Pandemia afeta 5 milhões de empregos com carteira
Número inclui demitidos e os que tiveram contrato suspenso ou salário reduzido
Ao menos 5 milhões de trabalhadores com carteira assinada já tiveram seus empregos afetados de algum modo desde o início da crise do coronavírus, o equivalente a 15% do estoque de formais do país.
Cerca de 1 milhão foi demitido e está apto ao seguro-desemprego, e 4,3 milhões tiveram contrato suspenso ou jornada e salário reduzidos.
brasília Ao menos 5 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil já tiveram seus empregos afetados de algum modo desde o início da crise do coronavírus no país, seja por demissão, seja por suspensão de contrato, seja corte de jornadas e salários.
O número representa quase 15% do estoque de trabalhadores formais no país.
O Brasil tinha 33,6 milhões de empregados no regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em fevereiro, segundo o IBGE.
De acordo com o Ministério da Economia, ao menos 1 milhão de trabalhadores ficaram aptos a solicitar o seguro-desemprego após o agravamento da pandemia.
Em 45 dias, entre 1º de março e 15 de abril, 804 mil pessoas conseguiram acessar benefício —no ano passado, foram 866 mil.
No entanto, segundo o governo, em razão das medidas restritivas nos estados, 200 mil desempregados não conseguiram ir às agências do Sine (Sistema Nacional de Emprego) para solicitar o benefício.
Por esse cálculo, ao menos 1 milhão de pessoas já foram demitidas no período da crise e passaram a ter direito ao benefício, 138 mil a mais que no mesmo período do ano passado —uma alta de quase 16%.
Em outra frente, desde o início de abril, 4,3 milhões de trabalhadores formais tiveram o contrato suspenso ou jornadas e salários reduzidos por até três meses. A maior parte teve contrato integralmente suspenso, conforme parcial apresentada na semana passada. O governo não atualizou esse detalhamento e afirma que ainda planeja divulgações periódicas para o dado.
Nesta terça-feira (28), o Ministério da Economia apresentou os dados do segurodesemprego e ponderou que há represamento nos benefícios. O problema distorceu os dados do governo.
“Temos uma pequena fila, de que estamos dando conta rapidamente. Essa demanda reprimida não passa de 200 mil em março e abril”, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.
Segundo a pasta, a contabilização foi prejudicada pelo fechamento das unidades do Sine, administradas pelos estados e municípios, levando a um represamento de requerimentos. O ministério estima que haja 200 mil trabalhadores demitidos e aptos ao benefício que não conseguiram fazer o pedido. O governo ressalta que é possível solicitar o auxílio pela internet.
Técnicos do governo trataram os dados como positivos.
Na avaliação do Ministério da Economia, a alta nos pedidos, considerando o represamento, não é expressiva.
Seria, principalmente, um sinal de que o programa de preservação de empregos funciona: cortes de jornadas e salários, propostos pelo governo por meio de MP (medida provisória), estariam preservando postos de trabalho.
“Por enquanto, neste primeiro instante de crise, passado mais de um mês, não verificamos nenhuma explosão [nas demissões]”, disse o secretário-executivo do ministério, Marcelo Guaranys.
No programa, o governo entra com uma compensação em dinheiro para esses trabalhadores atingidos. A pasta estima que as pessoas tenham tido, em média, uma redução de 15% da remuneração, já considerando a compensação do governo.
“Claro que temos um aumento de desemprego, vamos ter aumento, mas o Brasil está conseguindo preservar muitos empregos”, afirmou Bianco.
O dado do seguro-desemprego é o primeiro indicador oficial sobre o mercado de trabalho divulgado após o agravamento da crise. Até então, o país vivia uma espécie de apagão estatístico nessa área.
Ainda não há, portanto, um dado preciso sobre a situação do emprego no país.
O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que apresentava mensalmente o número de trabalhadores com carteira assinada, foi suspenso pelo governo e ainda não há nenhum dado deste ano.