Folha de S.Paulo

José Luiz Rezende Pereira, 70, professor universitá­rio mineiro

- Fernanda Perrin

são paulo Qualidade rara na academia, José Luiz Rezende Pereira era apaixonado não só por pesquisar, mas também por ensinar.

Descobriu-se professor ainda jovem, quando começou a dar aulas em um cursinho em Juiz de Fora enquanto estudava engenharia elétrica na federal da cidade.

Na pós-graduação, não foi diferente: mesmo fazendo mestrado no Rio, continuou ajudando vestibulan­dos na cidade mineira.

Foi em meio a essa rotina intensa que Zé Luiz conheceu Dayse, aluna do cursinho que mais tarde se tornaria a sua mulher.

No começo dos anos 1980, o casal partiu para Manchester, na Inglaterra, onde Zé Luiz fez seu doutorado, feito raro na época.

Dayse se recorda como um período importante para o marido, mas difícil financeira­mente. Foram quatro anos dedicados completame­nte ao trabalho, sem um respiro no Brasil por causa do preço das passagens.

Desde então, a jornada de Zé Luiz foi de retorno ao lar, de Manchester para o Rio, onde foi professor na Universida­de Federal do Rio de Janeiro, e depois de volta para Juiz de Fora, onde escolheu criar os filhos.

O engenheiro tornou-se professor na mesma faculdade em que se formara quase 20 anos antes.

Adotou como missão fortalecer a área de pesquisa, contribuin­do para a consolidaç­ão da pós-graduação em engenharia elétrica, e orientando pesquisas de estudantes em todos os estágios de formação. “Ele vibrava ao ver seus alunos crescendo, se formando e se inserindo no meio científico”, afirma André Marcato, primeiro orientando de iniciação científica de Zé Luiz, hoje professor na unidade.

Foi vice-reitor na UFJF, coordenado­r do Instituto Nacional de Energia Elétrica, além de liderança reconhecid­a em órgãos de pesquisa como a Capes, o CNPq e no Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica).

Segundo a filha Marina, Zé Luiz nunca dava as coisas de forma fácil, estava sempre ensinando, era afetuoso mesmo nos momentos de bronca.

No tempo livre, gostava de cultivar uma horta em casa. “Ele vivia fazendo carinho nas plantas”, conta Marina.

O prazer era, de certa forma, um retorno. O engenheiro passou a infância na roça, na zona rural de Leopoldina, onde cresceu com os sete irmãos.

A casa cheia era outro gosto cultivado pelo professor, que fazia churrascos e compartilh­ava a produção de sua hortinha.

O apego ao lar não significa que o professor não gostasse de viajar, seja a trabalho, nos muitos congressos, seja a lazer.

A última viagem foi para Maragogi (AL) em companhia da mulher com quem estava casado havia 40 anos. “Tiramos uma semana passeando. Ele estava muito feliz”, diz Dayse.

Logo depois da viagem, o professor começou a apresentar os primeiros sintomas da Covid-19. Passou duas semanas internado, mas não resistiu.

José Luiz Rezende Pereira morreu na quarta-feira (8), aos 70 anos. Além da mulher, Dayse, deixa os filhos Marina, Fernando e Isabela.

 ?? Alexandre Dornelas/UFJF ??
Alexandre Dornelas/UFJF

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil