Cai apoio a isolamento; Brasil já tem mais mortos que China
Defesa de quarentena perde 8 pontos percentuais, segundo Datafolha; ‘e daí?’, diz presidente sobre recorde
O apoio a um isolamento social amplo para conter o coronavírus divide a população brasileira, mostra o Datafolha. Pela primeira vez desde o início da pandemia, há empate técnico entre quem defende a volta ao trabalho e os que apoiam a quarentena.
Opinavam pelo relaxamento das regras 37% no início de abril. Foram para 41% em 17 de abril e para 46% na pesquisa realizada na segunda (27). Já o distanciamento total tinha o apoio de 60% no início de abril, foi para 56% no dia 17 e, agora, para 52%.
A adoção da quarentena apenas para idosos e pessoas nos grupos de risco é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro sob a alcunha de “isolamento vertical”. O governo, no entanto, até agora não apresentou nenhum estudo que embase a medida.
Ontem, o país bateu recorde de mortos pela Covid-19 em 24 horas, com 474, e passou o total da China. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”, afirmou o presidente ao ser questionado sobre os números.
O Brasil agora é o nono país com mais mortes no mundo, 5.017 óbitos, contra 4.637 registrados pelos chineses.
Nelson Teich (Saúde) reconheceu agravamento da situação, mas disse que a piora está restrita a locais com dificuldades.
E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres Jair Bolsonaro presidente da República
Em queda, o apoio a um isolamento social amplo para conter o coronavírus divide a população brasileira, mostra pesquisa Datafolha. Pela primeira vez desde o início da pandemia, há empate técnico entre os que defendem a volta ao trabalho dos que estão fora dos grupos de risco e os que apoiam a permanência deles no isolamento.
São considerados grupos de risco para a Covid-19 idosos e pessoas com comorbidades como cardiopatia, diabetes e doença renal.
A proporção de brasileiros que defendem que as pessoas fora dessa categoria deveriam sair para trabalhar passou de 37%, no início de abril, para 41% em 17 de abril e para 46% na pesquisa realizada nesta segunda-feira (27).
Já os que apoiam o isolamento amplo, inclusive de quem está fora dos grupos de risco, passaram de 60% no início de abril para 56% no dia 17 e, agora, para 52%.
O Datafolha entrevistou na segunda-feira por telefone 1.503 brasileiros adultos com celular em todos os estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuais
A adoção da quarentena apenas para idosos e pessoas nos grupos der iscoé defendida pelop residente JairBol sonar o soba alcunha de“i solamento vertical ”. O governo, no entanto, até o momento não apresentou nenhum estudo que embase a medida.
Aposição, cont rá riaàdefend id apelo Ministério da Saúde, levouà demissão do ministro Luiz Henrique Mandettanoúl timo dia 16. Seu sucessor, Nelson Teich, defende um equilíbrio entre as medidas de proteção à saúde e de retomada da economia e anunciou que a pasta fará uma nova diretriz para localidades que queiram abrandar o isolamento ou abandoná-lo.
Nãop oracas o,oap oi oà volta ao trabalho d equem não está emgru poder iscoécon sideravelmente maior entre os que avaliam o governo Bolsonaro como ótimo/bom (67%) do que entre quem o considera ruim/péssimo (26%).
O apoio ao isolamento seletivo é maior entre os mais ricos —58% dos ganham mais de dez salários mínimos defendem essa posição, contra 44% dos que recebem até dois.
Os mais ricos são também são aqueles que mais cumprem a quarentena, com índice de 71% (56% dizem sair só quando inevitável e 15%, nunca).
Nessa análise do comportamento individual em relação ao isolamento, a pesquisa mostra estabilidade em relação às anteriores, dentro da margem de erro. Declaram estar totalmente isolados 16% dos entrevistados, e 53% só saem de casa quando inevitável.
Considerando-se a renda, o grupo que mais tem mantido a rotina, ou então saído de casa para trabalhar e fazer atividades, mesmo tomando cu ida do,éoquet em renda cinco a dez salários mínimos —44%, enquanto nos demais estratos essa proporção fica entre 28% e 35%.
Os mais pobres, que recebe até 2 salários mínimos, empatam com os mais ricos em isolamento (71%, sendo 17% totalmente isolados). Mas 3% deles dizem não ter alterado em nada a rotina, contra apenas 1% dos mais ricos.
Nos últimos dias, estados e municípios de todo o país têm anunciado a retomada de atividades.
O Governo de São Paulo, por exemplo, divulgou, ainda sem detalhes, plano que prevê a reabertura gradual a partir do dia 10 de maio, de acordo com condições do sistema de saúde.
