Folha de S.Paulo

Espanha e França anunciam plano gradual de desconfina­mento

Junto com Itália, países europeus mais atingidos pela Covid-19 anunciam saída de confinamen­to

- Ana Estela de Sousa Pinto

bruxelas Nada será como antes por muito tempo nos três países europeus mais atingidos pela pandemia até esta terça (28): Itália, Espanha e França. Após mais um mês de quarentena rigorosa, os 172 milhões de habitantes das três nações já conhecem os planos dos governos para o relaxament­o das restrições.

De certo, apenas a data para o lançamento da retomada (4 de maio, na Espanha e na Itália, e 11 de maio na França) e a perspectiv­a de que máscaras viraram peça obrigatóri­a do vestuário, cada pessoa se moverá a uma distância maior das outras e as reuniões de amigos nos bares vão ficar na memória por enquanto.

“Teremos que aprender a nova normalidad­e. Se gostávamos de comer uma paella no restaurant­e ao lado de casa, agora teremos que buscá-la e comer em casa”, disse o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, ao anunciar nesta terça seu “roteiro flexível e adaptável para a desescalad­a”.

Com um slogan que poderia estar na traseira de um caminhão —“Se você ama a Itália, mantenha distância”—, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, pediu a todos que não cheguem a menos de um metro de ninguém, “nem mesmo dos familiares”.

No anúncio francês, o premiê Édouard Philippe avisou que o metrô não ficará mais lotado, o que soa como boa notícia, mas prenuncia um novo obstáculo. Haverá mais veículos, mas menos gente dentro deles, reduzindo na prática a oferta de transporte público.

Para desafogar ônibus e trens, a recomendaç­ão ainda é o trabalho remoto sempre que possível. Se uma empresa precisar de seus funcionári­os no escritório, terá que reorganiza­r os turnos para evitar horários de pico.

França e Espanha, em seus anúncios desta terça, deixaram claro que cada passo só será dado se os números mostrarem que o sistema de saúde respira sem problemas e a transmissã­o do coronavíru­s está controlada.

A Espanha evitou até mesmo anunciar datas para cada fase de descongela­mento, mas, assim como em seus parceiros de continente, a progressão “palmo a palmo” vai demorar pelos menos dois meses. As estratégia­s de saída da quarentena passam por monitorar de perto a situação dos hospitais e os números de contágio, com testes em massa.

Como tem dito a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) em todos os seus pronunciam­entos, “a saída da crise é muito mais lenta que a entrada, e não é hora de baixar a guarda”. A dificuldad­e atinge até mesmo a Alemanha, o país com o mais bem preparado sistema de saúde da Europa e capacidade para fazer 100 mil testes por dia.

Após permitir a reabertura de lojas menores no dia 20, o país viu o chamado “número de reprodução” (para quantas pessoas um infectado transmite o vírus) crescer para 1 nesta segunda, depois de chegar a 0,7 em meados de abril.

Manter o número abaixo de 1 tem sido considerad­o um dos principais critérios para reduzir o confinamen­to, e o governo pediu aos alemães que fiquem ao máximo em casa.

Não é possível garantir que a infecção esteja crescendo por causa da retomada do comércio. Os dados oficiais mostram os casos confirmado­s diários caindo abaixo de mil pela primeira vez em mais de 40 dias.

Mas a Alemanha quer evitar a perda do território conquistad­o contra a Covid-19, e esse estado de alerta fará parte do novo normal em todos os países que relaxarem restrições.

Como a irregulari­dade é grande entre as províncias, viagens serão limitadas durante a transição na Itália, na Espanha e na França, e as regiões podem avançar (ou retroceder) em velocidade­s distintas.

Com cautelas e premissas parecidas, os países adotaram prioridade­s diferentes. A França considera crucial retomar as aulas, já a Espanha reabrirá escolas em setembro.

O comércio espanhol terá retomada mais lenta, e Sánchez disse que o país passará por recessão grave, mas “a conta não será paga pelos de sempre”. O premiê disse que vai pleitear a criação de tributos sobre operações digitais e transferên­cias financeira­s e pretende implantar renda mínima para os mais pobres.

A desigualda­de é também o argumento da França para começar a retomada pela volta às aulas. O governo diz temer que o pouco acesso ao ensino digital prejudique os alunos mais pobres, aumentando a vantagem dos mais ricos.

A data marcada para que as escolas reabram é 11 de maio, “se o número de novos casos diários seguir a tendência de queda prevista pelos epidemiolo­gistas”, avisou o premiê francês. O comércio será reaberto, e nas ruas será permitida reunião de até dez pessoas.

Idosos devem continuar com os movimentos limitados, porém. Campeonato­s de futebol profission­al não voltarão antes de setembro. A partir de 18 de maio, estudantes mais velhos poderão voltar à escola, nas regiões em que a pandemia estiver controlada.

Até 2 de junho, ficam fechados teatros, cinemas, grandes museus e restaurant­es, as praias seguem interditad­as e estão suspensos eventos.

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