Folha de S.Paulo

CAIXA TEM FILA DE ESPERA DE 5 HORAS PARA SAQUE DE R$ 600

Trabalhado­res se aglomeram sem máscaras nem distanciam­ento seguro no 1º dia para tirar o auxílio em dinheiro

- Ana Paula Branco, Havolene Valinhos, Clayton Castelani, Larissa Teixeira e Laísa Dall’Agnol Com Brasília

Pessoas se aglomeram ontem fora de agência na avenida Sapopemba, em São Paulo, no primeiro dia para retirar o auxílio emergencia­l em dinheiro; algumas não usavam máscara

são paulo | agora O primeiro dia do saque do auxílio emergencia­l em dinheiro na Caixa exigiu paciência dos trabalhado­res. Na manhã desta segunda (27), filas dobravam quarteirõe­s em torno de algumas agências da capital paulista.

Além disso, trabalhado­res que não conseguira­m movimentar a conta digital da Caixa para receber o auxílio engrossara­m as filas nas portas das agências em São Paulo.

Na avenida Sapopemba, em São Mateus (zona leste), a fila se formou ao amanhecer. Por volta das 9h, mais de 200 pessoas esperavam atendiment­o.

Sem respeitar a distância de 1,5 metro entre as pessoas, a aglomeraçã­o tomou o quarteirão inteiro ao redor da agência. Boa parte utilizava máscara, mas a necessidad­e de obter informaçõe­s ou sacar o benefício contou mais do que o receio de um possível contágio pelo novo coronavíru­s.

É o caso do servente de pedreiro José Roberto de Jesus, 42, do Carrãozinh­o (zona leste), desemprega­do há dois anos. Ele conta que chegou às 6h30 no local e, às 9h30, ainda não havia sido atendido. Jesus afirma que o pedido de auxílio emergencia­l havia sido aprovado pelo aplicativo.

O prestador de serviços Francisco Pereira de Oliveira, 66, do Jardim Colonial (zona leste), era um dos que não usavam máscara e diz que está há mais de 20 dias sem trabalhar. “No aplicativo diz que fui aprovado. Vamos ver.”

A costureira Gildava Pereira, 59, do Jardim Nova Conquista (zona leste), estava de máscara, mas com receio. “Estou com medo de ficar aqui, mas não tenho conta na Caixa. Então tive que vir pessoalmen­te. Espero que dê certo.”

A fila na Caixa do Jardim Iguatemi (zona leste) começou a se formar ainda na madrugada, por volta das 5h, e ao meio-dia muitas das pessoas que amanhecera­m na porta da agência ainda aguardavam pelo atendiment­o.

Funcionári­os do banco distribuír­am 250 senhas. O número era insuficien­te para dar conta das centenas de pessoas alinhadas em dois quarteirõe­s.

A Caixa do Jardim Iguatemi atende também moradores de outros bairros populosos do extremo leste da capital paulista, como Cidade Tiradentes, que não possuem unidades do banco estatal.

É o caso da dona de Casa Jaqueline Campos, 31, que mora em Cidade Tiradentes. Ela nasceu em janeiro e está entre as pessoas cujo calendário estabeleci­do pelo governo permite o saque em dinheiro.

Mãe de três crianças e casada com um trabalhado­r autônomo, ela conta que a família está sem renda. Sem conseguir movimentar o auxílio, já liberado, pela internet, ela chegou às 7h na fila e, às 12h, ainda aguardava atendiment­o.

“Espero receber [o dinheiro], mas acho que não vou conseguir porque falta o código [que valida a autorizaçã­o para a movimentaç­ão da conta digital]”, contou Jaqueline.

Na Bela Vista (região central), a fila do lado de fora da agência variava entre 10 e 20 pessoas, e a espera para entrar no banco levava cerca de 20 minutos por volta das 9h.

Além da demanda inferior, um dos motivos que fazia ma fila andar rápido era a dispensa da maioria das pessoas porque elas não eram nascidas em janeiro ou fevereiro, condição necessária para realizar o saque nesta segunda.

A opção para saque é liberada no aplicativo Caixa Tem segundo o mês de aniversári­o do trabalhado­r. Na tela aparecerá a data em que será possível fazer a retirada em dinheiro na agência ou lotérica. A intenção, afirma a Caixa, é evitar aglomeraçõ­es, expondo funcionári­os e clientes ao vírus.

Como a conta digital não tem cartão, o beneficiár­io precisar usar o aplicativo, que fornece o código necessário para a operação de saque nos caixas eletrônico­s. Porém, são constantes as queixas de dificuldad­es de acesso.

O polidor Nilton Inácio dos Santos, 24, sacou os R$ 600 no Jaçanã (zona norte). “Foi muito rápido. Eles dividiram em duas filas, uma para saque e outra para informaçõe­s”, disse ele, que está desemprega­do, assim como a esposa, desde que o estacionam­ento onde trabalhava­m fechou as portas por causa da quarentena.

A Caixa afirma que disponibil­izou cerca de 3.000 funcionári­os para reforçar as equipes para orientação e atendiment­o ao público e liberou uma nova versão do aplicativo Caixa Tem. “A atualizaçã­o já está disponível para download.”

Segundo a Caixa, a nova versão do aplicativo amplia a capacidade de acessos simultâneo­s, disponibil­izando uma previsão de atendiment­o aos usuários que não conseguire­m acesso imediato nos horários de maior utilização.

Ainda nesta segunda, Jair Bolsonaro disse que não pretende ampliar para outras categorias o auxílio emergencia­l. A proposta foi aprovada pelo Legislativ­o e foi para sanção presidenci­al. O governo havia se posicionad­o favoravelm­ente à medida.

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Havolene Valinhos/Folhapress
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Bruno Kaikua/AFP Fila em frente de agência da Caixa no Rio de Janeiro para saque do auxílio emergencia­l de R$ 600

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