Em algumas cidades, a reabertura já resultou em novas aglomerações. A imagem de clientes recebidos com palmas em um shopping de Blumenau (SC) virou símbolo disso.
Nesse contexto, a pesquisa Datafolha mostra uma alta no índice de brasileiros que acham que a população está menos preocupada com o vírus do que deveria —esse percentual passou de 44% em março para 56% na segunda-feira.
Segundo o levantamento, a proporção dos que defendem manter as pessoas em casa mesmo que isso prejudique a economia se mantém estável em relação à pesquisa do dia 17 de abril, em 67%. No levantamento do início do mês, esse conjunto respondia por 76% dos entrevistados.
De acordo com o Ministério da Saúde, o país registrou até esta terça-feira (28) 71.886 casos confirmados de coronavírus, com 5.017 mortes.
Para 47% dos entrevistados pelo Datafolha, o número real é maior do que o divulgado.
Mulheres se dizem mais isoladas e preocupadas
As mulheres estão mais isoladas e demonstram maior preocupação com a crise do coronavírus, revela a mesma pesquisa Datafolha.
Elas também declaram maior rejeição ao presidente Jair Bolsonaro, que em diversas ocasiões minimizou a gravidade da pandemia.
Entre as entrevistadas, 60% dizem que só estão saindo de casa só quando é inevitável, e 20%, que não saem de jeito nenhum. Entre eles, a proporção é de 46% e 13%, respectivamente.
Também é maior entre as mulheres a parcela dos que acham que o brasileiro está menos preocupado do que deveria com a pandemia. Manifestam essa percepção 61% das entrevistadas contra 51% dos homens.
Não por acaso, elas sobressaem novamente na defesa da saúde em detrimento da economia no atual momento, embora essa posição seja majoritária em todos os estratos de gênero, idade e escolaridade.
Para 71% das mulheres, o mais importante agora é manter as pessoas em casa para impedir que o coronavírus se espalhe, mesmo que isso prejudique a economia e cause desemprego. Entre os homens, a proporção é de 63%.
Estudos recentes indicam que a crise do coronavírus tem impactado de forma diferente homens e mulheres e podem ampliar a desigualdade de gênero.
Nos Estados Unidos, pesquisa da Kaiser Family Foundation mostrou que, no meio de março, quando a pandemia ainda não havia chegado em seu pico em diversos países do mundo, 36% delas reportavam impacto em sua saúde mental ante 27% dos homens.
Novo levantamento feito duas semanas depois mostrou que a diferença mais do que dobrou: 53% delas afirmaram que tiveram o emocional abalado de alguma forma no fim de março, enquanto 37% dos homens tiveram a mesma percepção.
Analistas avaliam que contribui para isso a divisão desigual de atividades domésticas e a supressão da rede de apoio para o cuidado das crianças, com o fechamento de escolas e o afastamento dos avós.
No Brasil, outro estudo prevê que a crise do coronavírus deverá acentuar a desigualdades no mercado de trabalho entre homens e mulheres e entre brancos e negros.
Isso porque a crise pegou os dois grupos com vínculos de emprego mais instáveis ou em atividades econômicas mais afetadas pelo avanço da Covid-19.
Além da preocupação e do grau de isolamento, a pesquisa Datafolha também revela uma diferença de gênero significativa na avaliação do governo Bolsonaro e na desconfiança em relação às declarações do presidente, o que reflete em parte o cenário pré-eleitoral de 2018.
Entre elas, 28% avaliam a gestão do presidente como ótima ou boa, e 43% como ruim ou péssima. Entre os homens, os índices são de 40% e 33%, respectivamente.
A credibilidade das declarações de Bolsonaro e sua capacidade de liderar o país também são vistas de forma diferente pelos dois gêneros.
Enquanto 27% dos homens afirmam sempre confiar no que diz o presidente, apenas 16% das mulheres manifestam a mesma percepção.
A maioria delas (54%) avalia que Bolsonaro não tem capacidade de liderar o Brasil, ante 44% deles. Em relação à possibilidades de afastamento, 49% delas apoiam a abertura de um processo de impeachment, comparado a apenas 42% deles. Quando a pergunta é sobre apoio a uma renúncia, 50% delas se dizem favoráveis, ante 41% deles.
A diferença entre a avaliação do governo por homens e mulheres atingiu o maior número da série: 12 pontos de diferença entre os que acham a gestão boa ou ótima e 10 entre os que acham ruim ou péssima.