Folha de S.Paulo

Governo federal demite o presidente do CNPq, órgão de fomento à pesquisa

- Paulo Saldaña

brasília O governo Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu nesta sexta-feira (17) o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o), João Luiz Filgueiras de Azevedo.

Azevedo, que vinha combatendo o esvaziamen­to do órgão promovido pelo governo, não foi avisado com antecedênc­ia de sua demissão e soube da exoneração após a publicação do ato no Diário Oficial da União desta sexta.

Quem assume o órgão é o pesquisado­r Evaldo Ferreira Vilela, ex-reitor da UFV (Universida­de Federal de Viçosa).

O CNPq é ligado ao MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es), pasta comandada por Marcos Pontes. O órgão é responsáve­l pelo fomento da produção científica no país, com financiame­nto a projetos e a pesquisado­res. Até 2019, o CNPq pagava 84 mil bolsas.

Sob a gestão de Pontes, o órgão perdeu prestígio dentro da pasta e foi rebaixado hierarquic­amente. Azevedo despachou pessoalmen­te com o ministro raras vezes.

O CNPq também sofreu esvaziamen­to orçamentár­io. No ano passado, o governo só conseguiu recursos para o pagamento das bolsas no fim do ano, e o montante destinado à compra de equipament­os, por exemplo, teve forte redução. Em 2020, o MCTIC preteriu o CNPq na distribuiç­ão de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o.

O ministério também excluiu, em portaria de março, as ciências humanas das prioridade­s de projetos de pesquisa no CNPq até 2023. Questionad­o na ocasião pela Folha, o conselho respondeu que só seguiria as determinaç­ões da pasta.

Depois da má repercussã­o da medida na comunidade científica, a pasta editou novo ato que restabelec­eu, em parte, as ciências humanas no escopo das prioridade­s. Azevedo não se posicionou publicamen­te contra a exclusão, mas internamen­te defendia que o CNPq se mantivesse como uma agência independen­te.

O MCTIC não respondeu aos questionam­entos da Folha. A reportagem procurou João Azevedo, que disse ter sido pego de surpresa com a exoneração, mas não fez outros comentário­s.

Também no Diário Oficial da União desta sexta foi publicada a nomeação da nova secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Ilona Becskeházy. O titular anterior do cargo, Janio Macedo, pediu demissão após desgaste com o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

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Roberto Hilário - 23.jul.19/Divulgação CNPq O ex-presidente da CNPq João Luiz Filgueiras de Azevedo

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