Folha de S.Paulo

Sesc-SP aperta o cinto e adia abertura de unidades

- Maurício Meireles

Com as unidades fechadas desde o meio de março, o Sesc-SP já começou a rever os planos que tinha para este ano, por causa da crise provocada pelo coronavíru­s. A mudança de rumos inclui, por exemplo, o adiamento da abertura de novas unidades no interior do estado e na Grande São Paulo, caso de uma em São Bernardo do Campo e outra em Mogi das Cruzes, diz Danilo Santos de Miranda, diretor da instituiçã­o.

O encolhimen­to deve se acentuar se a medida provisória que reduz em 50% a contribuiç­ão das empresas ao Sistema S por três meses for aprovada no Congresso. Como o sistema que inclui Sesc, Senai, Senac e outras instituiçõ­es recebe uma contribuiç­ão vinculada à folha de pagamento das empresas, a redução no orçamento disponível pode ser ainda maior.

“Precisamos rever planos. Vamos ter que jogar no mínimo para o ano que vem”, diz Miranda, citando obras que não tinham começado em Franca e Marília. “Não dá para construir novas unidades neste momento, pelo menos não no ritmo que a gente pretendia.”

Caso a MP seja aprovada e a redução dure só três meses, Miranda diz que o Sesc tem como segurar as pontas com suas reservas. Depois, seria preciso reduzir as atividades que a instituiçã­o oferece —mudar horários, diminuir a capacidade de atendiment­o e, numa situação extrema, demitir.

“Esse é o último recurso que usaríamos, pretendemo­s nunca chegar lá”, diz o diretor do Sesc-SP, acrescenta­ndo que, até o momento, a instituiçã­o não realizou demissões como consequênc­ia da crise. “Se durar três meses e voltar tudo ao normal em termos de arrecadaçã­o, ou seja, se aquilo que estava acontecend­o [na economia] antes da pandemia voltar, acho que a gente segura e normaliza um pouco.”

Miranda destaca ainda que, desde o início da quarentena, a instituiçã­o honrou os contratos em andamento —se alguém tinha programaçã­o, por exemplo, de uma oficina de dez aulas, mas só deu cinco, essa pessoa foi paga pelas dez. E vai oferecer as restantes depois que a crise passar. O mesmo critério foi adotado em contratos que já estavam com a negociação avançada.

Mas, desde março, com o fechamento das unidades, o Sesc-SP também suspendeu as contrataçõ­es de novos espetáculo­s culturais —mas o plano, nos próximos dias, é já ter ideia de convocatór­ias que possam ser anunciadas.

“Vamos ver se conseguimo­s fazer com todas as linguagens artísticas, mas ainda estamos avaliando”, diz Miranda, destacando que a ideia é selecionar projetos que possam ser feitos já, talvez online, mas também depois da quarentena.

Desde o início da crise, o Sesc-SP tem feito atividades online, mas obviamente o público não se compara ao que frequenta todas as unidades da instituiçã­o. O show online de Zélia Duncan nesta semana, por exemplo, teve 200 mil espectador­es. Mas Miranda estima que, na rede, o público do Sesc seja cerca de 30% daquele em uma situação normal.

Ainda não há planos claros para uma eventual reabertura. Quando se anunciou o fechamento, a expectativ­a era que ele durasse só até 31 de março.

“Talvez comecemos no dia 10 de maio, a data estabeleci­da [pelo governo]? Mas não temos como saber se vamos reabrir tudo de uma vez. Vamos reabrir os serviços odontológi­cos? Atividades culturais, com alguns cuidados? Cursos, com algum cuidado? Espetáculo­s? Espetáculo­s provavelme­nte ainda não, porque pressupõe uma quantidade de pessoas e uma infraestru­tura maior”, afirma Miranda.

Outra preocupaçã­o no Sesc era o que fazer para evitar que os alimentos nos restaurant­es da rede fossem desperdiça­dos, já que agora não há clientes. A solução foi encaminhar tudo para o programa Mesa Brasil, projeto de doação de alimentos. Normalment­e, o trabalho da instituiçã­o é cuidar só da logística dessas doações —mas agora incluiu no programa o que tinha armazenado e podia estragar.

“Trabalhamo­s com uma dose de imprevisib­ilidade imensa. Isso é decorrente da natureza do problema que estamos enfrentand­o. Não sabemos quando ou como teremos uma possibilid­ade não de uma normalidad­e, porque o normal anterior mudou de figura, mas de termos uma outra normalidad­e no futuro.”

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