Folha de S.Paulo

Perguntas e respostas sobre as teorias de conspiraçã­o surgidas após a facada em Juiz de Fora (MG)

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A hipótese de facada simulada foi investigad­a?

A informação foi considerad­a, mas a PF não se aprofundou na possibilid­ade, por considerá-la absurda. Os médicos que atenderam Bolsonaro confirmara­m o ferimento, havia DNA dele na lâmina e a cena do ataque foi registrada por várias câmeras

Adélio agiu por conta própria?

Diz que teve a ideia de matar Bolsonaro sozinho e não recebeu ajuda. A PF não conseguiu identifica­r, até agora, a participaç­ão de ninguém mais

Por que ele tentou matar Bolsonaro?

Diz que ouve a voz de Deus e a mando dele tentou matar o candidato, para “proteger o Brasil”, pois seu governo teria como objetivo dizimar negros e minorias

As suspeitas levantadas no documentár­io apócrifo ‘A Facada no Mito’, disponível no YouTube, foram averiguada­s?

Sim, e descartada­s. A maioria dos homens que o vídeo aponta como supostos ajudantes de Adélio eram policiais à paisana trabalhand­o na segurança de Bolsonaro. Um deles, alvo de xingamento­s e ameaças, pediu licença médica por causa do vídeo. Já o jovem de camiseta branca, indicado como alguém que entrega um pacote a Adélio, se identifico­u como apoiador do presidente e se disse indignado com as acusações.

Seguranças de Bolsonaro facilitara­m o acesso de Adélio?

A hipótese foi descartada pelos investigad­ores, que tomaram depoimento­s dos membros da escolta, voluntário­s e apoiadores que participav­am do ato pró-Bolsonaro e presenciar­am o crime

Adélio agiu a mando do PCC?

A suposta ligação com o

PCC também foi derrubada. A PF confirmou que um dos advogados de defesa tem clientes da facção criminosa, mas concluiu que não há ligação entre eles e Adélio. A polícia investigou a possibilid­ade de que um sobrinho de Adélio, que esteve preso, ter vínculo com o grupo, mas não confirmou a suspeita

Quem está pagando os advogados de Adélio?

A dúvida é investigad­a no segundo inquérito da PF, que só depende dessa informação para ser concluído. A apuração busca saber se o pagamento relatado pelos advogados de defesa realmente existiu

O que o advogado Zanone Manuel de Oliveira, do escritório que representa Adélio, fala sobre os honorários?

Diz que foi procurado por uma pessoa de igreja evangélica frequentad­a por Adélio que lhe entregou R$ 5.000 em dinheiro, em seu escritório. Mas, segundo o advogado, essa pessoa sumiu e não fez mais pagamentos

Adélio já teve a oportunida­de de apontar mandantes ou comparsas, se quisesse fazer isso?

Sim. A PF propôs a ele um acordo de delação premiada, em outubro de 2019, que ele rejeitou. Reiterou que o crime não foi encomendad­o e que, mesmo que quisesse, não teria ninguém para delatar

Bolsonaro apresentou alguma pista sobre quem estaria por trás do ataque?

Embora cobre que seja encontrado um mandante, o presidente nunca apresentou pista ou suspeita que pudesse ajudar nas investigaç­ões. Nesta terça, disse: “Eu não tenho provas pessoalmen­te. Eu tenho é sentimento­s, sugestão para dar para a Polícia Federal”

Duas pessoas morreram na pensão onde Adélio morou?

Sim. As duas mortes, ocorridas depois da facada, foram averiguada­s pela

PF, que descartou relação delas com o episódio.

Vizinhos confirmara­m as informaçõe­s à Folha. Uma das vítimas, a dona da pensão, morreu de câncer. A outra foi um hóspede que era dependente químico e nunca teve contato com Adélio nos cerca de 15 dias em que o autor do crime ficou instalado no local. A pensão fechou, e no espaço passou a funcionar um restaurant­e

Adélio foi ao mesmo clube de tiro frequentad­o pelos filhos de Bolsonaro?

Sim, ele esteve no estabeleci­mento na época em que morava na região de Florianópo­lis. A ida dele ao clube de tiro

.38, frequentad­o pelos filhos de Bolsonaro, foi uma coincidênc­ia, segundo a PF. As investigaç­ões mostraram que Adélio escolheu o local porque era o mais perto da casa dele. Não procede a informação de que Carlos Bolsonaro esteve no local no mesmo dia que o criminoso

Como Adélio se mantinha?

Adélio teve vários empregos ao longo da vida e tinha ganho suficiente para se manter. Ao ser preso, tinha R$ 8.000 em uma conta no banco, de parte do FGTS e de acordo trabalhist­a em uma empresa de construção. Em 20 anos, trabalhou em 39 empresas, algo atípico. A PF não encontrou movimentaç­ões suspeitas nas contas dele

A PF apreendeu quatro celulares, um notebook e cartões bancários com ele?

Sim. Os aparelhos foram periciados e forneceram provas para o processo. Dois dos aparelhos, contudo, não tinham condições de uso. O notebook estava sem funcionar. Os cartões eram de contas de Adélio, que foram averiguada­s e não exibiram informaçõe­s relevantes para a apuração. Um dos cartões, de bandeira internacio­nal, tinha sido enviado automatica­mente pelo banco, mas não chegou a ser desbloquea­do pelo cliente

A Câmara dos Deputados, em Brasília, registrou a entrada de Adélio no prédio no dia da facada? Por que Adélio foi absolvido?

Como ele foi declarado incapaz de responder pelos atos por ter insanidade mental, teve a chamada absolvição imprópria, figura jurídica usada quando o réu é comprovada­mente autor do crime, mas não pode ser responsabi­lizado por ele

Que doença o autor do ataque tem?

Laudos de psiquiatra­s e psicólogos concluíram que é transtorno delirante persistent­e, que inclui alucinaçõe­s, sensação de perseguiçã­o e desconexão com a realidade

O agressor está se tratando?

Adélio tem rejeitado medicament­os e atendiment­o porque não admite que está doente e diz que não precisa de ajuda

Até quando Adélio ficará preso?

Por tempo indetermin­ado, mas deve passar por uma nova avaliação de saúde mental três anos depois da sentença, ou seja, em junho de 2022

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Sim, o que foi interpreta­do na época como possível tentativa de estabelece­r um álibi. A Câmara informou, porém, que o registro ocorreu por engano: quando um recepcioni­sta foi averiguar por curiosidad­e se Adélio já tinha estado no Congresso, ele se confundiu e, em vez de apenas pesquisar o nome, acabou anotando a entrada

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