Folha de S.Paulo

Pandemia afeta 5 milhões de empregos com carteira

Número inclui demitidos e os que tiveram contrato suspenso ou salário reduzido

- Bernardo Caram e Ricardo Della Coletta

Ao menos 5 milhões de trabalhado­res com carteira assinada já tiveram seus empregos afetados de algum modo desde o início da crise do coronavíru­s, o equivalent­e a 15% do estoque de formais do país.

Cerca de 1 milhão foi demitido e está apto ao seguro-desemprego, e 4,3 milhões tiveram contrato suspenso ou jornada e salário reduzidos.

brasília Ao menos 5 milhões de trabalhado­res com carteira assinada no Brasil já tiveram seus empregos afetados de algum modo desde o início da crise do coronavíru­s no país, seja por demissão, seja por suspensão de contrato, seja corte de jornadas e salários.

O número representa quase 15% do estoque de trabalhado­res formais no país.

O Brasil tinha 33,6 milhões de empregados no regime da CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho) em fevereiro, segundo o IBGE.

De acordo com o Ministério da Economia, ao menos 1 milhão de trabalhado­res ficaram aptos a solicitar o seguro-desemprego após o agravament­o da pandemia.

Em 45 dias, entre 1º de março e 15 de abril, 804 mil pessoas conseguira­m acessar benefício —no ano passado, foram 866 mil.

No entanto, segundo o governo, em razão das medidas restritiva­s nos estados, 200 mil desemprega­dos não conseguira­m ir às agências do Sine (Sistema Nacional de Emprego) para solicitar o benefício.

Por esse cálculo, ao menos 1 milhão de pessoas já foram demitidas no período da crise e passaram a ter direito ao benefício, 138 mil a mais que no mesmo período do ano passado —uma alta de quase 16%.

Em outra frente, desde o início de abril, 4,3 milhões de trabalhado­res formais tiveram o contrato suspenso ou jornadas e salários reduzidos por até três meses. A maior parte teve contrato integralme­nte suspenso, conforme parcial apresentad­a na semana passada. O governo não atualizou esse detalhamen­to e afirma que ainda planeja divulgaçõe­s periódicas para o dado.

Nesta terça-feira (28), o Ministério da Economia apresentou os dados do segurodese­mprego e ponderou que há represamen­to nos benefícios. O problema distorceu os dados do governo.

“Temos uma pequena fila, de que estamos dando conta rapidament­e. Essa demanda reprimida não passa de 200 mil em março e abril”, disse o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.

Segundo a pasta, a contabiliz­ação foi prejudicad­a pelo fechamento das unidades do Sine, administra­das pelos estados e municípios, levando a um represamen­to de requerimen­tos. O ministério estima que haja 200 mil trabalhado­res demitidos e aptos ao benefício que não conseguira­m fazer o pedido. O governo ressalta que é possível solicitar o auxílio pela internet.

Técnicos do governo trataram os dados como positivos.

Na avaliação do Ministério da Economia, a alta nos pedidos, consideran­do o represamen­to, não é expressiva.

Seria, principalm­ente, um sinal de que o programa de preservaçã­o de empregos funciona: cortes de jornadas e salários, propostos pelo governo por meio de MP (medida provisória), estariam preservand­o postos de trabalho.

“Por enquanto, neste primeiro instante de crise, passado mais de um mês, não verificamo­s nenhuma explosão [nas demissões]”, disse o secretário-executivo do ministério, Marcelo Guaranys.

No programa, o governo entra com uma compensaçã­o em dinheiro para esses trabalhado­res atingidos. A pasta estima que as pessoas tenham tido, em média, uma redução de 15% da remuneraçã­o, já consideran­do a compensaçã­o do governo.

“Claro que temos um aumento de desemprego, vamos ter aumento, mas o Brasil está conseguind­o preservar muitos empregos”, afirmou Bianco.

O dado do seguro-desemprego é o primeiro indicador oficial sobre o mercado de trabalho divulgado após o agravament­o da crise. Até então, o país vivia uma espécie de apagão estatístic­o nessa área.

Ainda não há, portanto, um dado preciso sobre a situação do emprego no país.

O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos), que apresentav­a mensalment­e o número de trabalhado­res com carteira assinada, foi suspenso pelo governo e ainda não há nenhum dado deste ano.

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