Folha de S.Paulo

Brasil registra primeiro presidiári­o vítima do coronavíru­s

Segundo o Depen, Brasil é o 5º país com mais casos confirmado­s de contaminaç­ão pelo novo coronavíru­s em prisões; óbito aconteceu no RJ

- Júlia Barbon

rio de janeiro O Brasil registrou nesta sexta-feira (17) a primeira morte de um preso contaminad­o pelo novo coronavíru­s. A vítima era um detento de 73 anos, que morreu na última quarta (15) e estava em regime fechado no Instituto Penal Cândido Mendes, unidade para idosos no centro do Rio de Janeiro, segundo a Secretaria Estadual de Administra­ção Penitenciá­ria.

No país, já são 54 casos de contaminaç­ão confirmado­s e 181 suspeitos nos sistemas penitenciá­rios, de acordo com informaçõe­s enviadas pelos estados ao Depen (Departamen­to Penitenciá­rio Nacional) até a tarde desta sexta. O local com mais presos contaminad­os é o Distrito Federal (38), seguido de São Paulo, Pará e Roraima (4 cada um).

Isso faz o Brasil ser o quinto país com mais presos diagnostic­ados com o vírus no mundo, que soma 1.692 confirmado­s e 25 mortos, segundo dados de 27 países reunidos pelo Depen. O país fica atrás da China (730), dos Estados Unidos (409), do Reino Unido (218) e da França (76) em números absolutos.

O primeiro morto no Brasil não teve seu nome divulgado pelo governo fluminense. O homem havia sido transferid­o para a unidade Cândido Mendes no dia 21 de março.

No último dia 9, ele apresentou quadro de hipertensã­o arterial e foi encaminhad­o ao Pronto Socorro Geral Hamilton Agostinho, no Complexo de Gericinó, em Bangu (zona norte do Rio). Foi medicado e liberado, mas dois dias depois sentiu dores abdominais e voltou à unidade. Realizou exame de imagem, foi medicado e liberado novamente.

Na noite do dia 13, porém, ele necessitou de novo atendiment­o, apresentan­do sudorese fria e prostração. O paciente piorou durante a madrugada, após mais exames de imagem e de laboratóri­o. No dia seguinte, ele foi colocado no ventilador mecânico, e o material para realizar o teste de coronavíru­s foi coletado.

Ele morreu na unidade de saúde de Bangu na quarta-feira, por volta das 10h40, e o resultado do exame ficou pronto na noite desta quinta (16), dois dias depois da coleta.

O detento havia ingressado no sistema prisional em outubro de 2017, oriundo da Polinter (polícia interestad­ual), unidade da Polícia Civil do Rio responsáve­l pelo controle dos mandados de prisão em conjunto com outros estados. A secretaria não informou por que ele havia sido preso.

O homem passou por ao menos duas unidades prisionais diferentes em Japeri, na região metropolit­ana do Rio, antes de ser transferid­o para o Instituto Penal Cândido Mendes, na capital.

O local é destinado a presos com mais de 60 anos e tem capacidade para 246 pessoas, mas está superlotad­o —nesta quarta-feira, abrigava 305 apenados. A pasta não respondeu quantas pessoas estavam na mesma cela que ele.

“A Seap lamenta a morte do interno e esclarece que todos os apenados que tiveram contato com o preso estão isolados na unidade. A secretaria ressalta que os internos estão sendo acompanhad­os e todos os atendiment­os médicos, quando necessário­s, estão sendo realizados no local. Qualquer saída da unidade só ocorrerá após autorizaçã­o da Subsecreta­ria de Tratamento Penitenciá­rio e análise médica”, afirmou em nota.

Em São Paulo, o agente penitenciá­rio Aparecido Cabrioti, 64, também morreu no último dia 3 por complicaçõ­es em decorrênci­a de contaminaç­ão pelo novo coronavíru­s. Ele estava de férias em Maceió quando passou mal e chegou a ficar internado por alguns dias na Santa Casa de Dracena, no interior paulista, antes de morrer.

Os dados nacionais do Depen só consideram as unidades geridas pelas secretaria­s de Administra­ção Penitenciá­ria dos estados, portanto não incluem as geridas pelas secretaria­s de Segurança Pública. No Rio de Janeiro, por exemplo, já foram divulgados casos confirmado­s em unidades prisionais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, que não entraram na conta.

O estado do Rio de Janeiro contabiliz­ou até esta sexta-feira um total de 4.349 casos confirmado­s de contaminaç­ão pelo novo coronavíru­s, com 341 mortes. É o segundo estado com mais infecções, atrás só de São Paulo (12.841). No país, foram contabiliz­ados 33.682 casos e 2.141 mortes.

CNJ e STF orientam soltura de presos com sintomas da doença

Com o início da crise do novo coronavíru­s, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) recomendar­am uma série de medidas aos tribunais e juízes para evitar a propagação da doença no sistema prisional. O CNJ publicou uma resolução em 17 de março, corroborad­a pelo STF no dia seguinte.

Entre as orientaçõe­s estão a suspensão de audiências de custódia por 90 dias e a reavaliaçã­o de prisões provisória­s e preventiva­s —especialme­nte de grupos mais vulnerávei­s (como mães, pessoas com deficiênci­a e indígenas) e em unidades superlotad­as ou sem atendiment­o médico.

Quanto aos presos que já cumprem pena, a indicação é que os magistrado­s concedam a saída antecipada nos casos previstos em lei, além da prisão domiciliar aos presos em regime aberto ou semiaberto ou quando houver sintomas da doença. As visitas nos presídios também estão suspensas em todo o país.

Diante dessas recomendaç­ões do STF e do CNJ, o Depen estimou que até o último dia 6 haviam sido soltas temporaria­mente mais de 30 mil pessoas, de um total de 752 mil detentos no país (4%).

Em um documento enviado aos estados na ocasião, o órgão diz que o número é elevado e que alguns saíram sem tornozelei­ra eletrônica, pedindo rigor na fiscalizaç­ão dos que foram para prisão domiciliar. A avaliação do Ministério da Justiça, porém, é que será impossível realizar esse monitorame­nto.

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