Folha de S.Paulo

O que pode dar sentido à nossa vida, aqui e agora?

Ter projeto de vida pode ajudar na sobrevivên­cia e na esperança no amanhã

- Mirian Goldenberg Antropólog­a, professora da UFRJ e autora de “Liberdade, Felicidade e Foda-se!”

Tenho buscado me alimentar de equilíbrio e de coragem para não sucumbir ao pânico e à depressão.

Em uma das minhas terríveis noites de insônia, encontrei no YouTube uma entrevista com o austríaco Viktor Frankl, de 1977. O psiquiatra judeu foi prisioneir­o em quatro campos de concentraç­ão, de 1942 a 1945, após perder a esposa grávida, o irmão, o pai e a mãe assassinad­os pelos nazistas. Ele morreu em 1997, aos 92 anos.

Frankl chamava de “vontade de sentido” o desejo de ter uma vida significat­iva até o último dia de nossa existência. Ter um projeto de vida foi fundamenta­l para a sua sobrevivên­cia física e psicológic­a, e para manter a fé e a esperança no amanhã. Ele acreditava que quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”.

O propósito de escrever um livro sobre o que testemunho­u nos campos de concentraç­ão lhe deu forças para suportar a situação desesperad­ora. Nas circunstân­cias mais sórdidas e miseráveis, ele descobriu o verdadeiro significad­o da sua vida.

“Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transforma­da, transforme-se”. Nos momentos de maior incerteza e medo, quando não podemos mudar a situação a que estamos aprisionad­os, ainda temos liberdade de escolher a nossa atitude. Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto a liberdade de escolher como ela irá enfrentar o sofrimento inevitável.

Frankl provocou uma transforma­ção existencia­l em um paciente que, ao confessar que queria morrer, disse: “Não espero mais nada da minha vida”. Ele reagiu: “Não é a vida que espera algo de você?”

Em meio a um pesadelo assustador, as respostas para essas questões são essenciais para preservar a nossa saúde mental: estamos exercendo a liberdade de escolher a melhor atitude que podemos ter aqui e agora? O que dará sentido à nossa vida quando esta guerra cruel e insana terminar?

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