Pandemia faz crescer incertezas sobre continuidade da F-1 no Brasil
São Paulo tenta renovar contrato do GP Brasil, enquanto Rio de Janeiro tem dificuldades para tirar projeto de autódromo do papel
são paulo As muitas indefinições a respeito de como será a temporada 2020 da F-1, prevista para começar em julho, aumentam as dúvidas sobre quando o Brasil voltará a receber a categoria.
A decisão sobre o futuro do GP no país, que tem se arrastado desde 2018, agora também depende dos desdobramentos da pandemia da Covid-19.
O contrato da prefeitura de São Paulo com a FOM (braço comercial da modalidade) vence neste ano, após a realização da prova em Interlagos, por enquanto ainda nos planos e prevista para novembro.
Após sete adiamentos e três cancelamentos de corridas por causa do coronavírus, a categoria espera anunciar em breve um novo calendário para a temporada 2020.
Os possíveis cenários a partir de 2021 são: a prefeitura da capital paulista renova o acordo e garante a permanência da corrida na cidade; o GP é deslocado para o Rio de Janeiro, que ainda tenta tirar um autódromo do papel; a prova deixar de ser realizada no país.
A força-tarefa criada em São Paulo, que envolve o governo do estado e a prefeitura, além da promotora do evento em Interlagos, a empresa Interpub, tenta convencer a FOM a assinar um novo contrato.
A empresa, sob a gestão do americano Chase Carey, não abre mão de receber a chamada “taxa de promotor”, que pelo acordo assinado em 2014 a capital paulista está isenta de pagar. O valor não é público nem fixo, variando conforme o local do evento.
“As negociações estão adiantadas e temos certeza de que São Paulo continuará recebendo a categoria por muitos anos”, afirma Tamas Rohonyi, dono da Interpub.
Em nota, a prefeitura disse que as negociações continuam. A assessoria de imprensa do governador João Doria (PSDB) informou que ele não se manifestaria sobre o tema.
Enquanto São Paulo ainda não demonstra avanços nas tratativas, o Rio de Janeiro enfrenta dificuldades para tirar seu projeto do papel.
Para isso, ainda busca aprovar o estudo de impacto ambiental (EIA) da obra antes de poder dar início à construção do autódromo sobre a Floresta de Camboatá, na região de Deodoro (zona oeste).
O consórcio Rio Motorsports, único interessado no processo de licitação, foi anunciado pela Prefeitura do Rio, em maio de 2019, como vencedor da concorrência para construir e administrar por 35 anos o autódromo.
Dias depois, o Ministério Público Federal ingressou com um pedido de liminar para suspender o processo licitatório até que seja apresentado e aprovado estudo prévio de impacto ambiental.
Em agosto, o Tribunal Regional Federal da 2ª região acatou o pedido e exigiu a aprovação do estudo. O relatório com 1.500 páginas foi elaborado por uma consultoria contatada pela Rio Motorsports, e apresentado em novembro.
O documento passou a ser contestado por um grupo de 16 profissionais, entre eles ambientalista, engenheiro, ecologista, geógrafo, urbanista e advogado, que lançaram o movimento SOS Floresta do Camboatá. Com a mudança na rotina das instituições em meio à pandemia, o rito de aprovação está paralisado desde o começo de março.
O Instituto Estadual do Ambiente, órgão a quem cabe aprovar ou rejeitar a continuidade da construção, chegou a agendar uma audiência pública virtual para debater o caso. Na sequência, ela foi cancelada por orientação do Ministério Público do Rio de Janeiro.
As promotoras Gisela Pequeno Guimarães Correa e Julia Miranda e Silva Sequeira entenderam que a audiência pública realizada pela internet é necessária somente em casos urgentes.
Segundo o relatório da consultoria, o cronograma da obra é de 23 meses. Mesmo que seja aprovada, dificilmente o autódromo ficaria pronto a tempo do GP de 2021.
“Os efeitos da pandemia no mundo, por ora, não tiveram um impacto contundente no projeto da Rio Motorsports”, diz a nota enviada pela empresa. Procurada pela Folha ,aorganização da F-1 não se manifestou sobre as negociações.