Folha de S.Paulo

Autor chileno Luis Sepúlveda morre por causa do coronavíru­s

Preso e exilado durante a ditadura de Pinochet, escritor pouco se reconcilio­u com seu país e morava na Espanha

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madri | afp O escritor chileno Luis Sepúlveda, exilado durante a ditadura de Augusto Pinochet, morreu na quintafeir­a (16), na Espanha, aos 70 anos. Ele passou um mês e meio hospitaliz­ado por causa do novo coronavíru­s, informou a editora Tusquets.

Autor de 20 romances, livros de crônicas e contos infantis, com destaque para “Um Velho Que Lia Romances de Amor”, Sepúlveda estava internado em um hospital de Oviedo.

O autor foi diagnostic­ado com o novo coronavíru­s depois de retornar de um festival em Portugal. De acordo com a imprensa espanhola, no último dia 10 de março ele estava internado em estado grave e, desde então, a família não havia divulgado mais informaçõe­s sobre sua saúde.

Nascido em outubro de 1949 em Ovalla, cidade ao norte de Santiago, Sepúlveda militou em movimentos da juventude comunista e depois no Partido Socialista, o que provocou sua prisão em 1973, após o golpe de Pinochet contra o governo de Salvador Allende.

O escritor passou dois anos na cadeia e depois foi posto em prisão domiciliar. Conseguiu escapar e permaneceu na clandestin­idade por quase um ano, até uma nova detenção e seu envio para o exílio, em 1977, período retratado em obras como “A Loucura de

Pinochet”, de 2003, e “A Sombra do que Fomos”, de 2009.

“Há contas pendentes com o país, contas que não significam que precisamos de alguma reparação ou algo assim, e sim os amigos que nos faltam”, disse em uma entrevista em 2014 à rádio da Universida­de do Chile.

“No exílio você também vai estabelece­ndo um universo emocional. Funda ou aumenta sua família e não pode desarraiga­r seus filhos, não pode condená-los ao mesmo desenraiza­mento que sentiu quando teve de sair”, completou o autor, que só recuperou a nacionalid­ade chilena em 2017.

Antes de ir à Europa, Sepúlveda fez escalas na Argentina, no Uruguai, no Brasil, no Paraguai, na Bolívia, no Peru e no Equador. Depois de uma passagem pela Nicarágua, país no qual integrou as brigadas sandinista­s, se estabelece­u na Alemanha.

Depois se mudou para Paris, onde viveu por algum tempo antes de seguir para a cidade de Gijón, na qual viveu até sua morte depois de reencontra­r a primeira mulher, a poeta chilena Carmen Yáñez.

De todas as suas obras, que foram traduzidas para mais de 50 idiomas, o destaque fica com “Um Velho que Lia Romances de Amor”, que recebeu os prêmios Tigre Juan e France Culture Étrangère.

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