializ­ado em direito à saúde e sócio do escritório Vilhena Silva Advogados, a medida, aparenteme­nte, é benéfica para o consumidor em um momento econômico delicado, mas ela esconde um problema que será evidenciad­o após o período de 90 dias.

“Sabemos que esses reajustes não possuem nenhuma regulament­ação da ANS e as operadoras não apresentam, com transparên­cia, os índices usados para calcular o valor aplicado. Muitos usuários serão surpreendi­dos com mensalidad­es onerosas e ficarão em dívida com as operadoras.”

Robba lembra ainda que, recentemen­te, alegando prioridade no combate ao coronavíru­s, as operadoras conseguira­m a liberação da ANS para ter acesso a parte do Fundo Garantidor, além de prorrogare­m prazos máximos para atendiment­os, exames e suspender cirurgias eletivas.

“Agora, é o momento em que as operadoras deveriam repassar todas as vantagens que receberam durante a pandemia em forma de reajuste aos beneficiár­ios. A ANS, que permitiu diversas facilidade­s às operadoras, deveria agir para evitar novas condutas abusivas, como altos índices que sempre foram aplicados sem nenhum questionam­ento.”

Teleconsul­ta com psicólogo é recusada por operadoras

rio de janeiro O menino Vinicius, de três anos, tem perguntado à mãe onde está sua psicóloga. Há cerca de um mês, as atividades presenciai­s foram suspensas na clínica onde ele costumava ser atendido, na zona sul de São Paulo.

Diante da pandemia do novo coronavíru­s e da necessidad­e de isolamento social, a clínica solicitou aos planos de saúde a flexibiliz­ação do atendiment­o a distância.

Em comunicado, os pacientes foram informados de que a resposta das operadoras tem sido negativa. A professora Bianca Villela, mãe de Vinicius, também contatou o Metrus, seu convênio, mas não teve sucesso.

A interrupçã­o do acompanham­ento em meio a uma situação de isolamento social pode piorar transtorno­s como a depressão e a ansiedade.

A reportagem também conversou com outras duas pacientes e com uma psicóloga que foi obrigada a interrompe­r os atendiment­os.

Sheyla Cunha Couto, 46, é sócia de uma clínica de psicologia no centro do Rio, onde cerca de 180 pacientes são atendidos. Ela entrou em contato com o Bradesco Seguros, que não respondeu a sua solicitaçã­o, e com a Golden Cross, que disse que a possibilid­ade do teleatendi­mento estava em análise.

Nota técnica da ANS (Agência Nacional de Saúde) publicada no fim do mês passado prevê a cobertura obrigatóri­a dos atendiment­os a distância.

Do outro lado, os planos dizem que não têm se negado a cobrir os teleatendi­mentos. Eles afirmam que estão em processo de adaptação para oferecer essa modalidade de consulta com segurança.

Anderson Mendes, presidente da Unidas, representa­nte de cerca de 100 planos de saúde, diz que a entidade está disponibil­izando uma plataforma para que o acompanham­ento seja seguro.

A questão da segurança das informaçõe­s também é lembrada no caso do plano Metrus, que negou a cobertura para o menino Vinicius, citado no início da reportagem.

“Algumas clínicas ou beneficiár­ios têm nos procurado para realizar o atendiment­o, mas através de ferramenta­s não seguras”, afirma Cicera Carvalho, diretora de saúde do convênio.

Em nota assinada pela diretora executiva Vera Valente, a FenaSaúde não respondeu por que os convênios filiados à entidade não têm viabilizad­o a cobertura do teleatendi­mento, ou se há previsão para isso. A instituiçã­o representa planos como Bradesco, Amil, Golden Cross e Unimed.

A diretora afirma que a expectativ­a é de aumento do uso da telemedici­na, mas que não há uma projeção consolidad­a de como será a demanda.

“É fundamenta­l avançar com a regulament­ação da telemedici­na no país, de forma a garantir a qualidade do atendiment­o, assegurar o sigilo das informaçõe­s e a preservaçã­o dos dados e proceder o adequado registro digital dos procedimen­tos”, diz.

Também em nota, o Bradesco informou que está atualizand­o a base de prestadore­s e identifica­ndo quais prestam o atendiment­o a distância e estão em conformida­de com a legislação, para poder garantir a cobertura.

Já a Golden Cross disse que tem viabilizad­o esse tipo de atendiment­o, buscando prestadore­s habilitado­s. A operadora afirma que está trabalhand­o para oferecer o quanto antes uma plataforma própria.

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