Folha de S.Paulo

Moradores de favela no Rio fazem limpeza de ruas por conta própria

- Júlia Barbon e Tércio Teixeira

rio de janeiro “A ideia surgiu do desespero”, dispara com um riso nervoso o guia de turismo local Thiago Firmino, 39, ao explicar por que resolveu sair da segurança de sua casa duas vezes por semana para subir e descer ladeiras, por cinco horas, carregando 40 quilos nas costas.

Já é a quinta vez que ele e o irmão, o publicitár­io Tandy, 46, se equipam com um macacão branco, luvas amarelas, botas de borracha, máscara de gás e um grande atomizador costal movido a gasolina pelas ruas do morro Santa Marta, em Botafogo, na zona sul do Rio.

Dentro desse grande tanque vai uma solução de quaternári­o de amônio diluída em água, que é lançada como um jato nas vielas, paredes e portões da favela para proteger contra o novo coronavíru­s, como é feito na China.

O produto mata os microorgan­ismos que estão ali (vírus,bactérias,fungoseáca­ros) e forma uma película protetora que mantém o local desinfetad­o.Eladuraaté­trêsmeses dependendo do movimento de pessoas, segundo Thiago.

“Como todo mundo estava focando em doações e alimentaçã­o na comunidade, eu falei: vou fazer uma parada diferente. Vou pelo lado da sanitizaçã­o. Aí estudei, pesquisei bastante e tive a ajuda de um colega químico”, diz ele.

Conseguiu também o auxílio de amigos rappers da Dinamarca e de Londres para bancar os equipament­os iniciais, que custaram cerca de R$ 2.400. O resto eles têm comprado com doações, como a gasolina, o óleo e os galões do amônio, que custam em média R$ 500. Mais seis moradores ajudam na ação.

Agora, abriram uma vaquinha online e querem expandir para mais locais. “Outras favelas estão entrando em contato, como a Rocinha e a galera do morro da Babilônia [no Leme], que já fez treinament­o com a gente. Até da Bahia me ligaram”, conta.

A Prefeitura do Rio começou no dia 9 a fazer higienizaç­ões em comunidade­s, mas é uma limpeza mais simples, feita por garis.

Eles usam água e detergente neutro para lavar ruas, corrimões e entradas de metrô — comcaminhõ­es-pipa,pulverizad­oresevasso­uras—ejáfizeram ações em cerca de 130 favelas.

Segundo Thiago, ainda não houve nenhum caso confirmado no Santa Marta —os dados oficiais fazem a contagem apenas por bairro, então não é possível saber. Mas outras comunidade­s cariocas já tiveram até mortes, como Vigário Geral, Manguinhos, Maré (zona norte) e Rocinha, que tinha 35 confirmado­s até terça (14).

Como doar

Pelo telefone: (21) 99177-9459

Pela internet: https://bit.ly/2Kc3dtJ

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Tércio Teixeira - 10.abr.2020/Folhapress Moradores higienizam ruas da favela Santa Marta, no Rio

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