Folha de S.Paulo

Joice Hasselmann O que Bolsonaro quer fazer com a PF é chavismo

- JC

Ex-líder do governo no Congresso e hoje desafeto de Jair Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann diz que o presidente age como o chavismo ao querer fazer da PF e do Ministério da Justiça “uma coisa só”, chefiada por ele.

BRASÍLIA O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e outros perfis aliados de Jair Bolsonaro protagoniz­am nesta terçafeira (28) um embate com a líder do PSL, Joice Hasselmann (SP), nas redes sociais.

O parlamenta­r, filho do presidente, divulgou um áudio da deputada seguido da legenda: “sem apoio espontâneo, Joice dá ordem para criar perfis fakes para defendê-la nas redes sociais”.

“Acabei de chegar de São Paulo, mas podia falar com a turma para fazer vários perfis e entrar de sola no Twitter, especialme­nte, Instagram, porque eles estão colocando todos os robôs, as milícias para cima de mim”, diz Joice no conteúdo divulgado pelos aliados de Bolsonaro.

Em resposta aos ataques, a deputada afirma que no áudio “não há nada que trate de criação de perfis falsos, fake news ou robôs”.

“Ao contrário, o áudio mostra uma solicitaçã­o legítima para que meus apoiadores criem perfis para ajudar a me defender dos ataques da milícia digital que habita no governo. Além disso, solicitei sim a criação de perfis oficiais para esclarecer as fakes que me atacam”, afirmou Joice.

A deputada citou dois perfis, “EquipeJH”, “VerdadeJH”, que são atrelados ao perfil oficial dela, como exemplo dessas páginas criadas a pedido.

“É piada me criticarem por solicitar a criação de perfis verdadeiro­s e não fakes para me defender e não para atacar ninguém”, reclamou Joice, em nota.

Os ataques de apoiadores de Bolsonaro levaram a hashtag #gabineteda­peppa ao assunto mais comentado do Twitter.

O termo remete à porquinha Peppa Pig, protagonis­ta de um desenho para crianças, e é o modo pejorativo por meio do qual apoiadores do presidente da República se referem à parlamenta­r.

A deputada tem sofrido ataques da base bolsonaris­ta desde outubro de 2019, quando deixou a liderança do governo no Congresso após embates dentro do PSL com Bolsonaro e seus apoiadores.

Em dezembro, em depoimento na CPMI (Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito), a parlamenta­r acusou Eduardo e outro filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ), de participar­em do chamado “gabinete de ódio” que atuaria de dentro do Palácio do Planalto para disparos de fake news e ataques em massa contra opositores.

Depois, a parlamenta­r reforçou as acusações em depoimento no âmbito de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga disparo de notícias falsas contra ministros.

No sábado (25), a Folha revelou que a Polícia Federal identifico­u Carlos Bolsonaro como um dos coordenado­res do esquema de fake news.

Nesta terça, o deputado Eduardo Bolsonaro e aliados divulgaram o áudio e passaram a acusar Joice de já ter feito parte de alguma forma do esquema, o que ela nega.

Outro vídeo publicado pelo deputado Carlos Jordy (PSLRJ) mostra o próprio presidente Jair Bolsonaro sugerindo que teria um áudio de Joice, sem citar o nome dela, em que ela supostamen­te pediria a criação de perfis falsos.

“Ia passando para uma pessoa falando o seguinte: olha, cria mais uns perfis falsos aí, para atacar fulano de tal. Você acha que ia pegar mal para essa deputada?”, afirma o presidente.

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