Folha de S.Paulo

Chef vai até a porta de casa para entregar sushi estrelado

Com o fechamento de restaurant­es, Jun Sakamoto faz pessoalmen­te o delivery, que tem louça feita à mão

- Marília Miragaia

Na entrada de um condomínio no Morumbi, em São Paulo, o porteiro pergunta o nome do entregador.

“Jun Sakamoto”, diz o motorista e também chef do restaurant­e japonês de mesmo nome, que fez escola na capital paulista ao preparar sushis com obsessão pelo detalhe e pela técnica.

O carro é conduzido para a área de descarga do prédio, e um segurança com walkie-talkie acompanha Sakamoto, 54, até a entrada de serviço. “É o sushi”, se ouve no aparelho.

Com uma mistura de curiosidad­e e preocupaçã­o por causa da Covid-19, o dono do apartament­o pega a refeição evitando contato direto. “Poxa. Prazer. Obrigado”, diz ao ver ali o sushiman Jun Sakamoto, usando máscara.

Em uma comparação, seria o mesmo que receber, na porta de casa, o chef Alex Atala, do D.O.M., para fazer uma entrega de comida brasileira ou então o MasterChef Erick Jacquin, do Président, com delivery de pratos franceses.

“Como faço para devolver tudo isso?”, pergunta o cliente ao sentir o peso da louça no lugar de embalagens descartáve­is. E, na sequência, fecha rapidament­e a porta. No delivery comandado pelo chef, os pedidos são entregues em louças feitas à mão que custam até R$ 700. No dia seguinte, Sakamoto volta para recolher os utensílios.

“Quero que o cliente coloque o prato na mesa e aquilo seja bonito em um conjunto. Quer pedir com bandeja descartáve­l? Tem várias opções no mercado. Quer algo especial? Estou fazendo”, diz.

Uma semana depois do fechamento de restaurant­es no estado de São Paulo como tentativa de barrar o coronavíru­s, o estrelado sushiman começou o delivery a pedido dos clientes. A primeira entrega, ainda informal, foi para o empresário Rogério Fasano.

Ao contrário de muitas casas na cidade, que adotam um sistema misto (com entrega própria e feita por aplicativo­s), todo o atendiment­o no restaurant­e de Sakamoto, que completa 20 anos em setembro, é conduzido pelo chef.

Ao fazer a entrega, Sakamoto monitora a qualidade do sushi durante o trajeto, consegue cortar custos e também mantém o tratamento pessoal que recebem os clientes que vão ao seu restaurant­e.

A Folha acompanhou o sushiman em quatro entregas entre as zonas sul, oeste e central de São Paulo. “Que chique” e “que honra” foram algumas das reações de clientes.

“Não nego que fico feliz quando sou recebido assim. Todo mundo tem ego. É a imagem que as pessoas fazem de você. O que muda é quanto você dá importânci­a a isso”, afirma Sakamoto.

O chef tem funcionári­os de confiança no preparo dos pedidos enquanto centraliza o funcioname­nto do delivery —praticando a vocação administra­tiva que exerceu ao ser, por volta de 2012, vice-presidente do hospital Santa Cruz, na Vila Mariana, que atende à comunidade nipo-brasileira.

É o sushiman que responde às mensagens no WhatsApp, preenche planilhas com pedidos e atende o telefone do restaurant­e, cujas ligações foram redirecion­adas ao seu celular.

Sakamoto não espera que as entregas deem lucro, mas pretende ao menos cobrir os custos do restaurant­e e pagar os funcionári­os.

O menu de encomenda tem duas opções, ambas a R$ 200: sashimis (25 fatias) e sushis (15 sushis, 4 uramakis, 3 hossomakis), mais taxa de R$ 20.

No J1, outra casa de Sakamoto, mais acessível, instalada no shopping VillaLobos, o delivery é feito pelo Rappi e tem entre as opções o sashimi com 12 unidades (R$ 72).

“Lá [J1], trabalhamo­s com produtos top, só um nível abaixo do que temos no restaurant­e da rua Lisboa. Aqui é essa coisinha mais artesanal. Minha base de clientes assíduos tem 170 nomes”, afirma.

Cadeiras e mesas ainda estão nos mesmos lugares de tempos pré-quarentena e sons do ar-condiciona­do e de mensagens no celular ocupam o espaço, na ausência de conversas entre clientes e do vaivém de garçons.

A produção acontece em silêncio no balcão em que Sakamoto, em dias normais, serve seu omakasê (R$ 395, 16 etapas), uma espécie de menudegust­ação, para apenas oito pessoas por noite.

Na gastronomi­a, o sushiman é conhecido por aprimorar processos de forma rigorosa, como o do preparo do arroz. “Quando todo mundo ia buscar um novo ingredient­e para usar, como avocado ou manga, eu olhei para dentro do sushi. Adicionar ingredient­e é diversific­ar, não enriquece essa gastronomi­a.”

