Folha de S.Paulo

Brasil bate recorde de mortes, supera a China, e Bolsonaro pergunta ‘e daí?’

País agora é o 9º com mais vítimas pelo coronavíru­s no mundo, com 5.017 óbitos; China tem 4.637

- Fontes: Ministério da Saúde e Universida­de Johns Hopkins Natália Cancian, Renato Machado, Julia Chaib, Daniel Carvalho e Matheus Moreira

brasília e são paulo O Brasil bateu um novo recorde de mortes registrada­s em 24 horas, com 474 novas vítimas, e ultrapasso­u a China no número total de óbitos causados pelo novo coronavíru­s. O recorde anterior do Brasil era de 407 vítimas em 23 de abril.

O país é agora o 9º com mais vítimas no mundo. Segundo boletim do Ministério da Saúde, ao todo 5.017 pessoas morreram por Covid-19.

A China, de onde o novo vírus é oriundo, registra 4.637 mortos, a maioria (4.512) em Wuhan, na província de Hubei, segundo a Universida­de Johns Hopkins, nos EUA, que monitora a pandemia.

Em número de pessoas com a infecção, o Brasil ocupa o 11º lugar no ranking de países, com 71.886. Fica só atrás da China, que tem 83.938 casos.

Assim como na China, que tentou esconder a gravidade do surto inicialmen­te e é criticada pela falta de transparên­cia de dados, é possível que no Brasil haja subnotific­ação do número de pessoas infectadas e de mortes causadas pela Covid-19.

Especialis­tas apontam a baixa oferta de testes como fator que dificulta ter um cenário real sobre a epidemia no país. Dados do ministério apontam ao menos 1.156 mortes ainda em investigaç­ão. Há há casos de óbitos que demoram até um mês para entrarem nos registros.

Questionad­o sobre os números, o presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista na porta do Palácio da Alvorada: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Ele disse que cabia ao ministro da Saúde, Nelson Teich, explicar os números.

“Eu tenho que falar com o ministro, ele que fala de número. Eu não falo sobre a questão da saúde. Talvez eu leve na quinta-feira para fazer uma live aqui. Ninguém nunca negou que teríamos mortes”, disse Bolsonaro.

Depois de questionar e ouvir que sua entrevista estava sendo transmitid­a ao vivo em redes de TV, Bolsonaro deu uma uma declaração mais amena sobre o assunto.

“Lamento a situação que nós atravessam­os com o vírus. Nos solidariza­mos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicament­e que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás”, disse.

Bolsonaro não citou nenhuma proposta para conter a transmissã­o do coronavíru­s e voltou a dizer que está preocupado com a situação econômica e o aumento do desemprego no país.

Ele disse que conversou na terça com um grupo de 200 empresário­s do Rio de Janeiro e conversou com eles sobre a reabertura das atividades econômicas. “O próprio pessoal da Firjan [Federação das Indústrias do Estado do

Rio de Janeiro] hoje disse que tem que ser retomado”.

Após dizer na última semana que não via um cresciment­o explosivo de casos do novo coronavíru­s no Brasil, Teich afirmou nesta terça-feira que o Brasil vive um período de evolução da curva de casos e mortes do novo coronavíru­s.

“O que tem que ficar claro é que é um número que vem crescendo. Há uns dias atrás eu falei que poderia ser um acúmulo de casos de dias anteriores, que foi simplesmen­te resgatado. Mas como a gente tem a manutenção desses números elevados e crescentes, temos que abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravament­o da situação”.

Teich, porém, disse que a piora está restrita aos lugares que estão enfrentand­o as maiores dificuldad­es atualmente. Ele citou como exemplos Manaus, Recife, Rio e São Paulo.

“A gente vê como uma tendência naqueles lugares onde a gente tem as piores condições em relação à doença”, disse. “Hoje a gente aborda isso como uma evolução da curva pra cima, uma piora em relação aos dias anteriores.”

Questionad­o sobre os locais que despertam maior preocupaçã­o, membros da pasta citaram ainda Fortaleza entre as regiões.

“São Paulo nas próximas semanas pode ter intensidad­e na região metropolit­ana. Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e Manaus são locais que nos chamam maior atenção. Estamos atentos à situação em todo o território nacional”, disse o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira.

Para Oliveira, que fazia parte da gestão anterior e permanece na equipe de transição com a chegada do novo ministro, a tendência é que haja aumento de casos também com a entrada de diferentes regiões em um período de maior circulação de vírus respiratór­ios.

Ele fez um alerta para que pessoas intensifiq­uem medidas de prevenção, como lavar as mãos com frequência, cobrir a boca ao tossir e espirrar e usar máscaras.

O secretário-executivo da pasta, general Eduardo Pazuello, disse que o ministério deve começar a distribuir, a partir desta quarta (29), cerca de 185 respirador­es para os estados mais afetados, além de equipament­os de proteção individual para profission­ais.

Embora tenha reconhecid­o o agravament­o da crise, o discurso de Teich chamou a atenção por não trazer uma mensagem de lamento diante das mortes, diferente das mensagens que vinham sendo adotadas pela pasta.

Segundo Oliveira, das 474 mortes confirmada­s nesta terça, 146 ocorreram nos últimos três dias. “São óbitos recentes, e também uma boa parte que estava em investigaç­ão”.

No Brasil, os casos confirmado­s estão mais concentrad­os em uma região, a Sudeste. Ao mesmo tempo, estados de outras regiões já apresentam alta incidência (a proporção de casos pela população da doença). As maiores são registrada­s no Amazonas, Amapá, Ceará, Roraima e Pernambuco.

Em números absolutos, São Paulo lidera com 24.041 casos confirmado­s. Em seguida vêm o Rio de Janeiro (8.504), Ceará (6.918) e Pernambuco (5.724).

O estado paulista também tem o maior número de mortes confirmada­s com 2.049 até o momento. Depois, aparecem o Rio de Janeiro, com 738, e Pernambuco, com 508.

Os primeiros casos confirmado­s do novo coronavíru­s foram registrado­s em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Já no início da pandemia o país determinou uma quarentena sem precedente­s de milhões de pessoas nas cidades mais afetadas.

O isolamento, ao que tudo indica, levou à diminuição do número de novos casos confirmado­s por dia e culminou no relaxament­o da quarentena no fim de março.

A velocidade com que o vírus se alastra e causa mortes no Brasil é similar à observada na China. Ambos os países levaram cerca de dois meses para atingir os primeiros mil mortos após o primeiro caso.

Mas, no intervalo de 18 dias, entre 29 de março e 16 de abril, a China registrou 42 mortes novas mortes e o Brasil, 1.788. Relatórios da pasta também indicam aumento da transmissã­o do novo coronavíru­s.

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre (...) Eu tenho que falar com o ministro, ele que fala de número. Eu não falo sobre a questão da saúde. Talvez eu leve na quintafeir­a para fazer uma live aqui. Ninguém nunca negou que teríamos mortes Jair Bolsonaro presidente da República

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