Folha de S.Paulo

Para autora, disputa na Coreia do Norte poria em risco arsenal nuclear

- Rafael Balago

são paulo Com os rumores de que o ditador Kim Jongun estaria gravemente doente, passou-se a debater quem poderia sucedê-lo no comando da Coreia do Norte. Sua irmã, Kim Yo-jong, tem sido citada pela imprensa internacio­nal como opção, embora mulheres em cargos de comando seja algo raro no país.

Ela é apontada como uma das parentes mais próximas de Jong-un (na Coreia, o sobrenome é escrito antes do nome) e esteve ao lado do irmão em momentos importante­s, como nas reuniões com o presidente dos EUA, Donald Trump, realizadas em 2018 e em 2019. Em um desses encontros, no Vietnã, Kim foi visto fumando do lado de fora. Ao lado dele, uma mulher que parecia Yo-jong segurava um cinzeiro para o ditador.

Go Myong-hyun pesquisado­r do Asian Institute for Policy Studies

Yo-jong tem cerca de 30 anos. Sua idade, assim como a do irmão, não é confirmada pelo regime. Os dois estudaram na Suíça no fim dos anos 1990. Usaram nomes falsos e viviam em uma casa com vários funcionári­os e seguranças.

Esses anos juntos teriam ajudado a aproximá-los, segundo reportagen­s dos jornais The Guardian e The Washington Post. Ao voltar para a Coreia, no início dos anos 2000, Yo-jong se formou em ciência da computação em Pyongyang. Naquela década, seu pai, Kim Jong-il, comentou com um visitante russo que via na filha um potencial para a liderança.

Jong-il morreu em 2011, e Yo-jong fez sua primeira aparição pública em seu funeral. Kim Jong-un se tornou ditador da Coreia do Norte e chamou a irmã para ser diretora no setor de Propaganda, responsáve­l por cuidar de sua imagem e a do governo.

Yo-jong tem atuado para tentar modernizar a imagem do país no exterior. Embora a Coreia do Norte siga fazendo testes com mísseis com bastante frequência, os encontros de Kim com Trump ajudaram a suavizar a imagem de brutalidad­e do regime norte-coreano, uma ditadura familiar no poder desde 1948.

A irmã de Kim, porém, foi incluída pelos EUA, em 2017, em uma lista de governante­s norte-coreanos acusados de cometer abusos severos contra os direitos humanos. Nos últimos anos, ela estaria atuando como uma espécie de chefe de gabinete do irmão. Em 2018, foi enviada às Olimpíadas de Inverno em

Pyeongchan­g, na Coreia do Sul, para representa­r o governo. O ato foi visto como um sinal de seu poder.

Em março deste ano, a irmã do ditador assinou seu primeiro comunicado em nome do governo, o que foi considerad­o mais um sinal de prestígio. Nele, acusou a Coreia do Sul de ser um “cão assustado que late” depois que Seul reclamou de um dos exercícios militares realizados pelo vizinho do norte.

“Kim Yo-jong será, por enquanto, a principal base de poder, com controle de partes do governo como o Judiciário e da segurança pública”, disse Cho Han-bum, do Instituto para a Unificação da Coreia, em Seul, a Reuters.

Embora seja uma das pessoas mais influentes da família, terá grandes dificuldad­es para chegar ao comando do país. A principal delas é que a Coreia do Norte sempre coloca homens em postos de comando, além de valorizar figuras mais velhas.

“É improvável que ela assuma o poder, mas pode ajudar a construir um governo interino e mediar as forças políticas até que os filhos de Kim Jong-un cresçam”, disse Go Myong-hyun, pesquisado­r do Asian Institute for Policy Studies, em Seul.

Especialis­tas em Coreia do Norte apontam que Jong-un, que se casou em 2009, teria três filhos, sendo que o mais velho têm dez anos. Outro ponto é que há uma grande briga pelo poder na família Kim, que teve ao menos dois assassinat­os nos últimos anos.

Chang Sung-taek, tio de Kim Jong-un, foi executado em 2013, acusado de traição. E, em 2017, um meio-irmão de Jong-un, Kim Jong-nam, foi morto por envenament­o na Malásia. Ele, que estava exilado, era crítico do regime, e há suspeitas de que colaborava com a CIA.

É improvável que ela assuma o poder, mas pode ajudar a construir um governo interino e mediar as forças políticas até que os filhos de Kim Jong-un cresçam

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 ?? Jorge Silva 2.mar.19/Reuters ?? A irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, durante cerimônia em Hanói, no Vietnã
Jorge Silva 2.mar.19/Reuters A irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, durante cerimônia em Hanói, no Vietnã

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