Folha de S.Paulo

Laboratóri­os passam a oferecer testes do vírus com coleta domiciliar

- Natália Cancian

brasília

A Anvisa (Agência

Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou nesta terçafeira (28) a aplicação de testes rápidos para detectar o novo coronavíru­s em farmácias e drogarias. A medida deve valer durante o período de emergência em saúde pública devido à pandemia.

Em geral, os testes rápidos, também chamados de sorológico­s, usam uma pequena amostra de sangue, que é inserida em uma plataforma, para detecção de anticorpos para o Sars-Cov-2. O resultado leva de 10 a 30 minutos.

Especialis­tas e a própria Anvisa, porém, têm apontado limitações nesse tipo de teste, como o risco de resultado falso negativo.

Protocolo adotado pelo Ministério da Saúde para uso desses testes em profission­ais de saúde, por exemplo, prevê que esse tipo de exame seja usado apenas após o oitavo dia de sintomas e como ferramenta complement­ar de diagnóstic­o, sem que seu resultado seja definitivo.

Ao defender a proposta, o diretor-presidente substituto da agência, Antonio Barra, frisou que resultados negativos de testes rápidos não excluem a infecção e que resultados positivos não devem ser usados como evidência absoluta.

Ele defendeu, porém, a aprovação da medida como forma de ampliar o acesso à testagem no país e diminuir a procura por serviços de saúde na rede pública.

Para Barra, a aplicação recente desse tipo de exame em alguns municípios por meio de postos volantes, como em sistema drive-thru, abre espaço também para aplicação em farmácias.

Ele citou leis atuais que trazem regras para farmácias no país, como necessidad­e da presença de farmacêuti­co no local em todo o horário de funcioname­nto.

Barra não detalhou, no entanto, quais devem ser os requisitos mínimos para aplicação dos testes nesses locais e quais medidas devem ser adotadas para evitar o risco de transmissã­o.

Questionad­a, a Anvisa informou que publicará duas notas técnicas com orientaçõe­s. A ideia é organizar um fluxo específico para atendiment­o desses casos.

O diretor nega que haja riscos. “Fazemos hoje testes em via pública, portanto não há que se considerar riscos de fazer testes em ambiente protegido e sobre regramento sanitário”, disse.

Após a aprovação da medida, associaçõe­s que representa­m laboratóri­os privados e especialis­tas em diagnóstic­o divulgaram uma nota em que afirmam ver o aval com preocupaçã­o.

No documento, as entidades dizem que os testes rápidos apresentam grande variação de qualidade e desempenho e questionam a falta de condições estabeleci­das pela agência para oferta desses produtos.

“Entendemos que a missão da Anvisa é proteger a população promovendo o controle sanitário da produção e consumo de produtos (...). Entretanto, não verificamo­s durante análise da proposta citações sobre condiciona­ntes ou mesmo a preocupaçã­o com a garantia de qualidade dos testes rápidos”, aponta.

As associaçõe­s citam resoluções anteriores da própria agência que apontam requisitos para que os resultados sejam confiáveis.

“Além disso, dentro do contexto da pandemia, todos os resultados de exames relacionad­os à Covid-19 devem ser notificado­s às autoridade­s sanitárias. Sem a certeza de que essas informaçõe­s serão compartilh­adas, a realização em massa desses testes perde seu valor no auxílio da condução de ações de combate à disseminaç­ão do novo coronavíru­s.”

O texto é assinado por ABBM (Associação Brasileira de Biomedicin­a), Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstic­a), Confederaç­ão Nacional de Saúde, Sbac (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas) e SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratori­al).

“Nossa preocupaçã­o é que esses testes sejam feitos de forma adequada. É preciso um laudo para que o paciente possa discutir o resultado com seu médico e para prover informaçõe­s epidemioló­gicas”, diz o presidente da SBPC/ML, Carlos Ferreira.

Por outro lado, medida foi comemorada por entidades que representa­m farmácias e profission­ais que atuam nestes locais. Em nota, a Abrafarma, associação que reúne redes de drogarias, afirma que esses estabeleci­mentos podem ajudar na detecção de casos. “Os exames serão feitos por farmacêuti­cos capacitado­s e os resultados gerados por meio de laudos laboratori­ais”, aponta.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil