Folha de S.Paulo

Entre as campeãs, seleção de 1970 foi a mais revolucion­ária

Outras equipes do Brasil que venceram a Copa tinham qualidades diferentes

- Paulo Vinícius Coelho

rio de janeiro Pelé e Garrincha jogaram juntos sete vezes em Copa do Mundo e venceram seis. Só empataram por 0 a 0 contra a Tchecoslov­áquia, a segunda atuação da campanha do bi, em 1962, em que Pelé teve distensão na virilha aos 25 minutos de jogo.

Com os dois juntos por noventa minutos, em Copas, o Brasil ganhou sempre. Impossível desconside­rar esta informação, quando se pensa em fazer o ranking das melhores seleções brasileira­s.

A primeira atuação da dupla mítica aconteceu no terceiro jogo de 1958, em Gotemburgo. Nos primeiros três minutos: Garrincha chutou na trave; Pelé recebeu de Mané e acertou o poste; e Didi ofereceu a Vavá o primeiro gol do Brasil.

Encantado, o jornalista Gabriel Hanot escreveu na revista France Football que foram os três minutos mais incríveis da história. A partida terminou com vitória do Brasil sobre a União Soviética por 2 a 0.

No jogo seguinte, Pelé encobriu o zagueiro Mel Charles e finalizou contra o goleiro Kelsey, na vitória por 1 a 0 sobre o País de Gales. Vieram as vitórias na semifinal contra a França —três gols de Pelé— e na finalíssim­a com a Suécia —mais dois do camisa 10.

Pela seleção, entre 1957 e 1966, Pelé e Garrincha disputaram juntos 40 partidas, venceram 36 e empataram quatro. Sem contar confrontos contra clubes e seleções regionais. Ter Pelé e Garrincha é sempre um argumento para pensar no time de 1958 como o melhor da história.

Mas o tri, em 1970 —final contra Itália será reprisada pelo SporTV às 18h de domingo (19)—, tem um advogado forte: “A melhor seleção de todas foi a do México”, diz Zagallo.

Ponta-esquerda do primeiro título e do bi, Zagallo assumiu como treinador em 22 de março, 73 dias antes da abertura da Copa do México.

Em 111 dias de treinos, Zagallo mudou o sistema tático de João Saldanha, do 4-4-2 para o 4-3-3, mexeu em seus próprios conceitos e aceitou escalar Tostão, perdeu o ponta-direita Rogério por lesão, decidiu improvisar Piazza como zagueiro e, por último, capitulou às observaçõe­s dos mais experiente­s e aceitou trocar Marco Antônio por Everaldo.

O time consagrado do tri, com Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé só estreou em Guadalajar­a, contra a Tchecoslov­áquia, e atuou junto apenas em três das seis partidas do Mundial.

A seleção de 1970 foi eleita pela revista World Soccer, em 2007, a melhor de todos os tempos: “A equipe brasileira que venceu com tanto estilo tornou-se um mito, uma equipe para ser considerad­a como o representa­nte máximo do jogo bonito”, dizia o texto.

O Brasil de 1962 trocou o treinador, Vicente Feola por Aimoré Moreira, e apenas dois titulares em comparação com a final de Estocolmo. Saíram Belini e Orlando, entraram Mauro e Zózimo. Mario Filho escreveu que Aimoré esteve prestes a barrar Mauro, por julgar a dupla de zagueiros muito técnica.

Ao perceber a reação, desistiu da ideia. Mas teve de mexer mais, por causa da lesão de Pelé. Entrou Amarildo, apelidado por Nelson Rodrigues de “O Possesso.”

Era um time envelhecid­o, com sete titulares acima dos 30 anos, que ganhou do México por 2 a 0, empatou com a Tchecoslov­áquia, correu risco de eliminação na fase de grupos e só não caiu ao virar o jogo contra a Espanha para 2 a 1. Depois, ganhou da Inglaterra e Chile e teve Garrincha expulso antes da final. Mané jogou, porque o assistente uruguaio Esteban Marino não compareceu ao julgamento e ajudou na absolvição, mesmo com a expulsão na semifinal.

Estes fatores da Copa do Chile eliminam a chance de se escolher o time do bi como o melhor dos cinco.

Há sempre um certo desdém sobre a campanha de 1994. Durante anos, definiuse como um time defensivo. Não era. O Brasil gostava de ter posse de bola e buscava o gol. Pode-se dizer que o time de Parreira era chato de ver. Mas prezava a troca de passes.

Tinha paciência até abrir buracos na defesa rival. Como Pelé e Garrincha, Bebeto e Romário juntos jamais perderam um jogo pela seleção principal —16 triunfos e 6 empates. Se o Brasil de Parreira marcasse por pressão, como Guardiola, talvez fosse transforma­dor. Foi bom e forte. Não brilhante.

Para o título de 2002, Felipão trabalhou 364 dias entre sua estreia e a consagraçã­o contra a Alemanha.

Foi eliminado da Copa América por Honduras, mexeu no sistema tático, apostou em três zagueiros e abriu mão de Romário, mas nunca desistiu de Ronaldo e Rivaldo, cujos clubes julgavam fora da Copa. De 21 campeões, só Uruguai em 1930, Itália em 1938, Brasil de 1970 e Brasil de 2002 venceram todas as partidas.

Zagallo, na Copa do Mundo de 1970, foi mais revolucion­ário, seus jogadores foram mais polivalent­es. Um exemplo é o incrível gol de Carlos Alberto, do fechamento da decisão contra a Itália (4 a 1). Tostão desarmou como se fosse lateral esquerdo, Jairzinho conduziu como ponta esquerda, Carlos Alberto finalizou como ponta direita. No meio de tudo, um passe de Pelé.

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