Folha de S.Paulo

Dom Aldo Pagotto, 70, arcebispo da Paraíba, vivia recluso desde que enfrentou acusações

- João Pedro Pitombo

salvador O novo coronavíru­s fez a sua primeira vítima na cúpula na Igreja Católica do Brasil. Aos 70 anos, 43 deles dedicados ao sacerdócio, o arcebispo emérito da Paraíba, dom Aldo di Cillo Pagotto, morreu na terça-feira (14).

Ele enfrentava um câncer de pulmão e fígado e foi internado um hospital particular de Fortaleza com uma crise de insuficiên­cia respiratór­ia. A Arquidioce­se da Paraíba informou na noite de quinta-feira (15) que exames apontaram a Covid-19 como causa da morte.

O corpo de dom Aldo vinha sendo mantido em uma câmara fria até a divulgação do resultado do exame. Pela tradição canônica, o sepultamen­to deveria ser realizado naquela que foi a última igreja catedral do arcebispo.

Contudo, para evitar a disseminaç­ão da doença, a arquidioce­se decidiu que o corpo de dom Aldo será sepultado em Fortaleza sem celebraçõe­s públicas. Após o arrefecime­nto da pandemia, seus restos mortais serão transferid­os para a Catedral Basílica Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa.

Filho de imigrantes italianos, dom Aldo nasceu em Santa Bárbara d’Oeste (SP).

Após estudos em seminários, foi ordenado diácono em 1977. Passou por paróquias em Minas Gerais, São Paulo e Ceará.

Em 1997, quando foi ordenado bispo, passou a comandar a diocese de Sobral (CE). Tornou-se arcebispo da Paraíba em 2004, substituin­do dom Marcelo Carvalheir­a.

Permaneceu na função até 2016, quando o papa Francisco aceitou seu pedido de renúncia ao cargo após ser acusado de acobertar casos de pedofilia e abuso sexual.

A primeira denúncia, de 2002, partiu do Ministério Público do Ceará. Ele foi acusado de coagir adolescent­es para que mudassem depoimento­s a fim de proteger um frei acusado de estupro. Nos anos seguintes, outros casos passaram a ser investigad­os pela promotoria da Paraíba.

O procedimen­to investigat­ório foi arquivado em 2017 pelo conselho superior do Ministério Público do Estado da Paraíba por falta de provas.

Em entrevista à Folha dias após sua renúncia, em 2016, dom Aldo negou ter agido em benefício de padres suspeitos e afirmou ter denunciado as suspeitas ao Ministério Público e ao Vaticano: “Não me omiti”.

Desde que renunciou ao posto de arcebispo, dom Aldo voltou para o Ceará e vivia recluso no santuário São Benedito, em Fortaleza.

Em nota, o arcebispo da Paraíba, dom Manoel Delson, lamentou a morte de seu antecessor e destacou o trabalho de dom Aldo na arquidioce­se. “Suas obras, palavras e ações estão eternizada­s no coração do povo desta arquidioce­se, que não cessa suas orações em favor do seu pastor”, afirmou.

A CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil) emitiu nota na qual destacou a trajetória do arcebispo emérito e informou que “se une em oração aos familiares, amigos, fiéis e irmãos do Santíssimo Sacramento, congregaçã­o da qual dom Aldo fazia parte”.

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CNBB/Divulgação

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