O arroz usado nos sushis é importado de uma empresa japonesa na Califórnia (EUA), e foi escolhido porque tem amido suficiente para fazer a liga do grão e, ao mesmo tempo, manter textura firme em seu interior. Para isso, é feito em uma panela de ferro japonesa com oscilações de temperatur­a. “É mais ou menos o conceito da pasta al dente.”

Sakamoto também ficou conhecido por entregar ao cliente sushis já pincelados com molho de soja.

“Virou um mito que eu sou muito exigente quanto à quantidade de shoyu. Isso aqui é um serviço, não uma ditadura. Quem está pagando usa o quanto quiser. Mas se você quiser aprender, eu explico.”

Ao pincelar o molho de soja no sushi, diz o chef, a chance do delicado arroz esfarelar é minimizada —porque evita que o cliente passe a peça no shoyu por conta própria, correndo o risco de despedaçá-la.

“O prazer da textura de um sushi vem quando o arroz se solta dentro do calor da sua boca. Aí, você mastiga grão a grão. Essa é a diferença”, diz.

No delivery, o shoyu não pode ser pincelado e vai em tubinhos envasados à parte — uma mistura de molho de soja temperada na casa dá lugar à versão de saquinho.

Na maioria dos dias, Sakamoto se encarrega de toda a logística. Quando é preciso, tem a ajuda de um garçom. Mal os pedidos ficam prontos, ele sai com o roteiro feito no Waze —no lugar da lista de favoritos, agora estão ali as informaçõe­s dos clientes.

Casas japonesas de SP que fazem entrega AIZOMÊ

O restaurant­e comandado por Telma Shiraishi tem no cardápio bentôs, espécie de marmitas japonesas, como o lombo de porco empanado. Mas a lista também inclui sashimi, sushi e um especial do dia, entre outras opções. Trabalha com delivery e pedidos no iFood. Pedidos pelo tel. (11) 2222-1176 (opção 1) e via iFood. Al. Fernão Cardim, 39, Jardim Paulista, região oeste. Seg. a sáb.: 11h30 às 14h30 e 18h30 às 22h.

JOJO RAMEN

Famosa pela receita de lámen, a casa também oferece domburis, tigelas com arroz e acompanham­entos.

Pedidos via Rappi. R. Dr. Rafael de Barros, 262, Paraíso, região sul. Seg. a sex.: 11h30 às 14h30 e 18h às 22h. Sáb.: 11h30 às 15h e 18h às 22h.

JUN SAKAMOTO

A casa do sushiman homônimo entrega duas opções, ambas a R$ 200: sashimis (25 fatias) e sushis (15 sushis, 4 uramakis, 3 hossomakis). A região de delivery deve ser consultada por telefone. A taxa é de R$ 20. Pedidos pelo tel (11) 3088-6019. R. Lisboa, 55, Pinheiros, região oeste. Seg. a sáb.: 9h às 21h

KITCHIN

Além de sushis, tem entre as sugestões o carpaccio de barriga de salmão (R$ 64) e o batera feito com o mesmo pescado (R$ 50). Destaque para receitas veganas, que variam diariament­e.

Pedidos via WhatsApp (11) 969148762. R. Iaiá, 83, Itaim Bibi, região sul. Seg. a qui.: 11h30 às 23h. Sex a sáb.: 11h30 a 0h. Dom.: 11h30 às 23h.

TADASHII JAPANESE RESTAURANT

Entre as opções mais pedidas pelo delivery, estão os combinados (a partir de R$ 54,90). Também oferece pratos quentes, como yakisoba (R$ 36,90) e shimeji preparado na chapa, e sobremesas.

Pedidos pelos tels. (11) 2579-7777 e (11) 2579-3737, via WhatsApp (11) 99543-0138 para bairros próximos, iFood e Rappi. R. Jamanari, 40, Vila Andrade, região sul. Seg. a qui.: 12h às 15h e 19h até 23h. Sex.: 12h às 15h e 19h a 0h. Sáb.: 13h às 15h e 19h a 0h. Dom.: 13h às 15h e 19h a 0h.

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1 Sushi sendo finalizado 2 Louça artesanal com pedido 3 Jun Sakamoto verifica hashis e molho de soja 4 O sushiman deixa o restaurant­e para delivery 5 Carro na área de desembarqu­e de condomínio 6 De máscara, o chef entrega na porta do cliente
1 1 Sushi sendo finalizado 2 Louça artesanal com pedido 3 Jun Sakamoto verifica hashis e molho de soja 4 O sushiman deixa o restaurant­e para delivery 5 Carro na área de desembarqu­e de condomínio 6 De máscara, o chef entrega na porta do cliente
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