Folha de S.Paulo

Fica uma lacuna, afirma José Silvério após deixar Bandeirant­es

- Carlos Petrocilo

são paulo O telefone de José Silvério, 74, tocou em Lavras (MG), onde o radialista se refugia

desde o mês passado diante da pandemia de Covid-19. Um funcionári­o do departamen­to de recursos humanos da rádio Bandeirant­es, segundo ele, o comunicou sobre a decisão de rescindir seu contrato, que iria até dezembro de 2022, depois da Copa do Qatar.

Ele se preparava para narrar o 11º Mundial da carreira. O primeiro foi em 1978, na Argentina, pela rádio Jovem Pan. Silvério ainda não sabe se continuará trabalhand­o nas cabines dos estádios ou se colocará um ponto final na carreira.

Mineiro de Itumirim, ele começou na profissão na primeira metade da década de 1960 e entrou para história como um dos mais importante­s locutores esportivos do país. Para ele, seu possível adeus deixa órfãs as gerações mais conectadas com o rádio.

“Vai ficar difícil [encontrar um sucessor], vai ficar uma lacuna. O rádio não tem, infelizmen­te, uma revelação na narração”, disse Silvério à Folha, por telefone, na segunda (27). “Os meninos, antes, começavam no rádio. Hoje querem ser locutores na televisão.”

Silvério afirma que não ficou chateado com a rescisão, mas ele, que completará 75 anos em novembro, teme que possa sentir falta daquilo que faz desde 1963.

O “pai do gol”, como o mineiro é chamado, tornou-se famoso também pelos bordões, entre eles “e que golaço” e “vou soltar a minha voz”.

“Minha cabeça está no meio de um vai e volta. Com 74 anos e meio, vamos ficando mais pesados, há dificuldad­es em relação ao transporte até o estádio, cabines, a convivênci­a também no estádio. Em São Paulo não é fácil de se locomover, imagine para gente que é mais velho”, afirma o locutor.

Em outras épocas, esse ponto não era um problema. Na Copa de 1986, no México, por exemplo, ele precisava subir no telhado ou em árvores para narrar treinos do Brasil. Telê Santana, técnico da seleção, havia proibido as transmissõ­es das atividades do campo.

Hoje, Silvério reclama da dificuldad­e de trabalhar em algumas arenas por causa da distância entre a cabine e o gramado: “As pessoas não sabem, mas o estádio do Corinthian­s, do Palmeiras, a gente fica muito longe dos lances. Aí os caras criticam, falam que

estou cego. No Morumbi, até que não tem esse problema”.

Pela vontade da família, Silvério teria encerrado a sua carreira depois da Copa do Mundo de 2018. Pai de um filho e duas filhas, o radialista ficou viúvo em 2010, com a morte de Sebastiana. Ele se casou com Rosemary em 2012.

Em mais de 50 anos de carreira, com passagens pelas emissoras Tupi e Itatiaia, além da Jovem Pan e da Bandeirant­es, ele não consegue escolher uma só cobertura como a mais marcante. Cita as decisões da Copa do Mundo de 1994 e 2002, além das finais importante­s entre os grandes de São Paulo.

“Sou muito feliz com minha carreira, não há nada que possa manchá-la”, completa.

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Lucas Seixas - 31.mai.19/UOL O locutor de rádio José Silvério

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